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BATALHA COMERCIAL

Sobretaxa do aço pelos EUA pode impactar Minas Gerais

Estado é o maior produtor da matéria-prima, mas empresários e analistas afirmam que é presidente aguardar as medidas concretas

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Sob a ameaça de taxação das importações de qualquer produto derivado do aço e alumínio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou o Brasil em alerta no início desta semana. Entre os estados mais afetados, Minas Gerais é o segundo que mais exporta os produtos da metalurgia em valores que chegam a US$ 1,54 bilhão, atrás apenas do Rio de Janeiro, que exporta US$ 2,07 bilhões, e seguido pelo Espírito Santo (US$ 1,14 bi).


Os dados são do ComexStat, sistema oficial de estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens, painel mantido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), de janeiro a dezembro de 2024. No domingo, enquanto voava para assistir uma partida de Futebol Americano, Trump disse a repórteres que qualquer “aço que entrar nos Estados Unidos terá uma tarifa de 25%”.


Em termos de massa, Minas Gerais exportou cerca de 2,5 milhões de toneladas de produtos para os Estados Unidos. A exportação de aço do estado ainda segue a métrica brasileira: a China, por exemplo, é o segundo país que mais recebe os itens da siderurgia local (US$ 826 milhões), seguido pela Holanda (US$ 528 milhões), e pela Argentina (US$ 307 milhões).


Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a sobretaxa para todos os países é motivo de preocupação. Contudo, ele destaca um cenário diferenciado para o Brasil, uma vez que a maioria dos produtos exportados para os Estados Unidos são semi-elaborados.


“É um produto extremamente relevante para a indústria americana, e complementar. No nosso entendimento, assim como aconteceu no passado, o Brasil sairá isento, pelo menos com uma cota, um percentual. É como funciona hoje, o Brasil tem uma cota de exportação sem a taxa. Essa é a nossa expectativa de desfecho, assim nós aguardamos”, destacou o presidente da Fiemg.


Roscoe também ressalta que, caso a taxação efetivamente ocorra, será negativo devido à expressividade das exportações de aço na economia. Ele ainda destacou o caráter informal com que Trump falou em taxar as importações da siderurgia.

“O único ponto positivo é que seria para todas as economias, não somente para o Brasil, o que coloca todo mundo em pé de igualdade. Mas no nosso entendimento, assim como aconteceu no primeiro mandato de Trump, é que o Brasil tenha algumas concessões. Nossa expectativa é que o Brasil não saia machucado. De qualquer maneira, é importante ressaltar que não existe nada concreto, foi um comentário informal. Nós temos que aguardar efetivamente as medidas”, completou.



Empresas


Especialistas do setor apontam que as empresas mais afetadas pelas novas medidas do republicano são a Ternium, ArcelorMittal e Usiminas, que exportam uma importante fatia das suas produções para os EUA. Apesar do temor das novas tarifas, as empresas fecharam o dia em alta na Bolsa de São Paulo.

As ações da Ternium (TXSA34), por exemplo, saíram de aproximadamente R$ 173 para R$ 176. A ArcelorMittal (ARMT34) variou 0,71% e atingiu a cotação de R$ 81,77. Já a Usiminas (USIM5), que em 2023 teve a América do Norte como destino de 13% das suas exportações, segundo um release divulgado na época, viu o seu papel variar 2,14% na bolsa e sair de R$ 5,60 para R$ 5,72.

A gigante mineira Gerdau, por outro lado, deve ser pouco impactada, uma vez que tem priorizado a América do Sul, Central, e a Europa. Na Bolsa, as ações da empresa tiveram uma variação positiva de 5,21%, saindo de R$ 16,7 para R$17,57. Para o CEO Gustavo Werneck, o momento é de entender as primeiras decisões de Trump, mas ele enxerga impactos positivos nos negócios da Gerdau.

“Toda a nossa produção de aço é nos Estados Unidos, é como se fôssemos uma empresa americana. Então, qualquer incentivo para produção local, redução de custos de energia e investimentos em infraestrutura nos favorecem”, disse Werneck em entrevista à revista Exame, ontem.

Análise - Marcílio Moraes

A possibilidade de os Estados Unidos taxarem suas importações de aço e de alumínio em 25% coloca Minas Gerais, num primeiro momento, no foco das possíveis perdas para a siderurgia brasileira caso o anúncio do presidente dos Estados Unidos seja levado a efeito. Isso porque o estado concentra a maior produção de aço bruto do país, com 10,2 milhões de toneladas no ano passado, assim como é o maior produtor de aços semiacabados e laminados para a venda, com um volume de 9,4 milhões de tonelas, ou 28,7% da produção nacional.

Além disso, as grandes siderúrgicas estão no estado, como Usiminas, Gerdau, AcelorMittal, Aperan e Vallourec. Mas vale lembrar que o aço brasileiro complementa a siderurgia norte-americana, que não conta mais que eliminou as primeiras estapas da fabricação do aço e precisa de sucata ou de placas de aço ou produtos semielaborados. Outro ponto é que o aço brasileiro já enfrenta restrições nos Estados Unidos, com imposição de cotas. Uma análise precisa só poderá ser feita quando a medida for efetivamente tomada, com as especificações necessárias.

“O governo tomou a decisão de só se manifestar, oportunamente, com base em decisões concretas, e não em anúncios que podem ser mal interpretados ou revistos. O governo vai aguardar a decisão oficialmente antes de fazer qualquer manifestação”

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, sobe possível taxação do aço e do alumínio pelos EUA

Governo decide aguardar

O governo brasileiro vai aguardar o governo dos Estados Unidos (EUA) oficializarem a taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio para se manifestar sobre o tema, assim como anunciar medidas em resposta ao aumento dos custos para exportar esses produtos para o país da América do Norte. A informação é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que comentou, ontem, o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump.

“O governo tomou a decisão de só se manifestar, oportunamente, com base em decisões concretas, e não em anúncios que podem ser mal interpretados ou revistos. O governo vai aguardar a decisão oficialmente antes de fazer qualquer manifestação”, disse Haddad a jornalistas.

O Brasil é o segundo principal fornecedor de aço para os EUA, que são o principal destino das exportações do produto brasileiro. Questionado se o governo discute taxar, em retaliação, as big techs – as gigantes da tecnologia, como Google, Meta e X, Haddad respondeu que o governo vai “aguardar a orientação do presidente da República depois das medidas efetivamente implementadas”.

Em entrevista a rádios mineiras na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil tem direito de usar a lei da reciprocidade.

“Para nós, o que seria importante seria os EUA baixarem a taxação e nós baixarmos a taxação. Mas, se ele e qualquer país aumentar a taxação do Brasil, nós iremos taxá-los também. Isso é simples e muito democrático”, disse Lula.

Durante o seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas sobre o aço e o alumínio, mas concedeu depois cotas de isenção para parceiros, incluindo Canadá, México e Brasil, que são os principais fornecedores desses produtos.

Segundo dados da Administração de Comércio Internacional do governo dos EUA, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para o país em 2024, perdendo apenas para o Canadá. Já levantamento do Instituto do Aço Brasil, com base em dados oficiais do governo brasileiro, afirma que os EUA foram o principal destino do aço do país, representando 49% de todo o aço que o Brasil exportou em 2023.

Alumínio

No caso do alumínio, a dependência dos EUA é menor. O país foi o destino de 15% das exportações de alumínio do Brasil em 2023. O principal comprador do alumínio brasileiro é o Canadá, que absorveu 28% das exportações desse produto naquele ano. Os dados são da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Carlos Delorme Prado afirmou que a possível taxação deve ter impacto nos setores atingidos, mas não deve causar maiores problemas para o conjunto da economia.

“Embora a taxação seja muito importante para essas indústrias, para o conjunto da economia brasileira o impacto não é tão grande assim. O Brasil vai ter que redirecionar essas exportações, ou então, o que eu acho mais importante, tentar aumentar o consumo doméstico de aço. O Brasil tem alternativas. É diferente do México e do Canadá, que são muito mais dependentes do mercado americano”, explicou Prado. O especialista acrescentou que o impacto será menor para o setor do alumínio. “O setor pode sofrer indiretamente porque as exportações de produtos de alumínio do Canadá para os Estados Unidos podem cair, isso pode afetar as exportações brasileiras para o Canadá. Mas, de qualquer maneira, o impacto é menor”, completou.

Caso a taxação resulte em queda na produção desses produtos no Brasil, haverá perda econômica, de produtividade e de empregos nesses setores e nas demais áreas interligadas ao aço e ao alumínio, avaliou o economista, doutor em relações internacionais e CEO da Amero Consulting, Igor Lucena. “No Brasil, você vai ter uma diminuição da fornalha, diminuição da cadeia produtiva e essa diminuição termina gerando queda da produção, que significa dispensa dos funcionários, queda do faturamento e até mesmo impacto na nossa balança comercial, com reflexos sobre o PIB”, comentou em entrevista à Agência Brasil.

Avaliação

Os analistas avaliam que a medida pode ser uma tentativa do governo Trump de favorecer o mercado de aço dos Estados Unidos ao encarecer o produto comprado no exterior. Porém, o economista Igor Lucena ponderou que haverá efeitos negativos para os estadunidenses. “Um aço mais caro para os Estados Unidos ou uma falta de aço, isso vai impactar negativamente a economia americana. Não há dúvida em relação a isso”, afirmou, acrescentando que o anúncio desse tarifaço pode ser uma tática para conseguir arrancar concessões dos países em negociações em outras áreas.

O professor Luiz Carlos Prado destacou que essa tática de negociação é prejudicial ao funcionamento da economia internacional. “Isso leva a ondas de choques, leva à redução de investimentos, leva a retaliações, porque, óbvio, o Brasil deve retaliar. Se o Brasil não reage, ele fica muito mais vulnerável a esse tipo de pressão”, comentou.

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Impacto nos EUA

A imposição de uma sobretaxa sobre as importações de aço pelos Estados Unidos, conforme prometido pelo presidente Donald Trump, deve ter como efeito colateral a redução do carvão metalúrgico comprado pelo Brasil dos próprios americanos. O Brasil é um dos principais compradores desse insumo dos EUA. Ele é utilizado para produzir boa parte do aço que, posteriormente, é vendido para os americanos. O argumento de que o aumento das tarifas sobre aço prejudica os produtores americanos de carvão siderúrgico foi usado quando Trump, então em seu primeiro mandato, estabeleceu uma sobretaxa de 25% sobre a importação de aço em seu país.

A avaliação no governo é que os possíveis impactos sobre o setor do carvão contribuíram para que os EUA aceitassem, em 2018, a abertura de uma cota anual em que o aço brasileiro poderia entrar com barreiras reduzidas. Outro ponto que foi levantado à época era que o aço brasileiro semiacabado vendido era utilizado, na sua grande maioria, como insumo da produção siderúrgica americana.



(Com informações de Pedro Lovisi – Folhapress)

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