DIVERSIDADE NA TV

Mineira é 1ª trans correspondente internacional em telejornal brasileiro

Gabi Furst, criada em Sabará, na Grande BH, participou do Jornal Minas Segunda Edição, diretamente de Berlim, e trouxe informações sobre o Conclave

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“Quem era trans morria, era colocada de lado ou aparecia no jornal só em casos de tragédia. Eu não queria isso.” Foi com essa convicção que a jornalista mineira Gabi Furst decidiu reescrever o próprio destino — e, ao fazer isso, escreveu também um novo capítulo na história do jornalismo brasileiro. Nesta semana, ela se consagrou como a primeira mulher trans a atuar como correspondente internacional de notícias em um telejornal do país.

Natural de Belo Horizonte, Gabi foi criada em Sabará, na Região Metropolitana, e teve uma infância marcada pela religiosidade católica, pelas procissões e pela arquitetura colonial. “Só depois percebi que esqueci duas coisas: de mim mesma e de que a riqueza de Sabará também é a periferia, de onde sou”, contou em entrevista ao Estado de Minas.

Com 11 anos, Gabi já sabia que era travesti, mas disse que a sociedade ao redor e a rigidez da Igreja não deixavam espaço para sua identidade. “Ainda não se falava muito sobre isso, e essa ideia não estava processada na minha cabeça, mas eu me sentia fantasiada. Naquela época, as pessoas trans morriam, ou estavam envolvidas na prostituição, ou apareciam no jornal só em casos de polícia, casos horrorosos. Eu não queria isso”, afirma.

Ainda na infância, guiada pela sua curiosidade inseparável, ela descobriu sua paixão por viagens. Ainda aos 11, tentou, sozinha, alugar um ônibus para organizar expedições. “Na hora que eu cheguei lá, o moço falou: ‘Não, você não pode alugar um ônibus para 50 pessoas, você é uma criança.’ Minha mãe teve que ir lá para autorizar, e começamos a visitar cidades. As pessoas gostavam, acolhiam as informações. Ali já tinha um interesse por viagem muito grande e eu queria conhecer o mundo”, relata Gabi. Nesse período, esteve em Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e na Serra do Caraça, em Minas.

Essa paixão a levou ao jornalismo. Foi a primeira da família a entrar na universidade — se formou na PUC Minas, na unidade do São Gabriel — e ali começou a traçar os primeiros passos rumo à carreira internacional. “Consegui ir para o Chile, por meio do programa de intercâmbio, porque tive notas altas durante o curso. Enquanto isso, trabalhava na cobertura dos Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007. Minha mente abriu, porque eu estava num mundo internacional, mesmo envolvendo apenas as Américas”, comenta a jornalista.

Segundo ela, durante sua trajetória começou a presenciar os bastidores da televisão. “Quando era uma coisa séria, como falar do papa ou de política, não podia ser travesti, porque essas pessoas têm que falar só de fofoca, de artista, de exposição. É um tema maravilhoso, que dá, inclusive, muita renda, mas eu queria fazer outra coisa. No jornalismo, vi o medo por parte dos empregadores, não das pessoas trans. Medo do patrocinador, do político, do partido, do que fulano vai falar. Por isso, acabam mudando o passo”, destaca.

De Minas para o mundo

Apesar dos “nãos” recebidos, a carreira internacional a levaria por países como Egito, Israel, Palestina e Rússia. Na Faixa de Gaza, cobriu uma das maiores ofensivas da época. Trabalhou como freelancer para veículos como Rádio CBN, GloboNews, SBT e Estadão.

Posteriormente, em 2018, foi morar na Rússia — país escolhido também para começar sua transição de gênero, aos 30 anos. “Eu recebia muitos comentários ruins, mas nunca os respondi para não dar força ao ódio. Mas um deles dizia para eu ir para a Rússia ou Arábia Saudita”, alega. E foi o que ela fez. “Quis fazer todo esse processo de tudo aquilo que me impediu, quis ver de perto o que era aquilo, o que era o cerceamento, o controle, a culpa do bíblico”, compartilha Gabi.

Posteriormente, morou quatro anos em Israel e viajou com o Papa Francisco para sete lugares diferentes, entre Jerusalém, Belém, Cafarnaum, Galileia e Palestina. “Foram quatro anos sem ficar dentro de casa, e sim andando, descobrindo, escrevendo, trabalhando. E, depois de tudo que vi e vivi, ainda digo que sou feliz demais pela minha transição”, afirma ela.

Dia histórico

Nesta segunda-feira (5/5), a jornalista fez história mais uma vez, em sua estreia como a primeira travesti correspondente internacional de notícias pela Rede Minas de Televisão, no Jornal Minas Segunda Edição. Além disso, nesta quarta (7), ela também participou do mesmo programa, diretamente de Berlim, com informações sobre o Conclave e os 80 anos da Segunda Guerra Mundial.

No ano passado, a Rede Minas foi alvo de denúncias no estado após estrear um desenho cristão acusado de LGBTfobia. A animação infantil Danizinha Protetora foi criada pela vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, Daniela Linhares, e foi descrita como a história de uma garotinha e sua turma, que têm como propósito "proteger as crianças contra as ameaças que podem tirá-las da sua infância".

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Na página do Instagram do desenho, foram feitas publicações contra a "ideologia de gênero", com o argumento de "proteger crianças das artimanhas do maligno". Após isso, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) pediu a retirada do desenho do ar ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais e à Secretaria de Estado de Comunicação Social. No entanto, a animação ainda faz parte da programação.

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