Campo dos sonhos
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Siga noÉ no campo que ela floresce. Um de terra batida e silêncio, onde o tempo sabe respeitar o ritmo das coisas que importam. O outro, vibrante e barulhento, de arquibancada lotada, onde o coração dispara a cada lance e o amor se mede em gritos de gol. Entre jardineiras e camisas de clube, ela cultiva suas duas grandes paixões: as flores, que pedem cuidado; e o futebol, que exige entrega.
Em sua fazenda, no Norte de Minas, o jardim é refúgio. “Sou apaixonada por flores”, diz a juíza Beatriz Junqueira, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), ao descrever o prazer de ver sua coleção de orquídeas e o manacá florescer a cada nova estação. “No meu gabinete sempre tem uma flor, e eu sempre as levo para reflorescer na fazenda. E o manacá é mágico, é a minha paixão”, observa, se referindo à planta que encantava a mãe em vida, pela transição entre tons de roxo, lavanda e branco. “Ela amadurece com o tempo. É como a vida”, completa.
Mas nem só de silêncio e flores é feito esse campo. Seu coração bate forte quando o assunto é futebol. Desde criança, as tardes de domingo sempre foram sinônimo de Mineirão. Ela e o irmão, na época mascote de futebol, acompanhavam as partidas e, mesmo sem perceber, ela foi se apaixonando.
Anos depois, o esporte se tornou uma forma de legado. O irmão faleceu antes de ver realizado o sonho do Atlético campeão. A homenagem veio em forma de permanência: uma tatuagem do “Galo” e a cadeira cativa no estádio, comprada com o nome dele, para manter a memória viva dentro e fora de campo. Hoje, ao lado do único filho, ela vive a mesma paixão. “A gente é atleticano fanático”, revela. “A primeira roupinha que meu filho ganhou foi do time. O futebol é nossa história”, acrescenta.
É em momentos como esses – acompanhando os jogos no estádio e indo à fazenda – que ela encontra o equilíbrio entre os extremos de sua vida. “Em casa, com meu marido, é o silêncio das flores. Mas com meu filho é a energia do futebol”, diz, destacando o quanto esses contrastes se complementam.
Aos 55 anos, com uma carreira consolidada no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Beatriz tem 27 anos de magistratura, os quais refletem um pouco de sua visão pessoal sobre a vida: busca pela conciliação, rapidez na entrega da Justiça e foco em pessoas comuns que muitas vezes não têm acesso à Justiça tradicional.
O respeito pela carreira jurídica foi herdado do pai, que iniciou o curso de Direito no Rio de Janeiro. Desde cedo, a juíza ouviu conversas de desembargadores e seguiu o caminho, sem hesitar. A profissão foi a única escolha para o vestibular.
“Ver o problema sendo resolvido, ver a Justiça sendo feita, mesmo que simples, é o que me encanta. Aqui a gente vê o início, o meio e o fim”, diz. No fundo, Beatriz Nogueira parece acreditar que quase tudo pode florescer – desde que haja tempo, cuidado e luz – afinal, em seu campo, cabe de tudo.