Bares criam códigos para ajudar mulheres em situação de perigo
Um drink com nome diferente ou uma pergunta no balcão podem ser um pedido de ajuda; conheça as iniciativas de estabelecimentos para proteger clientes
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Siga noA sensação de vulnerabilidade em um encontro arranjado pela internet ou a abordagem insistente de um desconhecido em uma festa acendeu um alerta em bares e restaurantes. Estabelecimentos em todo o Brasil estão adotando códigos e sinais discretos para que mulheres em situação de perigo possam pedir ajuda sem levantar suspeitas, transformando a equipe do local em uma rede de apoio imediato.
A iniciativa funciona de forma simples e eficaz. Um drink com nome sugestivo no cardápio, uma pergunta específica no balcão ou um gesto combinado são o suficiente para que os funcionários entendam o recado. A partir daí, um protocolo de segurança é acionado para proteger a cliente, seja acompanhando-a até um transporte seguro ou, em casos mais graves, contatando as autoridades.
Como funcionam os códigos de segurança?
O método mais comum envolve a criação de um drink fictício no menu. Ao pedir a bebida, a mulher sinaliza que algo está errado. O sistema pode ter diferentes níveis, dependendo de como o drink é solicitado, indicando a gravidade da situação e o tipo de ajuda necessária.
Por exemplo, pedir o drink “puro” pode significar que a cliente deseja que um funcionário a acompanhe até seu carro ou a saída. Se pedir “com gelo”, a equipe entende que precisa chamar um carro de aplicativo ou táxi para ela. Já um pedido “com limão” ou “com borda de sal” pode ser o código para acionar a polícia discretamente.
O sucesso da estratégia depende do treinamento da equipe. Garçons, bartenders e seguranças são instruídos a agir com naturalidade, sem criar alarde. O objetivo é remover a mulher da situação de risco sem que o potencial agressor perceba a intervenção, garantindo a segurança de todos os envolvidos.
Sinais que vão além do cardápio
Nem todos os estabelecimentos adotam a tática do drink. Outros sistemas de alerta também ganham força, muitos deles divulgados em cartazes afixados nos banheiros femininos, um local onde a mulher pode buscar informações sem ser observada.
Perguntar no balcão por uma pessoa que não trabalha ali, como “Angela” ou “Valéria”, é um dos códigos mais difundidos. A pergunta serve como um pedido de socorro silencioso. A equipe, já ciente do protocolo, inicia as ações de proteção. Outra alternativa é perguntar sobre uma promoção ou evento que claramente não existe.
Essas iniciativas mostram uma adaptação do setor de serviços a uma demanda social urgente por mais segurança. Os bares deixam de ser apenas um local de consumo e passam a assumir um papel ativo na proteção de suas clientes, criando um ambiente onde as mulheres podem se sentir mais seguras e amparadas.
De onde surgiu a ideia?
A inspiração para muitas dessas campanhas veio do exterior, especialmente do Reino Unido, onde a iniciativa “Ask for Angela” (Pergunte por Angela) se tornou referência global. Lançada em 2016, a campanha incentiva pessoas que se sentem inseguras em um encontro a irem ao bar e pedirem para falar com “Angela”. A frase é o código para a equipe ajudar a pessoa a sair do local discretamente.
No Brasil, a ideia foi adaptada e se espalhou rapidamente por meio das redes sociais, com diferentes coletivos e os próprios estabelecimentos criando suas versões. A adesão cresceu em grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, e hoje pode ser encontrada em cidades de todos os portes.
A sinalização desses códigos também serve como um aviso para potenciais agressores. A divulgação massiva informa que os locais estão mais vigilantes e preparados para intervir, o que pode inibir a ação de quem se aproveita da vulnerabilidade de outras pessoas em ambientes de socialização.
Apesar do avanço, a falta de um padrão único é um desafio. Como cada bar pode ter seu próprio código, é fundamental que as clientes se informem sobre os protocolos do local que frequentam. A comunicação clara, seja por cartazes ou publicações online, é a chave para que a ajuda seja eficaz quando mais se precisa.
Por que essas iniciativas são importantes?
Elas criam ambientes mais seguros para as mulheres, oferecendo uma rede de apoio imediato em situações de vulnerabilidade.
Além de proteger, as campanhas educam o público e inibem a ação de agressores, mostrando que os locais estão vigilantes.