BH: restaurante vegano desiste de fechar depois que clientes lotam a casa
''O movimento nos últimos dias de funcionamento foi muito intenso', conta um dos sócios do Camaradería, Gabriel Neiva
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Siga noHá cerca de um mês, o Camaradería Gastrobar anunciava o fim de sua história de quase oito anos. O que os sócios não imaginavam era que a comoção do público frequentador fosse tão grande. Com tanto carinho e boas sugestões, eles decidiram apostar na reabertura do estabelecimento, que está marcada para a próxima quinta-feira (24/04).
“O movimento nos últimos dias de funcionamento foi muito intenso, principalmente no último fim de semana. Tinham pessoas que chegavam chorando”, comenta Gabriel Neiva, sócio-proprietário da casa. Ele acredita que os clientes não tinham noção que o negócio não ia bem e que a notícia do fechamento teria sido um choque para boa parte deles.
A decisão de reabrir não foi fácil. Mesmo com todo o carinho recebido antes do encerramento das atividades, os planos continuaram como previsto. No dia 1º de abril, o restaurante não funcionou. Os funcionários chegaram até a receber os acertos e tudo indicava que ali seria, de fato, o fim daquela história.
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As mensagens dos clientes e amigos, entretanto, continuaram mesmo depois de fecharem as portas. Muitos pediam mais uma chance para o negócio, outros lamentavam por não terem frequentado mais o gastrobar. Depois de muito pensarem, Bruno Faria e Gabriel Neiva, amigos e sócios-proprietários do Camaradería, decidiram reabrir a casa contando com o suporte dos clientes.
Troca recíproca
Nesse novo capítulo da história do restaurante, o objetivo dos sócios é manter uma relação ainda mais próxima com os frequentadores através das redes sociais, afinal, foi o engajamento por meio delas que resultou na reabertura. “Nunca tivemos tanta interação do público como quando anunciamos o fechamento”, conta Neiva.
Por isso, o sócio pretende desenvolver novas estratégias, que já estão sendo traçadas para o futuro do Camaradería. “A gente precisa construir um caminho de diálogo para escutar as pessoas. Vamos aparecer mais em vídeos, mostrar receitas sendo preparadas e convidar os clientes para uma interação”, explica.
A expectativa é de que o engajamento das redes possa ser revertido em casa cheia. “A gente espera que a adesão do público nesse movimento equilibre as contas”, diz Gabriel, confiante. O sócio-proprietário conta que, após o anúncio da reabertura, recebeu muitas mensagens de pessoas dizendo que iriam frequentar o restaurante semanalmente, inclui-lo em suas rotinas, e isso corroborou com sua expectativa positiva com relação ao futuro do empreendimento.
Pratos mais acessíveis
Parte das sugestões que os sócios receberam já estão sendo implementadas. Opções mais acessíveis, por exemplo, vão se tornar realidade na casa, que, embora abarque o público vegano, vegetariano e com intolerâncias, ainda não era tão democrática quanto poderia ser em relação aos preços. “Vamos ter um prato mais econômico, com ingredientes da época, todas as quartas-feiras a princípio”, explica Gabriel.
As marmitas congeladas com os pratos mais pedidos da casa também receberão mais atenção e investimento. Embora já estivessem à venda, Gabriel explica que elas eram pouco conhecidas. O esforço ligado à acessibilidade também fará com que esses produtos sejam vendidos por valores mais baixos.
Serão cinco opções de marmitas (R$ 29,90): escondidinho de soja ou cogumelo; lasanha de soja ou legumes; feijoada de soja; estrogonofe de soja ou grão-de-bico e o PF vegano com soja. Elas também podem ser compradas em um kit promocional com os cinco pratos (R$ 134,90).
Processo de conquista
Ao longo dos quase oito anos de história, o restaurante desmistificou a gastronomia com base vegetal, afinal, servia apenas pratos veganos, mas apresentava muitas referências clássicas da culinária brasileira, como o tropeiro e a feijoada.
Apesar de ser 100% vegana, a casa conquistou o público carnívoro também, que, curiosamente, representava cerca de 70% dos frequentadores, de acordo com Gabriel Neiva, sócio-fundador do estabelecimento ao lado de Bruno Faria.
O início, entretanto, não foi bem assim. Por servir pratos com nenhum elemento de origem animal, eles tiveram que encarar certo preconceito do público mineiro, que, para Gabriel, é conservador quanto à gastronomia.
Hoje, porém, a admiração do público geral foi o que reergueu a casa, que pretende continuar servindo o mesmo cardápio de antes do encerramento com a adição de pratos e opções mais acessíveis.
A feijoada (R$ 48,90), servida às sextas, e o tropeiro (R$ 48,90), servido às quintas, são alguns dos clássicos que conseguiram conquistar o público com a substituição da carne de porco por soja.
O acarajé (R$ 66,90) do Camaradería exemplifica a criatividade do veganismo ao trocar os camarões por castanhas marinadas em um molho de temperos que adiciona sabor e a coloração avermelhada. “As pessoas nos dizem que conseguimos mostrar que a culinária vegana pode ser preparada com excelência”, comenta Gabriel.
Por trás do encerramento
As consequências da pandemia, a exemplo da queda do movimento na Região da Savassi, e a alta dos alimentos foram fatores significativos no processo de decisão dos sócios de fechar o estabelecimento.
A própria pandemia, evidentemente, foi um período de dificuldade para o Camaradería, que sofreu bastante, assim como todo o setor da gastronomia. Gabriel explica que eles não abriram nem mesmo para delivery e que também não demitiram nenhum funcionário, o que contribuiu para as dificuldades financeiras naquele momento.
“Não foi uma jogada de marketing”, diz o sócio, que explica que a reabertura foi uma surpresa para todos, inclusive para ele e Bruno. Foi realmente a resposta do público que os encorajou para essa “sobrevida”, como define Gabriel.
Serviço
Camaradería Gastrobar (@camaraderia)
Rua Cláudio Manoel, 555, Funcionários
(31) 3646-4616
De segunda a quinta, das 11h às 15h
Sexta e sábado, das 11h às 22h
Domingo, das 11h às 16h30
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino