LUTO NO TEATRO

Caixão de Teuda Bara foi decorado com símbolos de suas paixões

Esquife da cofundadora do Grupo Galpão teve figurino usado por ela em ‘Romeu e Julieta’, camisa da trupe, bandeira do Cruzeiro e boné de Lula

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O figurino da ama de “Romeu e Julieta”, com os seios enormes feitos de sacos plásticos, uma camisa do Grupo Galpão, um boné de Lula e a bandeira do Cruzeiro. As paixões da atriz Teuda Bara foram colocadas sobre o caixão da atriz, velada ao longo desta sexta (26/12) no Palácio das Artes.

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Antes da despedida final, no fim da tarde, no Parque da Colina, houve uma espécie de cortejo com o caixão, que foi levado por todo o foyer do Palácio das Artes. O enterro foi rápido, para os mais próximos, com cada um dos presentes levando uma flor para a atriz.


Teuda Bara, cofundadora do Gal pão, morta no dia de Natal, aos 84 anos (os 85 seriam completados na próxima quinta, 1º de janeiro), teve uma despedida fora da curva, assim como ela o foi em vida. Muita música, incluindo os clássicos do cancioneiro do Galpão, foi entoada ao longo do dia. "Era essa alegria o tempo todo. Em casa era sempre muito carinhosa, atenta, cuidando da família inteira", disse o filho caçula da atriz, Admar Fernandes.


Cofundador do Galpão (em 1982) com Teuda, Eduardo Moreira e Wanda Fernandes (1954-1994), o ator Antônio Edson falou que não era para as pessoas chorarem. “Pensem nela com aquela gargalhada que era poderosíssima e inigualável. Isso, entre outras coisas, é o que vai ficar dela.”


E as histórias, pois quem conviveu com ela sempre tem uma para contar. Antônio Edson se lembrou de uma ocorrida na Itália. “Ela não falava um A sequer em outra língua. A gente fazendo um workshop que tinha um grupo alemão. Teuda foi flagrada pelo Chico (Pelúcio) no meio de uma roda com esses alemães falando, falando, e o povo se dobrando de rir, achando o máximo o que ela estava dizendo, só que sem entender bulhufas.”


“Mistério do talento”

Pelúcio destacou a postura libertária da atriz. “Ao mesmo tempo que a Teuda transbordava pela criatividade, pela alegria, tinha hora também que era difícil pelas coisas do cotidiano, a questão do horário, de decorar texto. É um mistério do talento, da força, da presença e da loucura, porque acho que o espectador via na Teuda a possibilidade da liberdade.”


“Foi uma das pessoas mais importantes da nossa vida”, destacou Júlio Maciel. Outro colega do Galpão, Beto Franco disse que sua partida equivale a perder uma família inteira. “Ela era uma mãe, uma figura carinhosa,acolhedora. Era uma irmã no sentido de ser uma confidente e era um pouco nossa filha também, tínhamos que cuidar da Teuda às vezes, dar bronca nela.”


Também integrante do grupo, Paulo André afirmou que “por mais que a gente tentasse se organizar, ela vinha com essa força desorganizadora que brindava a gente com o inesperado”.


As atrizes do Galpão Lydia Del Picchia e Fernanda Vianna destacaram a força dela. “Uma pessoa que não saía do personagem, absolutamente intensa, na alegria, na raiva, na loucura. Uma pessoa muito inteira, o tempo inteiro”, afirmou Lydia.


“Ficou essa força pra gente, de uma mulher muito resistente, persistente e muito alegre, muito generosa para tudo, para o teatro, para os colegas, um coração enorme, do tamanho da fome, da braveza dela”, disse Fernanda.


“Para nós assim, mulheres do Galpão, ela foi meio na frente, abrindo a trilha. A gente gosta do teatro, mas ela amava o teatro. Ela quis fazer ‘(Um) ensaio sobre cegueira’ (espetáculo que o grupo lançou neste ano), mas estava muito limitada fisicamente”, comentou Simone Ordones.


Diretor de “Romeu e Julieta”, “A rua da amargura” e “Os gigantes da montanha”, Gabriel Villela também chamou a atenção para a personalidade da atriz. “Teuda foi a mulher com mais força que eu conheci na vida. Apanhava dela, de vez em quando, amorosamente.” Era também a maior feminista com quem ele se relacionou. “Se não desse certo, ela saía na gente: beliscava, batia. Foi revolucionária no modus vivendi”.


Artistas de outras áreas foram dar o último adeus. A artista visual Laura Belém esteve no velório com seu pai, de quem a atriz era amiga desde os tempos de faculdade. O cineasta Rafael Conde comentou sobre a presença luminosa de Teuda em alguns de seus filmes.


Muito emocionado, o poeta Renato Negrão justificou as lágrimas pela presença marcante de Teuda e do Galpão em sua vida. Heleno Augusto, Marcelo Veronez e Regina Souza também compareceram.


Longa concluído

Teuda terminou em outubro passado de filmar “Balbúrdia”, longa dirigido por Pedro Estrada e nascido como um desdobramento da biografia “Comunista demais para ser chacrete” (2015), de João Santos. Muito emocionado, Santos, de 36 anos, a via como sua “mãe no teatro, minha paixão, meu ofício”.


Um dos roteiristas do longa – bem como das duas peças que ela protagonizou na última década, “Doida” (2015) e “Luta” (2019) –, Santos contou que Teuda estava na luta em seu último ano. “Tudo para ela vinha sendo um grande esforço. Ela tinha dificuldade de locomoção, tinha problema no coração. Teve uma vida muito intensa, e o corpo estava cansado. Mas tinha muita vontade de estar no palco e criando.”


Neste ano, Teuda morou dois meses na casa de Santos, período que duraram as filmagens. “Filmamos na casa dela (um apartamento no bairro Santo Antônio), mas também na Praça do Papa e da Estação.” Nessa última, Santos contou, a atriz teve um dos melhores dias do processo do filme. “Ela tomou banho de mangueira na Praça da Estação. Estava felicíssima de maiô tomando aquele banho.”

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“Balbúrdia”, que deverá ser montado em 2026, chega na esteira do curta “Ressaca” (2024), também de Estrada, que foi rodado no banheiro da atriz. No filme de 15 minutos, Teuda, em sua toalete matinal, reencena a própria vida por meio dos personagens que interpretou.

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