Solo ‘O corpo que caminha de volta’ tem sessão gratuita hoje
Neste Dia da Consciência Negra (20/11), Ítalo Rodrigues apresenta no pátio do CCBB-BH espetáculo que mescla dança, música, palavra e canto
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No Dia da Consciência Negra, o dançarino, cantor, performer e produtor cultural Ítalo Rodrigues apresenta no CCBB-BH, às 19h,o espetáculo “O corpo que caminha de volta”, criado a partir de um texto sobre suas raízes em Pirapora (MG), escrito há aproximadamente quatro meses, e de seus estudos sobre a dança do Oeste da África. A direção é de Maria Laura Menezes, que assina a coreografia; a trilha sonora é composta e executada ao vivo pelo companheiro dela, Jhonson Encina.
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Rodrigues, que morou por 10 anos no Rio de Janeiro e está de volta a Belo Horizonte há dois, diz que nunca deixou de ser atravessado pelo rio São Francisco, pela cultura ribeirinha e pelos cenários de sua cidade natal. “Trago muito isso para o meu trabalho de performance. Essa obra propõe um diálogo entre corpo, som e memória, entre África e Minas Gerais, entre minha individualidade e o coletivo. O que trago, por meio do gesto, é um retorno às águas e às presenças dos que me antecedem”, afirma.
“O corpo que caminha de volta” condensa duas coreografias, “Dum dum dance” e “Sosa”, e é tanto uma travessia quanto um chamado à lembrança, segundo o artista. Ele pontua que o título do espetáculo comporta mais de um significado. “Tem a ver com o retorno às minhas raízes mineiras, mas também fala da necessidade geral, humana, de se voltar para dentro, como caminho para se conhecer e florescer, firmar nossos passos e buscar a cura”, diz.
Criação conjunta
Ele ressalta que, como umbandista, tem uma forte relação com a ancestralidade e com as raízes. “Por isso falo desse caminho para dentro, porque somos colocados para fora o tempo inteiro, o que leva a uma exaustão mental e física. Os ensinamentos vêm dos mestres, dos nossos avós, então esse caminho de volta é um caminho de reconexão”, pontua. Rodrigues conta que estuda há um ano com Maria Laura e com Encina, que é chileno e vive há 10 anos no Brasil, e por isso os chamou para criarem juntos o espetáculo.
“Ela tem uma pesquisa em dança que passa pela África, por Cuba e pelo Chile, e ele é um mestre do djembê que tem, também, uma investigação sobre músicas africanas, mas direcionada para a América Central. Eu os considero dois grandes mestres”, comenta. Ítalo observa que, como o texto é de sua autoria, a coreografia é de Maria Laura e a trilha é de Encina, “O corpo que caminha de volta” resulta de uma pesquisa e de um trabalho colaborativo.
O espetáculo será apresentado no pátio do CCBB-BH, onde Rodrigues vai encadear diferentes momentos, do texto junto com a musicalidade, da dança sem o texto e também do canto, culminando com um convite para que o público interaja, possivelmente em um cortejo. “Ainda estamos estudando como isso vai se dar”, conta. Sobre o atual cenário das danças afro e afro-brasileira em Minas Gerais, ele considera que está em expansão, mas ainda há pontos de carência.
“Faço a produção do Bloco Afro Magia Negra e tenho Camilo Gan como referência, por tudo o que ele fez e vem fazendo com esse coletivo, com a linguagem do corpo. Marilda Cordeiro é outra grande referência que tenho, assim como Maria Laura Menezes. São pessoas que têm trabalhado na ampliação de um espaço de trânsito entre a dança africana e a dança afro-brasileira, que parte das matrizes e incorpora elementos próprios da nossa cultura”, afirma.
No entanto, ele avalia que os lugares que esses corpos pretos ocupam para além do dia 20 de novembro ainda são restritos. “Essas pessoas precisam executar suas atividades artísticas ao longo de todo o ano, porque vivem de sua arte. O cenário da dança afro está crescendo, mas ainda vejo certa dificuldade de acesso a determinados espaços”, diz. Rodrigues considera que o Dia da Consciência Negra ainda não reverbera como deveria, mas deve, sim, ser comemorado.
“É um dia de existir e de lutar para que possamos ocupar nosso espaço, independentemente de data. Ainda lidamos com um peso do que é sofrido, do que é doído, do olhar que enxerga a dor, e não é só isso. Temos corpos de mulheres muito fortes na política hoje, por exemplo. É preciso entender que há uma história pregressa, então precisamos olhar para esse caminho de volta. A sociedade ainda tem muita dificuldade em abandonar o pensamento colonizado.”
“O CORPO QUE CAMINHA DE VOLTA”
Espetáculo de Ítalo Rodrigues, nesta quinta-feira (20/11), às 19h, no pátio do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Entrada gratuita, com retirada prévia de ingressos na bilheteria do CCBB-BH.