Milton Nascimento em formato acústico e inédito
Vinil ‘Tarde’ traz as primeiras gravações inéditas da música-título e de ‘Peixinhos do mar’ e ‘Fazenda’, além de clássicos do repertório do cantor e compositor
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À frente dos negócios de Milton Nascimento desde 2016 e também filho adotivo do artista, Augusto Nascimento admite: equilibrar os dois papéis está longe de ser tarefa simples. “O empresário é sempre um vilão”, diz. É quem precisa colocar limites, dizer a maioria dos “nãos” e, às vezes, frustrar o sonho de alguém de conhecer seu grande ídolo.
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“São duas posições que conflitam muito e isso me suga bastante”, comenta. Apesar dos desafios, Augusto, que assumiu o posto de empresário aos 23 anos, ainda no fim do curso de direito e sem nenhum plano de voo ou “um completo inexperiente”, como define, considera que conseguiu fazer um bom trabalho ao reaproximar o pai dos fãs.
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Ao longo dos últimos anos, ele vem somando esforços para reposicionar a imagem de Milton e renovar o contato do artista com o público. “Eu achava que ele não estava no lugar que lhe cabia. Em algum momento, meu pai ficou inalcançável demais para grande parte do público. Acho que conseguimos repopularizar um pouco a obra dele, tanto para quem já o acompanhava quanto para o público jovem, que não estava consumindo”, avalia.
Um dos primeiros projetos foi lançar um conjunto de gravações em voz e violão feitas por Milton ao lado do violonista e fiel escudeiro Wilson Lopes, em 2007, que estavam engavetadas. O material saiu em 2018 pela Universal em dois EPs, “A festa” e “Nada será como antes”.
Agora, essas gravações chegam pela primeira vez em vinil pelo Noize Record Club. O lançamento apresenta um panorama da obra de Milton, reunindo faixas dos discos “Clube da Esquina” I e II, “Milton”, “Minas” e inclui ainda três músicas inéditas no formato acústico – “Peixinhos do mar”, “Fazenda” e “Tarde”, que dá nome ao disco.
“São gravações singelas. Têm uma simplicidade, existe uma beleza muito grande ali, ainda que as gravações mais jazzísticas sempre sejam as minhas preferidas. Acho que é uma nova forma de descobrir essas obras na voz do meu pai”, diz Augusto. “Quando chegou, fiquei ouvindo muito todas as gravações. Ficou no repeat. Eu só escutava isso”, lembra.
Segundo ele, os registros já circulavam há algum tempo entre pessoas próximas ao artista. Quem fez a ponte entre o material e o Noize Record Club foi o curador Marcus Preto, que também teve acesso às gravações por meio de Wilson Lopes.
Fundada em 2007, em Porto Alegre, como revista gratuita de música, a Noize começou a se reinventar em 2014, com o declínio do mercado editorial impresso. “Sempre fui um aficionado pela mídia, e a ideia do retorno do vinil já estava sendo ventilada”, conta Rafa Rocha, cofundador do clube.
FBC, aposta mineira da Noize
A empresa começou com as tiragens mínimas que poderiam ser feitas de cada disco, algo entre 300 e 500 exemplares e, hoje, já vendeu até 9 mil cópias de uma única edição. Além de Milton, o clube lança outros medalhões, como Caetano Veloso e Ney Matogrosso, e tem apostas da nova cena brasileira, como o rapper mineiro FBC. Esta é a segunda parceria com Milton. A primeira foi em 2022, com o relançamento em vinil do álbum “Milton” (1970).
“Milton sempre foi um sonho para a gente. A relação com a obra começa com o fato de ser brasileiro, de consumir Milton como fã. Sempre tivemos vontade de lançar algum disco dele”, afirma Rafa.
Para adquirir o novo disco, é possível fazer assinatura mensal de R$ 95, mais frete, até o próximo dia 9/12. Também houve venda avulsa, em tiragem reduzida, por R$ 200 para não assinantes, mas os exemplares se esgotaram em um dia.
Augusto conta que, durante a pandemia, ele e Milton tinham o hábito de ir para a área externa da casa onde moravam, em Juiz de Fora, para ouvir LPs. “Ele sempre falava que nada se igualava àquele som. É a forma que ele conhece de explorar a música. O digital, hoje, ele usufrui, claro, mas a forma original, como ele entende a música, é o vinil”, conta.
Juntos, ouviam muitos discos do próprio Milton, sobretudo “Minas”, “Clube da Esquina” e “Geraes”, além dos Beatles.
OsGemeos
A capa de “Tarde” traz uma ilustração especial d’OsGemeos, Otávio e Gustavo Pandolfo, criada inicialmente como painel para o documentário “Milton Bituca Nascimento”, de Flávia Moraes. A dupla já havia ilustrado o cenário da turnê “Clube da Esquina” (2019).
“Os dois são grandes amigos nossos, frequentam a nossa casa, estão sempre com a gente”, conta Augusto. A arte que estampa o vinil também está em um quadro que decora a casa do artista.
Augusto diz ainda que Milton tem um acervo maior do que o que já foi oficialmente organizado. Gravações continuam surgindo de forma esparsa, sobretudo de shows registrados por técnicos de som ao longo das décadas e de “sobras” de estúdio (faixas que foram gravadas mas não entraram nos álbuns oficiais).
“Tem muita coisa perdida por aí. Vira e mexe, alguém me procura, me manda alguma coisa”, diz.
Augusto Nascimento: 'A obra do meu pai é imortal'
Apesar disso, ele afirma que ainda não tem nenhum registro completo que permita reconstruir totalmente um projeto específico. Deixar para se debruçar sobre esse material com mais atenção é um plano futuro.
“A obra do meu pai é imortal. É uma coisa que não vai morrer nunca. Ele vai partir em algum momento, eu vou partir, meus filhos vão partir, mas a obra dele vai continuar aí.”
“TARDE”
• Vinil de Milton Nascimento
• 11 faixas
• Noize Record Club
• Disponível para quem fizer assinatura até 9/12
FAIXAS
LADO A
• “A festa”
• “Tarde”
• “Cuitelinho”
• “Peixinhos do mar”
• “Clube da esquina”
LADO B
• “Nada será como antes”
• “Saudade dos aviões da Panair”
• “Beco do Mota”
• “Cio da terra”
• “Fazenda”
• “Clube da esquina II”