Livro recupera marco inicial da carreira de Lô Borges
Artista é personagem de destaque em "Primeiros acordes do Clube da Esquina", de Cristiano Quintino, que resgata o 1º Festival Estudantil da Canção Popular
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            Lô Borges é uma das figuras centrais do livro “Primeiros acordes do Clube da Esquina”, do fotógrafo Cristiano Quintino, que seria lançado nesta quarta-feira (5/11). A obra, que tem pesquisa, organização e posfácio assinados pela jornalista, escritora e produtora cultural Malluh Praxedes, recupera os eventos em torno do 1º Festival Estudantil da Canção Popular, realizado em 1969, no auditório da Secretaria de Saúde, onde atualmente é o Minascentro.
O evento, de caráter competitivo, marcou as primeiras apresentações públicas das músicas “Clube da esquina” (Lô, Milton Nascimento e Márcio Borges) e “Equatorial” (Lô e Beto Guedes), que, curiosamente, não chegaram ao final da contenda. Quintino diz que, mesmo antes da notícia da morte do cantor e compositor na noite deste domingo (2/11), quando saiu o boletim médico dizendo que ele estava fazendo hemodiálise, decidiu-se pela mudança de data do lançamento.
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“Tivemos um mau pressentimento, não tinha clima para lançar, inclusive porque o livro começa com Lô falando da música 'Clube da esquina', e termina com ele falando de 'Para Lennon e McCartney'. Em ambos os casos, foram depoimentos que ele me deu em 2008”, diz. Ele observa que o festival pavimentou o caminho para o surgimento do Clube da Esquina, na medida em que promoveu encontros e estreitou os laços entre seus fundadores.
PRIMEIRA PARCERIA
No livro, Lô conta – sobre a música que batiza o movimento – que estava desenvolvendo a harmonia, enquanto Milton criava a melodia. “Quando a gente terminou a música, eram mais ou menos 6 horas, chegou o Marcinho vindo do trabalho e nos viu com uma parceria inédita, a primeira música minha e do Bituca. Marcinho começou a escrever a letra na hora”, relata, dizendo que a escrita foi concluída à luz de velas, porque estava anoitecendo e acabou a energia elétrica em sua casa.
No depoimento incluído no último tomo de “Primeiros acordes do Clube da Esquina”, Lô fala dos desdobramentos do evento de 1969. “Foi o primeiro e único festival de que participei e tem uma importância grande na minha carreira. Primeiro porque entrei com duas músicas que foram minhas primeiras criações em parcerias com os meus melhores amigos: 'Clube da Esquina', com o Bituca, e 'Equatorial', com o Beto Guedes, e olha que eu tenho poucas parcerias com eles”, conta.
Lô Borges deixou prontos quatro álbuns de inéditas
O depoimento revela, ainda, que, ao final do Festival, foram todos para a casa da família Borges, com Naná Vasconcelos tocando com as panelas de sua mãe e uma dupla de violão em cada cômodo. No livro, Lô conta que chamou seu irmão, Marcio, e Fernando Brant, para mostrar uma música que acabara de compor ao piano, a fim de que criassem a letra, e assim nasceu “Para Lennon e McCartney”. Ele relata que as pessoas ficaram “mais amigas” e acabaram trabalhando juntas.
TODOS JUNTOS
“Tinha os encontros meus com o Beto, o Toninho, com outras pessoas, com o Nivaldo. Tinha muitos encontros separados, de duplas, de trios de pessoas. Já existiam algumas amizades, mas esse festival colocou todo mundo junto. Ele tem essa importância. Lembro que o Túlio Mourão começou a frequentar minha casa, fiquei mais amigo do Toninho, mais amigo do Nivaldo, eu fiquei mais amigo de todo mundo”, registra o texto.
Quintino pontua que foi a partir daquele momento que Toninho Horta começa a lecionar música para Lô e Beto Guedes. Ele considera “uma coisa linda” o fechamento do festival na casa dos Borges. “Estava aquela moçada toda lá, Fernando (Brant), Elizete Cardoso, Naná Vasconcelos, a família Borges toda. Dona Maricota, mãe deles, preocupada com todo mundo bebendo, foi fazer uma macarronada enquanto Lô compunha 'Para Lennon e McCartney' ao piano”, diz.
Toninho Horta sobre Lô Borges: 'Parceiro de tantas histórias'
Ele revela que um dos últimos contatos com Lô foi para apresentar um projeto, do livro “Poemas musicais”, em que reúne as nove letras que ele escreveu para o “Disco do tênis” e as ilustra com diversas fotos que fez do músico ao longo dos anos. “Ele ficou empolgado com a ideia, mas disse que queria que eu pusesse muitas fotos, porque fui a pessoa que mais o fotografou. Há cerca de três semanas, me entregou a autorização para fazer esse livro. Nos encontramos, tomamos um vinho”, conta.