Banda de Lô Borges fala dos últimos shows com o cantor e compositor
Músicos falam que artista estava com energia acima da média e em fase de muita criatividade
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            Lô Borges (1952–2025) fez os últimos shows da carreira com energia acima da média. É o que contam os músicos Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corrêa (baixo), Felipe D’Ângelo (teclado e vocal) e Robinson Matos (bateria), que integravam a última formação da banda do cantor e compositor mineiro.
O último show de Lô aconteceu em 27 de setembro, na cidade de Cláudio, dentro da programação do Festival da Primavera da cidade mineira. No entanto, Thiago Corrêa, baixista da banda, lembra que a apresentação “não fez justiça à trajetória dele”.
Segundo o músico, as pessoas da plateia não eram o público-alvo do Lô, e a apresentação não teve “aquele calor costumeiro”. “Infelizmente, não foi um show especial, a gente não ficou feliz pelo nível dos shows que ele vinha entregando”, conta.
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Já o show em Tiradentes, realizado no dia 12 de julho, ao lado de Beto Guedes e da banda 14 Bis, foi o completo oposto. A apresentação é tida pelos músicos como o último grande momento da carreira do artista, morto no último domingo (2/11), em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Momento lindo
“Em Tiradentes foi mágico, maravilhoso, com muitas pessoas emocionadas, e cantando junto. Foi um momento lindo”, recorda Thiago. Felipe D’Angelo, tecladista e segunda voz da banda, lembra que não conseguiu cantar durante o show. “Chorei do início ao fim, não consegui nem fazer a segunda voz. Não sei explicar o porquê. Simplesmente não tinha motivo.”
Antes de ser internado, Lô ainda tinha várias datas confirmadas até o fim deste ano, entre elas apresentações com o parceiro de Clube da Esquina, Beto Guedes, e Zeca Baleiro. O guitarrista Henrique Matheus, parceiro de Lô há 16 anos e produtor dos últimos discos do cantor - entre eles “Não me espere na estação”, indicado ao Grammy Latino, e “Céu de giz”, lançado em agosto com Zeca Baleiro - lembra que o artista vivia uma fase de muita vitalidade.
“O que posso falar dos últimos shows é que ele estava muito desenvolto, com uma energia renovada que não víamos há muito tempo”, diz Henrique. “Nos últimos anos, falávamos praticamente todos os dias, porque ele vinha gravando discos no meu estúdio. Inclusive, estávamos no meio da produção do próximo”, revela.
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Há alguns anos, Lô Borges enfrentou um problema de fotofobia que o deixava desequilibrado, e chegou a fazer a maior parte dos shows sentado. “De um ano pra cá, ele resolveu voltar a cantar em pé, e foi muito legal, porque parecia que ele tava definhando, e no fim das contas não era”, conta Thiago.
Nas apresentações mais recentes, o músico chegou até a correr pelo palco. “A gente tinha plena esperança de que ele ia sair dessa. Ele estava em um momento muito bom, altivo, de alto-astral e pensando no futuro. Foi um baque grande”, completa Corrêa.
Música inédita
Thiago começou a trabalhar com ele no disco “Rio da lua” (2019), que inaugurou uma série de lançamentos anuais que se seguiram até agora. No terceiro disco dessa fase, “Chama viva” (2022), ele foi chamado para produzir também. Antes dele, o pai, o também baixista Ivan Corrêa, tocou na banda do Lô. “Isso era uma espécie de troféu na nossa família”, afirma.
Segundo o baixista, o quinteto trabalhava em um novo disco no qual Lô, que normalmente contava com parceiros letristas, decidiu escrever as próprias letras. Ele chegou a compor a letra de uma música inédita de Thiago, intitulada “Novamente no sonho”, ainda sem data de lançamento. “Mandei a melodia e ele sumiu por uns dias. Depois apareceu dizendo que tinha escrito a letra no mesmo dia”, conta.
Entre as lembranças, Corrêa destaca uma brincadeira que os dois criaram. “Ele fazia um alongamento que parecia uma dança russa. Eu brinquei: ‘Uai, você tá dançando a balalaika’. Aí pegou. Ele me apresentava nos shows como 'Balalaika' e ficava me olhando, fazendo o passo no palco. Era muito divertido.”
Dono do estúdio Cais, espaço por onde passam novos nomes da música mineira, Felipe D’Ângelo lembra o entusiasmo de Lô Borges, sempre curioso e aberto ao trabalho das novas gerações.
Atualmente, ele produz o disco dos irmãos Clara Bicho e Gabriel Campos, e disse a eles que em breve mostraria o som para Lô, que, segundo ele, certamente gostaria da música dos dois. “Ele morreu antes de eu mostrar a música. Ia adorar, porque amava o som jovem, as coisas novas, o frescor. Era superentusiasta de tudo que envolvia o estúdio”, diz.
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O baterista Robinson Matos é o mais antigo da banda. Conheceu Lô em 2004, quando o cantor gravou um jingle composto por ele para uma campanha publicitária. Depois veio o convite para participar do disco “Bhanda” (2006), início de uma parceria que se estenderia até o fim da vida do artista.
Para ele, o maior legado que Lô deixa é a inquietude. “Mesmo com uma carreira consagrada, cheia de sucessos, ele nunca desistiu de compor, de buscar novas sonoridades. Ele dizia: ‘As músicas ficam me chamando, e eu tenho que atender’.”
Confira a letra inédita de “Novamente no sonho”:
Pode chegar
Vamos entrar
Novamente no sonho
Outro lugar
Vamos buscar
Uma cidade outro mundo
Uma luz eu vi o sol
Olhando sempre a estrela
Brilha a estrela
Vamos juntos no amor
Tanta viagem
Outro planeta fui buscar
Pra outro lugar
É bom chegar
De pés descalços na lua
Vamos pensar
Como buscar
Um pedacinho pra nós
Uma luz eu vi o sol
Vejo no sonho a estrela
Tanta viagem
Tanta loucura o amor
Dentro da nave
Segue o sonho no amor