Exposição 'Trans: paisagem' entrelaça fotografia e arquitetura
Mostra produzida por Leonardo Finotti na Casa do Baile aprofunda a relação entre o Modernismo, a Pampulha e a cidade de Belo Horizonte
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Fotografia e arquitetura em pleno diálogo. “Trans: paisagem”, exposição de longa duração de Leonardo Finotti, recém-inaugurada na Casa do Baile, aprofunda tal relação fazendo um percurso entre o Modernismo, a Pampulha como marco do movimento e a própria cidade de Belo Horizonte.
Durante o processo de produção da mostra, Finotti, mineiro de Uberlândia radicado em São Paulo, esteve algumas vezes na Casa do Baile. “Me dei conta de que o tempo de visita é pequeno. Minha vontade maior é de que as pessoas fiquem mais, que ela seja mais casa e menos baile.”
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Para tal, foram criadas soluções que podem fazer com que o visitante permaneça no local. Onze grandes mesas estão ocupando a Casa do Baile – sete na parte de dentro e quatro do lado de fora. “É como se fosse uma linha que conectasse o espaço interno com o jardim. A ideia era criar uma relação da arquitetura não só visualmente, mas com o próprio objeto arquitetônico que é a Casa do Baile”, explica.
As mesas que estão no jardim são um convite para que as pessoas façam ali o que quiserem – um piquenique é bem-vindo no equipamento público, por exemplo. Já as que estão na parte interna apresentam os livros de fotografia de Finotti, uma parte relevante de seu trabalho que pode (e deve) ser consultada pelos visitantes.
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Além dos volumes, ele também trouxe para a exposição parte de sua pesquisa editorial. Algumas das mesas apresentam instalações que Finotti fez com as chapas que imprimiram o livro “Cidades brasileiras” (2023). Ele escolheu justamente as chapas sobre BH, criando um objeto que simula as páginas de um livro.
Finotti tem uma profunda ligação com o Modernismo. Uma das paredes curvas da Casa do Baile apresenta uma montagem com 70 fotografias de diferentes projetos de Burle Marx. A imagem que ilustra essa matéria, feita com drone, destaca as linhas propostas por Oscar Niemeyer e o paisagismo de Burle Marx.
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VISÃO DO ALTO
“Sempre tive vontade de fotografar as obras do Burle Marx do céu. Cheguei a fazer algumas de helicóptero e outras no topo de algum edifício. A partir de 2017, quando comecei a trabalhar com drone, desenvolvi melhor o projeto. As fotos são vistas de vários eixos, do topo ao chão, e com isso a gente vai trançando a visão”. Daí o nome “Trans: paisagens” para a exposição.
Nas últimas duas décadas, Finotti trabalhou com vários nomes importantes da arquitetura de Minas Gerais como Gustavo Penna, Freusa Zechmeister, Arquitetos Associados, Marcelo Play e Fernando Maculan. Tanto por isso, costuma vir com alguma frequência a BH. Em algumas ocasiões ele fotografou algumas favelas da cidade, que aparecem na mostra em um recorte da série “Refavela”.
“Este é um trabalho muito estruturado, pois estes lugares não têm projetos (arquitetônicos). Acabei conseguindo organizar visualmente a periferia através da linguagem da fotografia”. Para a série, foram criadas caixas de luz de grande formato que se tornaram uma espécie de vitrines para as imagens. “É interessante pensar como a Casa de Baile, cuja origem era trazer a elite, agora traz a periferia, colocada em um lugar de destaque. Tentei inverter a lógica”, explica.
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Diante do espaço onde “Trans: paisagem” está montada, não poderia faltar alguma referência ao arquiteto que criou o Conjunto Moderno da Pampulha. Um díptico, com duas imagens quadradas em preto e branco, exibem as linhas do Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade. Elas foram instaladas numa escora de obras, e “flutuam” na exposição.
A mostra tem certo ineditismo não só em Minas Gerais, como no Brasil. A série dedicada a Burle Marx foi criada em 2017, para a Bienal de Shenzhen, na China. Depois foi exibida na Embaixada do Brasil em Tóquio e em duas exposições na Índia. “Ou seja, foi vista somente na Ásia. É a primeira vez que apresento a série inteira no Brasil”, finaliza.
“TRANS: PAISAGEM”
A exposição de Leonardo Finotti está em cartaz na Casa do Baile – Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design, Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha. Visitação de quarta a domingo, das 10h às 18h. Entrada franca.