EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA

Mostra "Paisagens mineradas" chama a atenção para tragédia em Brumadinho

Rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, é retratado em obras de 12 artistas plásticas expostas na Funarte MG

Publicidade
Carregando...

O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, pertencente à Vale, em Brumadinho, completou seis anos em janeiro e segue sem punições legais aos responsáveis. Familiares das 272 vítimas buscam justiça enquanto reconstroem suas vidas. Neste sábado (5/7), será aberta no Galpão 5 da Funarte MG a exposição “Paisagens mineradas: marcas no corpo-território”, com entrada franca. A mostra foi criada em 2024 para marcar os cinco anos da tragédia e já passou por São Paulo, Belém e Ouro Preto, no Museu da Inconfidência.

Em cartaz em Belo Horizonte até 9 de agosto, a exposição aborda a mineração predatória em Minas Gerais e no Brasil por meio de obras de 12 artistas plásticas.

“Nos debates sobre aquecimento global e mudanças climáticas, pouco se fala de mineração”, diz a artista e curadora Isadora Canela. “Tanto a indústria do óleo quanto a da gasolina são formas de mineração. Mas a palavra é um tabu na sociedade. Acho importante a gente fazer essas correlações na mostra.”

A exposição é uma realização do Instituto Camila e Luiz Taliberti, que leva o nome de duas vítimas do rompimento de 2019. Após a perda dos filhos, a paulista Helena Taliberti criou o projeto como uma forma de manter viva a memória das vítimas e evitar novas tragédias.

O instituto tem como principais objetivos a proteção ao meio ambiente e o empoderamento de grupos vulneráveis, em especial as mulheres.

Sirene às 12h28

Entre as ações de conscientização promovidas estão os atos realizados na Avenida Paulista todo dia 25 de janeiro, com toque de uma sirene no horário exato do rompimento, às 12h28. O evento inclui música e a presença de artistas. Helena destaca que foi a partir dessas relações que se perceberam o poder da arte na mobilização de novos públicos.

“A cultura e a arte são veículos mais do que eficientes. Na medida que a arte emociona, é possível falar por meio dela. Você atinge mesmo o coração das pessoas”, afirma a presidente do instituto.

“É importante entenderem o que aconteceu não só daquela maneira retratada pela imprensa, mas a partir do ponto de vista individual, dos familiares e amigos afetados pela morte de tanta gente”, continua Helena.

Visitante vê fotos expostas na mostra Paisagens mineradas
Exposição 'Paisagens mineradas', realizada pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti, já foi apresentada em São Paulo, Belém e Ouro Preto Isabelle Aguiar/divulgação

Segundo dados da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), mais de 1,6 mil familiares diretos das vítimas ainda vivem os impactos da tragédia.

Várias linguagens

Na mostra, o público poderá refletir sobre o tema por meio de pinturas, instalações, videoartes, fotografias e performances. Participam, além de Isadora, as artistas Beá Meira, o Coletivo ASA – Associação de Senhoras Artesãs de Ouro Preto, Isis Medeiros, Julia Pontés, Keyla Sobral, Lis Haddad, Luana Vitra, Mari de Sá, Murapyjawa Assurini, Shirley Krenak e Silvia Noronha.

A belo-horizontina Silvia Noronha apresenta uma “geologia especulativa”, em que submete amostras de solos dos lugares atingidos a temperaturas que simulam o tempo geológico. Com isso, os visitantes podem descobrir como será o futuro do solo que se constrói hoje.

Isadora Canela, natural de Brumadinho, apresenta duas obras. A primeira é um quadro abstrato inicialmente exposto em Munique, na Alemanha, em 2022. Na ocasião, ela foi convidada pela cidade, em parceria com a Unesco, a abordar o rompimento da barragem no local onde acontece o julgamento internacional do caso – Munique é onde está sediada a seguradora alemã TÜV SÜD, responsável pelo projeto da Vale.

Corpo feminino

Na segunda obra, pedra abriga um dispositivo que reproduz videoperformance da artista carregando outra pedra. Isadora Canela explica que a instalação representa uma pesquisa individual que relaciona a exploração do minério à degradação do corpo feminino na sociedade.

“Tive o ímpeto de falar sobre a mineração, especialmente trazendo essa camada de gênero. Nas montanhas, que são o meu cotidiano, vejo todos os dias aquela extração acontecendo, e isso é o que sinto no meu corpo como mulher. Até nas visualidades. É como se a gente também fosse comercializável”, afirma Isadora.

A curadora destaca o trabalho do Coletivo ASA, que encerra a exposição. Sobre a fotografia de uma paisagem destruída pelo rompimento, as artistas bordaram plantas. A obra, segundo Isadora, retrata a perspectiva de um novo amanhã idealizada pela mostra.

“No fundo, a exposição é sobre esperança. É sobre a gente transformar essa história. Conseguir criar algo que seja verde, e não vermelho de sangue”, conclui a artista.

* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco

“PAISAGENS MINERADAS”

Em cartaz deste sábado (5/7) até 9 de agosto, no Galpão 5 da Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro). Visitação de quarta-feira a domingo, das 15h às 20h. Entrada franca.

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay