Jornalista com 25 anos de experiência em cobertura cultural. No Estado de Minas, repórter de Cultura. Graduada em Jornalismo pela Puc-Minas e pós-graduada em Produção e Projetos Culturais pelo IEC-Puc Minas.
No show desta noite no Palácio das Artes, o público cantará sucessos como "Paixão", "Fonte da saudade" e "Angélica" crédito: Acervo Pessoal/Divulgação
Ver o grupo MPB4 e a dupla Kleiton & Kledir juntos no palco é repassar boa parte da história da música brasileira da segunda metade do século 20. Tanto que o projeto de unir as seis vozes em cena, que começou no pós-pandemia em 2022, ganhou vulto. Já foram dezenas de shows.
Nesta sexta (4/7), eles voltam a se apresentar em Belo Horizonte. Cantam no Palácio das Artes repertório semelhante ao que fizeram três anos atrás no Sesc Palladium. Mas há algumas mudanças, comenta Dalmo Medeiros, a primeira voz do MPB4. “Saíram algumas músicas e colocamos outras que funcionam melhor para essa configuração de seis vozes.”
Dos irmãos gaúchos entraram “Fonte da saudade” e “Paixão”, que não estavam no show anterior. “Da nossa parte, incluímos ‘Angélica’, que é do disco de 60 anos (de trajetória do MPB4, lançado há exato um ano pela Biscoito Fino)”, continua. Outra novidade é “Paz e amor”, dos Ramil, gravada com eles pelo MPB4 no mesmo álbum.
A temporada iniciada há três anos, na verdade, celebra uma amizade de quatro décadas. Em 1979, em meio à abertura política, o MPB4 lançou o show “Bons tempos, heim?!”, do LP homônimo. Neste trabalho, o grupo gravou canções de Chico Buarque, Caetano Veloso, Flávio Venturini e de dois jovens pouco conhecidos, Kleiton e Kledir Ramil.
A música escolhida foi “Circo de marionetes”, do quinteto Almôndegas, de Pelotas, que os irmãos integravam. Quando a turnê acabou, o MPB4, já elaborando o repertório do próximo disco, pensou logo nos Ramil. Foram escolhidas duas músicas, “Vira virou” e “Viração”.
Naquela altura, o Almôndegas havia se desfeito e Kleiton & Kledir estreavam como um duo. Foram convidados para a temporada deste novo show do MPB4 – a força da canção era tamanha que disco e show se chamaram “Vira virou”.
Após isso, eles só voltaram a se encontrar no palco para a atual temporada. O MPB4 que vemos em cena conta com dois fundadores – Miltinho e Aquiles –, e dois integrantes que vieram mais tarde. Mas esse depois já tem muito tempo. Dalmo está no grupo há 21 anos e Paulo Malaguti há 13.
Os dois, aliás, foram companheiros no Céu da Boca, importante grupo vocal formado no fim da década de 1970, de onde saíram nomes como Paula Morelenbaum e Maúcha Adnet, que de lá seguiram para a Banda Nova, que acompanhou Tom Jobim.
Retorno ao Rio
A história de Dalmo no MPB4 começa em 2004, numa caminhada pelo Bairro de Botafogo. Ele tinha acabado de voltar de uma temporada de 13 anos em Salvador. Foram 400 discos fazendo vocal ou compondo – tem músicas gravadas por Ivete Sangalo, Araketu, Netinho, Margareth Menezes. Pouca gente sabia que ele estava de volta ao Rio de Janeiro – na época dava aulas de produção musical.
Pois, nessa caminhada, Dalmo se deparou com a notícia na capa do jornal: “Ruy abandona o MPB4”. Comprou o diário, leu que tinha havido um desentendimento. Impressionado, pois já eram 40 anos de carreira do grupo, Dalmo comentou com a mulher, Ângela: “Eu podia entrar no MPB4”. Ela achou que era muita pretensão dele.
“O Ruy (1937-2018) era a primeira voz, que é mais aguda. E eu canto nessa região.” Ângela insistiu: “Mas eles nem devem se lembrar de você.” Dalmo insistiu: “Eles sabem quem eu sou, só não sabem que estou de volta ao Rio.”
Isso aconteceu em um sábado. Na terça-feira seguinte pela manhã, Dalmo recebeu um telefonema de Magro (1943-2012), que foi direto ao assunto. “Não sei se você leu, o Ruy saiu do grupo e nós vamos substituí-lo. Recebemos algumas indicações de você, de pessoas como o (Roberto) Menescal, o Zé Renato, o Mário Adnet.” Dalmo tremeu nas bases. Magro terminou a conversa dizendo que Miltinho ligaria para um encontro.
Nessa conversa com Miltinho, Dalmo perguntou se queriam que ele fizesse um teste. “O pessoal disse que você não precisa.” Ele saiu de lá com uma pilha de CDs e um punhado de partituras. Tinha 40 dias para estar com o repertório na ponta da língua, pois o MPB4 faria oito shows no Nordeste.
Miltinho, Paulo Pauleira (no alto), Aquiles e Dalmo Medeiros formam o MPB4 Leo Aversa/divulgação
A estreia foi em João Pessoa, terra da família Medeiros. O pai de Dalmo, Geraldo Medeiros, foi um dos fundadores da Orquestra Tabajara. A mãe, Iracema Peixoto de Medeiros, foi backing vocal do Dorival Caymmi. E o tio, ninguém mais, ninguém menos, do que Cauby Peixoto.
Susto na Paraíba
Na chegada ao aeroporto da capital da Paraíba, um susto. Havia umas 80 pessoas da família esperando Dalmo. “Dalmo vereador”, “Vote em Dalmo”, a gozação foi grande. “O primeiro show foi num teatro lotado para 800 pessoas. Trezentas e cinco eram da minha família ou agregados”, conta ele.
Oito anos mais tarde, quando Magro já estava doente (ele sofria de câncer de próstata), havia uma conversa sobre quem poderia substituí-lo. Foi Dalmo quem sugeriu Paulo Malaguti, seu antigo colega de Céu da Boca. Além de vocalista, ele também fazia arranjos vocais e tocava piano.
“Ouvindo isso, o próprio Magro acabou concordando”, acrescenta Dalmo. O caminho deu certo, tanto que parte dos arranjos do álbum de 60 anos foi feito por Malaguti.
Show nesta sexta (4/7), às 21h, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1 : R$ 510 e R$ 255 (meia). Plateia 2: R$ 390 e R$ 195 (meia). Balcão: R$ 290 e R$ 145 (meia). À venda na bilheteria e na plataforma Eventim.