Documentário faz viagem poética ao sertão de Guimarães Rosa
Filme terá sessão única nesta sexta-feira (4/7), no Cine Santa Tereza, e propõe uma leitura viva e cotidiana das paisagens rosianas
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Siga no“O sertão está dentro da gente”, dizia Guimarães Rosa (1908-1967). No entanto, havia um sertão real e palpável para além da força literária e simbólica representada nas obras do escritor mineiro. É esse sertão que o documentário “Gerais da pedra”, de Diego Zanotti, Gabriel Oliveira e Paulo Júnior, procura evidenciar. O longa terá sessão única nesta sexta-feira (4/7), às 19h, no Cine Santa Tereza. Após a exibição, os diretores participarão de bate-papo com o público.
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Fruto de profunda imersão em “Grande sertão: Veredas”, o filme traz uma leitura inusitada e viva das marcas deixadas pela obra de Rosa no interior mineiro, onde muitos conhecem o enredo do livro sem nunca ter lido a magnum opus do autor de Cordisburgo.
“Gerais da pedra” começou a tomar forma em 2017, a partir do encontro dos três realizadores. Gabriel deu o primeiro passo ao enxergar a possibilidade de transformar a pesquisa acadêmica que desenvolvia – sobre a repercussão da obra de Rosa em Minas – em um documentário. O trio, que se conheceu no projeto Caminho do Sertão, realizado no Noroeste mineiro, decidiu sair a campo para mapear, em imagens e conversas, as reverberações de Rosa na região.
A pesquisa revelou localidades diretamente relacionadas ao universo rosiano, mas que não têm o mesmo prestígio turístico de lugares como Cordisburgo ou Andrequicé. É o caso das veredas e fazendas onde nasceu e morreu Diadorim, personagem central do livro e eixo narrativo do filme. Tal território é essencial para mostrar parte do sertão conhecido de Rosa, mas acabou à sombra nos roteiros turísticos mais consagrados.
“Diadorim carrega uma aura enigmática, misteriosa e pouco explorada”, ressalta Paulo Júnior. “Existem elementos na história relacionados a Diadorim que nos pareciam menos falados, mas muito interessantes, como seu batismo em Itacambira e a infância na Fazenda dos Porcos. Isso nos fez escolher Diadorim como fio condutor da narrativa”, acrescenta.
Paulo, no entanto, pondera que “Gerais da pedra” não é uma adaptação de “Grande sertão: Veredas”. “A gente procurou desvincular um pouco o filme do livro. O documentário não é só para leitores do livro. Evidentemente, quem leu vai se identificar com algumas coisas interessantes, mas quem não leu vai assistir a um documentário de viagem, de descoberta e de conversas, como qualquer outro”, diz.
No trajeto percorrido pelos cineastas, a dupla de personagens Riobaldo e Diadorim emerge como mito popular entre os moradores das cidades e vilarejos do caminho. Os moradores locais, contudo, não enxergam a dupla como protagonistas de um livro, mas como se fossem parte do cotidiano do lugar.
A jornada pelas veredas durou quatro semanas, com filmagens diárias, divididas em três atos – morte, amor e nascimento – e um epílogo. O filme foi montado seguindo a ordem cronológica da viagem, de modo que cada personagem aparece apenas uma vez, reforçando o sentido de travessia.
“‘Gerais da pedra’ foi um exercício de trazer a literatura de Rosa para a rua, uma espécie de leitura em voz alta do livro, mediada por conversas, olhares e encontros. Foi um aprendizado saboroso, capaz de devolver o prazer de estar na estrada e de ouvir histórias sem pressa, respeitando o ritmo do outro”, conclui o diretor.
"GERAIS DA PEDRA"
(Brasil, 2022, 90 min, de Diego Zanotti, Gabriel Oliveira e Paulo Júnior). Exibição nesta sexta-feira (4/7), às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Após a sessão, bate-papo com os diretores. Entrada franca.
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