Exposição no CCBB-BH revela a Amazônia sob o olhar feminino
Mostra 'Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará', que vai até 28 de julho, destaca imagens registradas por mulheres desde os anos 1980
compartilhe
Siga noEm um dos quadros, mulheres indígenas estão alinhadas com o peito nu e o rosto pintado de vermelho. Cordas brancas a tiracolo atravessam os corpos, enquanto pulseiras adornam braços. Elas participam de uma espécie de ritual, e o azul que domina a fotografia remete ao mistério e ao sagrado.
Não muito longe dali, outra imagem: canoa vazia repousa à beira do rio, à espera da entrada de uma moça. Dela, veem-se apenas as panturrilhas e a barra da saia erguida. O preto e branco da foto evoca o passado que ainda pulsa nas cidades ribeirinhas do Pará.
Leia Mais
As imagens registradas por Renata Aguiar e Leila Jinkings, respectivamente, integram a exposição “Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará”, em cartaz nas galerias do terceiro andar e no pátio do CCBB-BH a partir desta quarta-feira (4/6).
Com curadoria de Sissa Aneleh, fundadora e diretora do Museu das Mulheres (instituição de modelo híbrido, sem sede física), a exposição apresenta um panorama dos vetores culturais, artísticos e territoriais que atravessam a produção fotográfica de mulheres no Norte do Brasil, especialmente no Pará.
Reunindo cerca de 170 obras – entre fotografias, fotonovelas, jornais artísticos, vídeos e áudios – assinadas por 11 fotógrafas, a mostra reafirma a vocação fotográfica do estado, com ênfase no protagonismo feminino.
Jurema
“Vetores-Vertentes” contempla imagens produzidas desde 1980. Nesse recorte de 45 anos, o público é convidado a mergulhar na visualidade mágica da Amazônia, marcada pela cosmovisão dos povos nativos.
“Tem, por exemplo, as obras de Eva Moura, que personificou Jurema”, diz Sissa, referindo-se ao espírito que representa a força da natureza e da espiritualidade indígena.
“A exposição também conta com temáticas voltadas para as humanidades locais. São fotografias de mulheres representativas da melhor idade, cantoras e herdeiras que trazem a sabedoria ancestral na manipulação das ervas”, acrescenta a curadora.
Olhar de Leila Leila Jinkings remete ao passado e ao presente de comunidades ribeirinhas
Além de Leila Jinkings, Renata Aguiar e Eva Moura, participam da mostra Cláudia Leão, Bárbara Freire, Paula Sampaio, Walda Marques, Nailana Thiely, Nay Jinknss, Deia Lima e Jacy Santos.
Algumas são pioneiras em determinados temas, como Walda Marques, que mescla fotografia documental e arte conceitual para retratar a identidade, memória e religiosidade da Amazônia. Ou Renata Aguiar, que aborda a representatividade LGBTQIA+ entre os povos amazônicos.
“Queremos mostrar que existe uma estética e uma autonomia das fotógrafas. Existe o foco temático delas”, ressalta Sissa.
“Os homens (fotógrafos do Pará) foram reconhecidos primeiramente. Houve certo favoritismo por eles. Mas, agora, as mulheres estão sendo reconhecidas. Isso vem por intermédio das historiadoras, curadoras, pesquisadoras e artistas. Elas estão reunidas para mostrar que temos mais de uma geração feminina com tradição na fotografia”, conclui.
“VETORES-VERTENTES: FOTÓGRAFAS DO PARÁ”
Mostra coletiva de fotografia, nas galerias do terceiro andar e no pátio do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Desta quarta-feira (4/6) a 28 de julho. O espaço funciona de quarta a segunda-feira, das 10h às 22h. Entrada franca, com retirada de ingressos na bilheteria ou no site ccbb.com.br/bh. Informações: (31) 3431-9400.