"A direita se organiza para impedir avanços", diz Marina Lima
Cantora que faz show nesta sexta (30/5) em BH fala sobre a recuperação da voz, política, redes sociais e as saudades do irmão e parceiro Antonio Cicero
compartilhe
Siga noA cantora Marina Lima sobe ao palco do Palácio das Artes nesta sexta-feira (30/9) para apresentar o show “Rota 69”. Aos 69 anos – conforme o título da turnê indica – a artista celebra uma fase de reconexão com o público jovem.
Leia Mais
Na entrevista a seguir ao Estado de Minas, ela fala sobre sua presença nas redes sociais, a carreira e a histórica parceria com o irmão Antonio Cicero (1945-2024).
Você tem se conectado com gerações mais jovens e conquistado um novo público, mesmo sem um grande lançamento recente. Seu último disco é de 2018, mas, nos últimos anos, sua presença cresceu muito. Você esperava esse movimento?
Não é que eu esperasse, é que, pra mim, eu nunca saí daqui. O estado de espírito das canções, o que elas transmitem, o que elas invocam, isso é o que importa. Eu falo do universo que me interessa desde o início. Pode ser que agora tenha outras coisas mais profundas, sim.
Mas esse estado de espírito de querer buscar liberdade, de conquistar mais sabedoria, está nas minhas músicas desde sempre. E é sobre isso que as novas gerações querem saber. As coisas têm batido, tem ficado tudo sintonizado.
Nas redes sociais, especialmente no X, você é muito ativa e próxima dos fãs. É você mesma quem responde ou há uma equipe por trás?
No X sou eu. Quando me mudei para São Paulo, há 15 anos, a primeira rede que criei foi o X. Fiz amigos ali que tenho até hoje. Uso como se fosse um jornal, para consumir informação. Sigo muitos jornalistas. Gosto de saber o que está acontecendo. Não é a imagem que importa, mas sim a mensagem.
E mensagens curtas. Gosto disso. É o tipo de diálogo que tenho quando estou on-line. Bate-bola. Mas agora o Twitter piorou, assim como tudo piorou. Tudo caiu, o nível caiu.
O que exatamente caiu e piorou?
O mundo. A pobreza, as guerras. Tem um lado, o meu lado, ligado a buscar liberdade, a permitir que as mulheres mudem seu lugar no trabalho, os pretos, os gays. A gente vem conquistando isso aos poucos. Mas a direita do mundo passa o tempo inteiro se organizando.
E a direita não tem nenhuma ideia, a ideia dela é impedir os avanços. Eles se organizam para impedir as coisas. Estamos vivendo o auge disso agora: Trump, Netanyahu, Milei... São pessoas capitalistas que só pensam em dinheiro, não têm empatia, a vida não tem importância nenhuma. Então, a vida piora.
Você vê com bons olhos a nova geração do pop e da MPB?
Sempre vejo com bons olhos as novas gerações. Vou fazer 70 anos este ano [em 17 de setembro] e uma coisa importante que a nova geração me trouxe foi uma consciência da minha bunda. Isso para mim é importante. Sou brasileira, sempre tive bunda grande, mas não era o meu ideal.
As roupas que eu usava eram pra passar batido, não era algo que eu queria evidenciar. Esse movimento mundial de liberação das bundas me libertou. Agora gosto da minha bunda. Tenho um certo orgulho dela.
Como está sua relação com o trabalho hoje?
É uma relação vital. O tempo vai passando e, como tenho boa saúde, vejo que tem muitas pessoas interessadas nas coisas que eu tenho a dizer – e gosto de me colocar. Estou aproveitando para espalhar tudo em que acredito. Como tem tanta gente disposta a ouvir, eu tenho que dizer.
Tô animada, tenho muitos shows pela frente. Minha voz estabilizou de novo, graças a Deus. Voltou com tudo. Tenho muitos estímulos que me animam com a carreira. Desde que meu novo empresário, Candé, entrou, meu trabalho está sendo melhor direcionado, indo pro lugar certo.
Muito se fala sobre os problemas na sua voz, surgidos no final dos anos 1990, que geraram seu afastamento dos palcos e afetaram sua saúde mental. Como tem sido hoje a sua rotina de cuidados?
Acho que cada um passa pela história que tem que passar. Quando briguei com a minha voz, eu estava muito infeliz no meu trabalho também. Eu não queria que tudo fosse esperado só de mim. Eu queria trilhar o meu caminho no meu tempo. Era muita demanda de tudo.
Briguei com isso. Falei: não dá pra mim. Então fui devagar, colocando tudo em ordem, do meu jeito. Tudo aconteceu para que eu estivesse pronta agora, aos 70, pra dar o meu melhor. Sou virginiana, superdisciplinada. Acordo de manhã, malho, faço exercício de violão, guitarra e voz, me alimento bem e leio antes de dormir.
O que você tem lido ultimamente?
Um livro superinteressante que me indicaram no X, chamado “A trama das árvores” [Richard Powers]. Me interesso muito por essas questões primordiais: por que estamos aqui? O que é felicidade? O que é justiça? O que é o amor?
Você se emocionou bastante nas primeiras vezes que cantou “Fullgás” ao vivo no final de 2024. Como se sente hoje ao interpretar as músicas feitas em parceria com Antonio Cicero, que compõem grande parte do seu repertório?
Um lugar onde ainda dói é a saudade física, porque não vou mais estar com ele. Fora isso, sinto que a missão foi cumprida. O trabalho do Cicero joga o sarrafo lá no alto. Até a maneira como ele se despediu foi assim, sem pieguice, sem fraqueza. Ele sempre foi coerente com o que acreditava.
Sinto uma emoção e um orgulho enorme de ter sido irmã do Cicero e a maior parceira dele. Criamos juntos 200 canções maravilhosas. Agora, preciso viver a vida que me cabe e vou fazer isso à altura do nosso DNA.
MARINA LIMA
No show “Rota 69”, nesta sexta-feira (30/5), às 21h, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 - Centro). Ingressos à venda na bilheteria e no Eventim. Plateia I: R$ 320; Plateia II: R$ 280 e Plateia Superior: R$ 140 (inteira).