'Karatê Kid: lendas' diverte, mas sem se aprofundar nos personagens
Quarenta anos depois do filme original, Daniel Larusso e Sr. Han se unem para treinar o novo pupilo Li Fong para vencer um campeonato
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No clássico “Karatê Kid – A hora da verdade” (1984), Daniel Larusso (Ralph Macchio) conquistou o público mundial como um garoto recém-chegado em Reseda, na Califórnia, que encontra apoio aprendendo karatê no dojô do Sr. Miyagi, interpretado por Pat Morita (1932-2005).
De modo similar, em “Karatê Kid” (2010), Dre (Jaden Smith) se muda dos EUA para a China, e, em meio às disputas com crianças locais, aprende kung fu com o mestre Sr. Han (Jackie Chan) para vencer um campeonato.
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Quarenta anos depois, Daniel e Sr. Han se unem para treinar um novo pupilo, Li Fong (Ben Wang), em “Karatê Kid: lendas”, em cartaz nos cinemas de Belo Horizonte. A primeira cena foi retirada da continuação do filme original, de 1986, e ilustra que um dos ancestrais do Sr. Miyagi aprendeu a lutar na China com a família Han e uniu os estilos de artes marciais para criar seu dojô.
Na trama dos dias atuais, a sinopse do filme é quase idêntica à dos outros. Li se muda de Pequim, na China, para Nova York, contra sua vontade. Lá, faz amizade com Mia (Sadie Stanley), que trabalha em uma pizzaria perto de sua casa. Ela é ex-namorada de Connor (Aramis Knight), valentão e estrela do dojô Demolição, o novo Cobra Kai, onde a violência extrema é o objetivo final.
Connor não fica satisfeito com o novo amigo de Mia e quer brigar com Li de imediato. A superficialidade e o exagero no desejo por conflitos dos antagonistas são uma dificuldade do filme.
Nos longas de 1984 e 2010, que servem de inspiração para este, a dinâmica do herói contra vilão é rígida. Os antagonistas são raivosos e mal amados, enquanto o personagem principal é moralista e consciente.
Esse tipo de distinção fez sucesso, mas está datado em produções atuais. Figuras ambíguas ou que, pelo menos, tenham motivações justificáveis para sua sede de vingança, tornam o roteiro e as disputas entre os personagens mais interessantes para o público.
No caso de Connor, ele é logo apresentado como uma máquina de combate e segue retratado como um garoto briguento incapaz de ser controlado. A personalidade dele, e até mesmo de seu mestre, não são aprofundadas e nenhuma outra informação sobre eles é fornecida.
Com papel de destaque na narrativa, a superficialidade de Connor o torna quase uma sombra na tela. Assustador e à espreita, mas nunca perceptível.
Trauma
O que diferencia Li dos outros protagonistas é que ele já sabe lutar kung fu, mas é impedido por um trauma. Ele viu o irmão morrer na sua frente em uma briga na China, após o mais velho vencer um campeonato. Depois do crime, o protagonista não consegue reagir em situações de perigo, além de ser desencorajado pela mãe a voltar a praticar artes marciais.
O peso da morte do irmão deveria introduzir um dilema moral na vida de Li e freá-lo de participar de disputas fúteis nas ruas. No entanto, ao mesmo tempo que o fato é sempre reiterado na trama, ele parece ser igualmente ignorado, já que o protagonista entra em lutas voluntariamente e com frequência.
As dificuldades do roteiro, assinado por Rob Lieber, são agravadas pela duração do longa que, com pouco mais de 90 minutos, se consagra como o menor filme da franquia “Karatê Kid”. No entanto, quem se beneficia da velocidade da história é a montagem. Com muitos cortes, cenas paralelas e colagens, a produção ganha um tom divertido.
O cenário hiperurbano de Nova York é capturado com habilidade e se integra ao novo estilo adotado pela narrativa, que descarta os ambientes tranquilos dos filmes anteriores. Tomadas dos arranha-céus e das ruas cheias da cidade grande, preenchem a tela com uma trilha sonora influenciada pelo rock e pelo pop moderno.
As cenas de luta são igualmente eletrizantes, um mérito do diretor Jonathan Entwistle, que, conhecido por séries adolescentes como “I am not okay with this” (2020) e “The end of the f***ing world” (2017), ilumina uma nova face do seu trabalho.
Soco de Bruce Lee
Li é um garoto pequeno que luta com agilidade. Os conflitos equilibram movimentos fugazes com golpes intensos e de forte impacto, como o famoso soco de uma polegada, popularizado por Bruce Lee (1940-1973). Além disso, os confrontos ganham um visual renovado com adição de animações e elementos semelhantes a videogames de luta.
“Karatê Kid: lendas” pode ser uma boa diversão para a família e para os fãs dos filmes originais em busca de nostalgia. No entanto, a falta de aprofundamento nos personagens, novos e antigos, dificulta que o espectador se importe com o desfecho da narrativa e impede que o longa alcance a supremacia esperada de uma produção que une figuras emblemáticas.
“KARATÊ KID: LENDAS”
(EUA, 2025, 1h34min). Direção: Jonathan Entwistle. Com Ben Wang, Jackie Chan e Ralph Macchio. Em cartaz em salas das redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco