ARTES CÊNICAS

Montagem premiada de 'Vestido de noiva' faz curta temporada no Marília

Com apresentações gratuitas neste sábado (26/4) e domingo (27/4), peça dirigida por Ione de Medeiros integra programação comemorativa dos 60 anos do teatro

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No dia em que recebeu a notícia de que havia conquistado o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de Melhor Direção por “Vestido de noiva”, em 29 de janeiro do ano passado, a diretora mineira Ione de Medeiros realizava a centésima montagem dessa peça de Nelson Rodrigues.

“Fiquei muito feliz em receber esse prêmio, obviamente. Mas, pela minha idade – estou com 82 anos –, isso não me alterou. Se eu fosse mais jovem, provavelmente ficaria me cobrando para ganhar outro prêmio. E a arte não é sobre prêmios, é sobre investigação, experiência e liberdade”, afirma Ione.

O APCA não chancelou o trabalho de Ione e da companhia de teatro que ela dirige desde 1983, o Grupo Oficcina Multimédia – o trabalho deles ao longo de 45 anos fala por si só. No entanto, a premiação serviu como reconhecimento das inovações propostas para uma peça montada desde 1943, e que é considerada um marco do teatro moderno brasileiro por romper com o naturalismo clássico e adotar o fluxo de consciência como forma de investigar a psique humana.

Essa montagem de “Vestido de noiva” faz curta temporada gratuita neste sábado (26/4) e domingo (27/4) no Teatro Marília. A apresentação integra a programação comemorativa dos 60 anos do teatro, que contará também com a exposição “Teatro em construção: o Marília nos seus primeiros 20 anos”, e a exibição, nesta sexta-feira (25/4), às 20h, do curta-metragem “O legado de Dona Naná”, de Mirela Persichini, que conta a história de Naná, camareira que dedicou mais de 30 anos de trabalho ao Teatro Marília.

‘Crime e castigo’

Reza a lenda que Nelson Rodrigues escreveu “Vestido de noiva” após ler “Crime e castigo”, de Dostoiévski, o que explica o forte conflito moral e a carga de culpa carregados pela protagonista Alaíde (personagem interpretada por Camila Felix e Priscila Natany), semelhantes aos de Raskólnikov.

Contudo, ao contrário do clássico da literatura russa, a peça de Nelson Rodrigues não é linear. “Vestido de noiva” se desenrola em três camadas de realidade: a “realidade objetiva”, o mundo real, onde Alaíde está em coma após um acidente; a “realidade subjetiva”, que são os sonhos e delírios dela; e a “realidade imaginária”, que traz as memórias e os desejos inconscientes da protagonista.

A partir dessas três camadas, a trama vai se desenrolando e, em alguns momentos, se confundindo. A única certeza que o espectador tem é que Alaíde sofreu um acidente e que vivia um triângulo amoroso – nada harmonioso – com a irmã Lúcia e Pedro. A rivalidade entre as duas é intensa, e chega a ponto de Alaíde cogitar a morte da irmã.

É aqui que a história transita pelas três camadas de realidade. Grande parte da peça se passa dentro da mente de Alaíde. As memórias se distorcem, figuras do seu convívio reaparecem em diferentes papéis e a obsessão pelo vestido de noiva se torna uma constante.

Não há um desfecho clássico. O espectador fica sem saber se Alaíde vai despertar. Tampouco há certeza sobre se ela matou Lúcia ou se tudo não passou de um delírio ou imaginação.

“É uma dramaturgia muito bem feita, com personagens muito bem elaborados e um roteiro bem brasileiro, que fala de nossa realidade”, afirma Ione. “Então, eu quis dar um tratamento que fizesse mais sentido para mim. Não trabalho os três planos em espaços geográficos diferentes. O que muda é o que está acontecendo. Porque nós também vivemos nesses três planos: memória, realidade e alucinação. Estamos sempre contando algo que já aconteceu, vivendo a realidade do dia a dia e sonhando com coisas que estão lá na frente”, explica.

“Vestido de noiva” não foi a primeira peça escrita por Nelson Rodrigues – ele estreou na dramaturgia com “A mulher sem pecado”, em 1941 –, mas foi o primeiro grande sucesso. A partir daí, ele começou a trabalhar mais com fluxo de consciência e fragmentação, explorando as vozes, ecos e contrapontos, como faria em “Boca de Ouro” (1957) e “Beijo no asfalto” (1960), sem descartar a hipocrisia social e o desmoronamento das estruturas da família tradicional carioca. “Nas peças de Nelson Rodrigues, ninguém é feliz, né? Ele não era muito chegado à felicidade”, brinca Ione.

"VESTIDO DE NOIVA"

De Nelson Rodrigues. Com Grupo Oficcina Multimédia. Direção de Ione de Medeiros. Neste sábado (26/4), às 20h; domingo, às 19h, no Teatro Marília (Av. Prof. Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia).Entrada franca, mediante retirada antecipada de ingressos no site Sympla ou bilheteria do teatro. Informações: (31) 3277-6319.

OUTROS ESPETÁCULOS

• SAMBA CHULA FILHOS DE OYÒ

Os baianos do Samba Chula Filhos de Oyò desembarcam em Belo Horizonte para apresentar o show “Vivenciado tradições”, nesta sexta-feira (25/4), às 20h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). No sábado, às 10h, os artistas do grupo ministram a oficina “Samba de roda e samba de Chula”. Show e oficina têm entrada franca.

• WOODSTOCK BEAGÁ

Saudosistas e entusiastas do icônico Woodstock podem se animar. Neste sábado (26/4), entre 14h e 22h, será realizado o Festival Woodstock Beagá, na Praça JK, no Bairro Sion. Estão confirmados shows de Lurex, U2 Latin American Tribute e Big Ones. O evento contará com praça de alimentação e espaço com fliperamas, mesas de sinuca, feira de vinis e quadros de rock, e flash tattoo. Entrada franca.

WILSON DIAS

O violeiro e cantador Wilson Dias apresenta o show “- 60 +”, nesta sexta-feira (25/4), às 20h, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). O repertório repassa os 60 anos da carreira de Wilson Dias. Na ocasião, ele também vai apresentar a canção inédita “Maria do manto”, composta em parceria com Thales Martinez. Ingressos à venda por R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia), na bilheteria ou pelo site do Eventim. Informações: (31) 3236-7400.

QUINTAL DO MEMORIAL

Intervenções circenses, oficinas de brinquedo e apresentações musicais estão na programação do Quintal do Memorial deste domingo (27/4). As atividades serão realizadas gratuitamente na Praça da Liberdade, das 10h às 16h. Estão confirmadas a trupe Casa Circo Gamarra, Grupo Artilharia Cênica, Orquestra Mineira de Brega, entre outras atrações.

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