
Estamos prontos para a nova era da interação com computadores?
Ambição de Sam Altman e Jony Ive sinaliza início de uma revolução: seria o fim da supremacia das telas na nossa relação com a tecnologia?
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A recente aquisição da startup IO, de Jony Ive, pela OpenAI, criada por Sam Altman, é muito mais do que uma transação bilionária. O maior designer de produtos da era digital volta à cena, agora no concorrido ecossistema de inteligência artificial, e sinaliza um ponto de inflexão na história da tecnologia. Por décadas, nossa relação com os computadores foi mediada por telas: do monitor de tubo ao smartphone, tudo passou pelo toque, pelo olhar fixo e pela digitação. Mas e se estivermos prestes a viver uma ruptura tão grande quanto a popularização do próprio computador pessoal?
A inteligência artificial avançou mais em cinco anos do que em cinco décadas. Softwares que antes só automatizavam tarefas agora criam, dialogam, antecipam desejos. O hardware, porém, ficou para trás: os smartphones evoluíram, mas de forma incremental. O iPhone, que completa 18 anos em 2025, já atingiu sua maioridade e, com ela, a estagnação criativa. Ano após ano, as novidades são cada vez mais sutis. O mundo mudou, mas seguimos presos a uma tela.
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Jony Ive, gênio por trás do design de ícones como iMac, iPod e o próprio iPhone, entende como poucos a arte de criar objetos de desejo. Sua visão agora se une à ambição de Altman: criar um novo paradigma, no qual a IA não dependa de telas, prompts ou digitação. A proposta parece ousada, mas talvez inevitável. Afinal, há quanto tempo convivemos com computadores baseados em telas? Desde os anos 1970, a interface visual domina, mesmo com dispositivos cada vez menores e mais portáteis.
Enquanto isso, wearables ganham espaço no pulso, no bolso e até no rosto. A realidade aumentada e a computação espacial prometem dissolver as fronteiras entre o físico e o digital, tornando a tecnologia mais invisível, mais fluida. Assistentes de voz estão mais inteligentes, capazes de entender contexto, emoção e intenção. Mas acessar a IA por meio de telas e prompts digitados já parece um anacronismo em 2025.
No entanto, diante da promessa de uma IA cada vez mais orgânica, surgem questões críticas: estamos preparados para abrir mão do controle sobre quando e como a inteligência artificial nos observa, escuta e interpreta? O uso de IA “invisível” pode facilitar a coleta e o processamento de dados pessoais sem consentimento explícito, ampliando riscos de privacidade, vigilância e até discriminação algorítmica. A possibilidade de “ligar ou desligar” a IA, ou mesmo autorizar seu uso no cotidiano, pode se tornar cada vez menos transparente à medida que a tecnologia se integra de forma ubíqua e automatizada.
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Mesmo os fãs de Jony Ive devem ficar atentos aos riscos dessa revolução. Estaríamos prontos para uma relação com a tecnologia em que a agência individual e o direito à privacidade não sejam apenas opcionais, mas garantidos por design? Ou corremos o risco de trocar a dependência da tela por uma dependência ainda maior de sistemas que operam nos bastidores, muitas vezes fora do nosso alcance e compreensão? O futuro pós-tela parece fascinante, mas só valerá a pena se vier acompanhado de escolhas que não sejam orientadas apenas ao lucro, mas que considerem também a ética e o respeito à autonomia de cada pessoa e da coletividade.
Ive e Altman vislumbram lançar o primeiro dispositivo fruto desta colaboração em 2026. Aguardemos, de olhos bem abertos.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.