Agora, que já entramos para o segundo tempo, com a consciência da escassez da nossa existência, é preciso jogar melhor -  (crédito: Pixabay)

Agora, que já entramos para o segundo tempo, com a consciência da escassez da nossa existência, é preciso jogar melhor

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Se nossa vida fosse uma partida de futebol, para nós, que já passamos dos 40 e tantos, poderíamos dizer que já jogamos o primeiro tempo. Nesse primeiro tempo, não raro, desperdiçamos nossas horas com muitas coisas inúteis e que não nos serviram para qualquer aprendizado. Foram momentos que não voltam mais, consumidos com preocupações que, quando olhadas retrospectivamente, não eram tão importantes como achávamos.
 

 

 
Na primeira etapa do jogo da vida, estávamos preocupados demais com o que os outros pensavam a nosso respeito e achávamos que qualquer preço era baixo, desde que tivéssemos, ainda que ilusoriamente, a sensação de sermos amados. Deixamos que o olhar dos outros se tornasse nossa fonte segura de conhecimento sobre nós mesmos, nos esquecendo que é nossa a tarefa de saber quem somos, do que gostamos e sobre aquilo que realmente nos é importante.
 

 

 
No primeiro tempo, com a sensação de imortalidade, natural dos jovens, jogamos distraídos, gastando nossa energia com atividades que não nos traziam muito senso de propósito. Agora, que já entramos para o segundo tempo, com a consciência da escassez da nossa existência, é preciso jogar melhor; e nos dedicarmos àquilo que realmente faz com que nossas vidas tenham um sentido do qual nos orgulharemos quando estivermos perto do apito final.
 

Temos a maturidade como grande aliada nesse segundo tempo; e passamos a compreender que o tempo não é apenas uma sequência de eventos rotineiros, mas sim, o horizonte no qual a nossa vida nasce, acontece e se extingue. Como nos lembra Heidegger, a consciência de que a vida se extingue, é um convite diário para que vivamos nossas existências de modo autêntico. Isso significa nos apropriarmos de nossas próprias escolhas, de estarmos conscientes de quem somos e de agirmos de acordo com esses entendimentos.
 
No início do jogo da vida, não é incomum nos guiarmos por aquilo que Heidegger chamou de inautenticidade, tendo nossas vidas orientadas por aquilo que os outros esperavam de nós ou pelas convenções sociais. Isso não é mais recomendável no segundo tempo, pois, além de dar um trabalho imenso, pode nos conduzir a uma sensação de fracasso existencial, numa situação em que não satisfazemos nem aos outros nem a nós mesmos. 

É no segundo tempo que temos a oportunidade de redefinir nossas prioridades, nos desfazendo de tudo aquilo que, se algum dia já foi importante, hoje não é mais. Levar do passado apenas o aprendizado, deixar para trás as dores, os medos e as inseguranças que nos paralisaram tantas vezes. É preciso jogar mais leve, mas com sabedoria, porque se é muito mais confiante das capacidades do jogador! É agora que temos o dever de não simplesmente seguir o fluxo, mas de alinharmos nossas vidas segundo o nosso próprio entendimento.

O apito final virá, isso é próprio da natureza da vida! Mas quando ele vier, que nos encontre não apenas existindo, mas vivendo de forma genuína, conscientes de que no segundo tempo jogamos com mais propósito, com mais coragem, e de acordo com aquilo de mais profundo que existe em cada um de nós: nossa autenticidade!