
Prevenção de quedas em idosos: o tornozelo como guardião do equilíbrio
Cair pode parecer um evento banal para os mais jovens, mas no idoso uma queda tem consequências que vão muito além do impacto físico
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O envelhecimento é uma conquista da humanidade. Vivemos mais, temos acesso a melhores condições de saúde e alcançamos idades que, há poucas décadas, pareciam inalcançáveis. Porém, junto com a longevidade vêm desafios importantes, e um deles se destaca de forma alarmante: as quedas em idosos.
Cair pode parecer um evento banal para os mais jovens, mas no idoso uma queda tem consequências que vão muito além do impacto físico. Ela pode significar fraturas graves, perda de independência, hospitalizações prolongadas e até mesmo aumento do risco de mortalidade. Por isso, prevenir quedas é uma prioridade em saúde pública, e o tornozelo — essa articulação muitas vezes esquecida — ocupa um papel central nessa missão.
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A dimensão do problema
Estima-se que cerca de 30% dos idosos acima de 65 anos sofrem ao menos uma queda por ano. Entre aqueles com mais de 80 anos, esse índice pode ultrapassar 50%. As consequências vão desde escoriações leves até fraturas de quadril, que exigem cirurgia e comprometem drasticamente a qualidade de vida.
Além das sequelas físicas, existe o impacto psicológico: muitos idosos desenvolvem o chamado “medo de cair”, que leva à restrição de atividades, isolamento social e perda acelerada de autonomia. O ciclo é perverso: ao reduzir movimento, a musculatura enfraquece, o equilíbrio piora e o risco de queda aumenta ainda mais.
O equilíbrio como um sistema integrado
Para entendermos o papel do tornozelo na prevenção de quedas, é preciso lembrar que o equilíbrio depende de três sistemas principais:
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Sistema visual – fornece informações sobre o ambiente.
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Sistema vestibular – localizado no ouvido interno, orienta sobre posição e movimento da cabeça.
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Sistema proprioceptivo e musculoesquelético – sensores nos músculos, tendões e articulações informam ao cérebro a posição do corpo no espaço e ajustam as respostas motoras.
É nesse terceiro pilar que o tornozelo ganha protagonismo.
Tornozelo: a base da estabilidade
A cada passo, o tornozelo realiza ajustes sutis para manter o corpo ereto. Imagine-o como um “volante” que corrige pequenos desvios: se o corpo pende para frente, a musculatura posterior reage; se vai para trás, os músculos anteriores entram em ação. Esse mecanismo é conhecido como estratégia do tornozelo e é a primeira linha de defesa contra desequilíbrios.
Quando o tornozelo perde força, mobilidade ou sensibilidade, o corpo precisa recorrer a estratégias compensatórias, como mover o quadril de forma brusca ou até dar passos adicionais. Essas respostas são mais lentas e menos eficazes, aumentando a chance de quedas.
O envelhecimento e suas consequências no tornozelo
O processo natural de envelhecimento afeta diretamente a função do tornozelo:
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Perda de massa muscular (sarcopenia): reduz a força dos músculos peroneais, tibial anterior e gastrocnêmio, fundamentais para correção de desequilíbrios.
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Redução da mobilidade articular: a rigidez limita a capacidade de adaptação a terrenos irregulares.
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Diminuição da sensibilidade plantar: neuropatias periféricas (muito comuns em diabéticos, por exemplo) reduzem a propriocepção.
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Lentificação neuromotora: a resposta aos estímulos torna-se mais demorada, atrasando reações corretivas.
Somados, esses fatores fragilizam a “estratégia do tornozelo” e tornam o idoso mais vulnerável a quedas.
O papel do fortalecimento muscular
O fortalecimento específico da musculatura do tornozelo é um dos pilares na prevenção de quedas. Ao trabalhar força e resistência, o idoso melhora a capacidade de reagir a perturbações do equilíbrio.
Alguns exercícios eficazes incluem:
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Elevação na ponta dos pés (fortalece panturrilhas).
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Elevação do pé com calcanhar no chão (fortalece o tibial anterior).
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Exercícios com faixa elástica (trabalham inversão e eversão do pé).
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Marcha em superfícies instáveis (areia, colchonetes) para recrutar propriocepção.
O ideal é que esses exercícios façam parte de programas regulares de fisioterapia ou atividades supervisionadas, adaptados à capacidade funcional de cada idoso.
Treino de equilíbrio e propriocepção
Além do fortalecimento, o treino de equilíbrio é fundamental. Ele estimula os receptores sensoriais e melhora a resposta automática do corpo diante de instabilidades.
Algumas práticas incluem:
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Exercícios em apoio unipodal (ficar em pé em uma perna só, com apoio se necessário).
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Uso de pranchas de equilíbrio ou bosu (simulam instabilidade e desafiam a estratégia do tornozelo).
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Tai chi chuan e yoga (comprovadamente eficazes na melhora da estabilidade postural).
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Marcha com obstáculos (estimula adaptação a ambientes reais).
Estudos mostram que programas de equilíbrio podem reduzir em até 30% o risco de quedas em idosos.
O impacto do calçado
Outro ponto muitas vezes negligenciado é o tipo de calçado. Sapatos frouxos, chinelos e saltos aumentam o risco de tropeços. O ideal são calçados firmes, com solado antiderrapante e bom ajuste ao pé, que favoreçam a propriocepção sem limitar excessivamente o movimento.
Estratégias adicionais de prevenção
A prevenção de quedas é multifatorial. Além do fortalecimento do tornozelo, outras medidas devem ser consideradas:
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Adequação do ambiente domiciliar: retirar tapetes soltos, instalar barras de apoio em banheiros, melhorar a iluminação.
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Revisão de medicações: alguns remédios causam tontura ou sonolência, aumentando o risco.
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Avaliação da visão e audição: déficits sensoriais comprometem o equilíbrio.
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Atividade física regular: caminhadas, hidroginástica e pilates ajudam a manter a aptidão geral.
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Atenção à nutrição: dieta rica em proteínas, vitamina D e cálcio fortalece músculos e ossos.
Mensagem final ao leitor: se você tem mais de 60 anos, ou cuida de alguém nessa faixa etária, inclua exercícios simples para tornozelo e equilíbrio no dia a dia. Pequenos gestos, como levantar na ponta dos pés algumas vezes ao dia, podem fazer uma diferença enorme. Afinal, envelhecer com qualidade não é apenas viver mais, mas viver melhor — e com segurança em cada passo.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.