SÉRGIO ABRANCHES
Sérgio Abranches

O excepcionalismo de Donald Trump

A ideologia de Trump é a superada doutrina do excepcionalismo americano da era do Plano Marshall, 1948 to 1952. Ele a requentou e adicionou o ultranacionalismo

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O noticiário sobre o tarifaço de Donald Trump tem se concentrado nos efeitos no mercado de capitais, em Wall Street, e nas importações de grandes empresas. Fala-se do impacto nos preços ao consumidor, inflação e recessão. Olha-se menos para a rua das pessoas comuns, dos pequenos negócios. A rua do capital financeiro é concentrada e poderosa. A rua das pessoas comuns cresce velozmente, sem poder. O encurtamento do mercado de trabalho leva ao autoemprego. Pequenas e microempresas são a fonte crescente da renda das pessoas comuns.

 


Trump disse, na 3a feira, 25, que tem “orgulho de ser o presidente dos trabalhadores, que defende Main Street, não Wall Street”. É só ilusão. Ele recuou, quando Wall Street deu sinais de pânico. Mas não tem ouvidos para os gemidos da rua das pessoas comuns. É pura demagogia populista.

 

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O “Financial Times” traz uma história que ilustra bem o desprezo de Trump pela rua dos comuns. Em um distrito comercial, de pequenas lojas, próximo à estátua da Liberdade e a Wall Street, as tarifas atingiram os pequenos como mísseis demolidores. Pessoas como Joy Ghigliotti. Ela é dona de uma simpática lojinha chamada Hypno-Tronic Comics, algo como Quadrinhos Hipnotrônicos. Ela tem as prateleiras cheias, mas nenhum cliente. Joy diz que muitas de suas Graphic Novels, HQs, são impressas no Canadá. Ela também vende brinquedos relacionados aos quadrinhos, importados da China. Ela já está pagando entre 10% e 15% a mais do que havia planejado e parou de renovar os Quadrinhos. Ela vê o tarifaço de Trump como “uma ameaça existencial para grande quantidade de negócios”.


Wall Street é o endereço da oligarquia financeira, dos “donos do mundo”, como se veem muitos de seus operadores. Quebrou-se a confiança dos grandes investidores no dólar e nos títulos da dívida americana, sempre considerados pelos investidores como os ativos preferenciais de segurança (safe heavens) em momentos de grande volatilidade e risco muito alto. A fuga dos Treasury Bonds e a busca de ativos mais seguros como o ouro, cujo preço tem crescido exponencialmente, indicam que Wall Street está à beira de um ataque de nervos. Isto é, de uma grave crise.


O presidente do FED, o banco central americano, Jerome Powell declarou que a instituição está pronta para injetar liquidez ao mercado, o que só ocorre em crises financeiras graves. Logo, Trump não defende Main Street e vê a desconfiança em seu governo se quebrar em Wall Street, o setor que contribuiu pesadamente para sua campanha.

 

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Trump também faz estragos nos distritos dos grandes negócios. Um exemplo bastante mencionado é o da Apple, uma das cinco maiores empresas do país, cujo CEO, Tim Cook, estava presente em sua posse. Ela mantém nos Estados Unidos o desenvolvimento dos chips por ela criados, que são fabricados pela TSMC de Taiwan. E desenvolve o design de sua linha de eletrônicos. Os sensores de imagem, componentes da tela e alguns semicondutores, são produzidos pela Sony, no Japão. As telas OLED e os chips de memória, são importados da Coreia do Sul. A China fornece baterias e placas de circuito impresso. Da Alemanha, proveem sensores e componentes ópticos. A montagem de 86% dos iPhones é feita na China e de 14%, na Índia. Internalizar toda a produção dessa cadeia seria impossível e tornaria proibitivos os preços de produtos Apple. A empresa quebraria.

 

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Trump não deduz o tarifaço de nenhum plano econômico consistente. Suas decisões são ideológicas e tomadas por impulso. Daí o comportamento errático, o avança-recua. Por pressão de grandes empresas, como Apple, Google e Nvidia, parece que vai isentar os eletrônicos e suas partes. Mas e todos os setores que dependem de cadeias globais de suprimentos? Seu projeto fracassará e terminará em recessão.


A ideologia de Donald Trump é a superada doutrina do excepcionalismo americano da era do Plano Marshall, 1948 to 1952. Ele a requentou e adicionou o ultranacionalismo autárquico do MAGA, “make America great again”.


O excepcionalismo é a ideia de que os Estados Unidos teriam um papel especial na história e seriam exemplo de liberdade, democracia e progresso No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, ele se assentava na suposta responsabilidade moral dos EUA de liderar o mundo econômica, política e ideologicamente.


Daí a arrogância com que tratou Zelensky e que o leva a esperar uma ligação de Xi Jinping para negociar. Mas, a China, cansada de ser humilhada, anunciou que não cederá a Trump. O telefone do Salão Oval não parece que tocará com uma chamada de Xi.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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