SÉRGIO ABRANCHES
Sérgio Abranches
SÉRGIO ABRANCHES

Trump, o contratador de crises

O Congresso aprovou a proposta orçamentária de Trump para enriquecer ainda mais os super-ricos com US$ 4.5 trilhões de cortes nos impostos

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Governos hiperativos que adotam políticas de escândalo e atitudes fora do padrão da política mediana do país tendem a perder força e apoio, em geral no segundo ano de mandato. Foi o que aconteceu com Bolsonaro e com o próprio Donald Trump, que não conseguiram se reeleger. Trump voltou mais hiperativo e muito distante do padrão político do país. Cresce o número de vozes respeitáveis da opinião especializada dizendo que ele ataca os fundamentos constitucionais da democracia americana.

 



A capa da última edição da The New Yorker traz os “founding fathers”, os fundadores da Constituição americana, desfilando cada um carregando sua caixa de pertences, cena muito comum nos filmes de Hollywood e nas séries das plataformas que indica a demissão.

 



Algumas de suas medidas já começam a sofrer críticas de parlamentares republicanos, especialmente aquelas que afetam diretamente os estados e municípios, como cortes nos programas federais de educação, de saúde e nos subsídios à agricultura. Mas até agora são vozes poucas e cautelosas. Ele ainda tem apoio para sair do normal. Ele perde a maioria se essas vozes virarem votos contra parlamentares que continuarem a apoiar projetos dessa natureza.

 



O Congresso aprovou a proposta orçamentária de Trump para enriquecer ainda mais os super-ricos com US$ 4.5 trilhões de cortes nos impostos. Essa redução tarifária requer cortes de US$ 2.5 trilhões nos programas federais. Para chegar a esse volume terão que alcançar as áreas de maior gasto, que são a seguridade social, o Medicare e o Medicaid, gastos impositivos. Nos discricionários, defesa, educação, transportes e pesquisa científica. A maior fatia vai para os militares. Vai concentrar mais a renda.



Essa política de cortes, arbitrária e sem critério, está sendo comandada de fora por Elon Musk, que se mantém na atividade privada e suas empresas se beneficiam de muitas das decisões do presidente. Os impostos sobre veículos elétricos chineses, beneficiam a Tesla, que é a maior no mercado de carros elétricos. O programa espacial turbinado beneficia diretamente a Space X, que fornecerá os foguetes. Trump tem imunidade, Musk não, e está agindo na franja da lei.

 



Musk tem dado ordens a funcionários do governo, sem ter autoridade formal, apoiado em Trump. A ordem de que funcionários de órgãos sensíveis como o FBI, o Departamento de Estado e o Pentágono revelassem o que fizeram na semana anterior, sob pena de demissão, não foram aceitas pela direção e pelos quadros dessas agências. A direção das agências instruiu os funcionários a não obedecer.  Além disso, disseram que o acesso de Musk às informações ameaçaria a segurança nacional.



Duas dezenas de funcionários do próprio DOGE, a agência “informal” que Musk dirige sem mandato legal, deixaram o emprego por discordarem das ordens sem cobertura legal. É total sua ignorância sobre como funcionam as áreas fundamentais do aparato governamental americano. Trump tem obtido algumas concessões com suas ameaças e já elevou algumas tarifas. No caso da China e da Europa, haverá retaliações. O resultado será um aumento de preços de importados, com impacto inflacionário, e de exportações, reduzindo o volume e a receita dos exportadores americanos.

 

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O efeito-preço já começou. Decisões que desprezam efeitos diretos e indiretos e no tempo tendem a gerar insatisfação e crise. É o que Trump está contratando. Vários dos programas que sofrerão cortes beneficiam estados e municípios, republicanos e democratas. A insatisfação e a oposição de governadores e prefeitos chegarão em Washington e serão um alerta aos parlamentares republicanos.



Na Casa Branca, o impacto será a perda de popularidade. Dependendo da velocidade com que serão aplicados os cortes, podem afetar as eleições de meio de mandato, que renovam toda a Câmara e 34% do Senado, em novembro de 2026. Trump arrisca perder a maioria e ter um governo dividido que pode encorajá-lo a tomar mais medidas fora de sua competência legal e sem respaldo legislativo. Provocará a judicialização de suas decisões.

 



Várias ações fora do escopo legal do mandato presidencial começam a ser contestadas em cortes federais de muitos estados e já houve sentenças declarando sua ilegalidade. Muitas delas ferem preceitos constitucionais e podem chegar à Suprema Corte. A judicialização das decisões de Trump pode gerar uma crise entre Poderes. Ele e seu fiel escudeiro, o vice J. D. Vance, já disseram que sentenças judiciais não podem contrariar decisões presidenciais.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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