
O ser humano não suporta tanta realidade
Há no ar a esperança de que em 2026 talvez tenhamos o fim do ciclo das velhas lideranças populistas que trouxeram o país ao triste lugar onde hoje está
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Tomei emprestado um verso famoso do poeta T.S. Elliot para especular sobre o que poderão dizer os candidatos à Presidência da República aos eleitores brasileiros nas eleições de 2026.
A dificuldade das democracias atuais é a contradição entre desejos sempre aumentados e a limitação do poder e dos recursos dos Estados, o que produz insatisfação e abre caminho para os populismos insensatos. O mundo é como é e não como desejaríamos que fosse. Por isto uma política realista tem que levar em conta que as pessoas reais não estão dispostas a seguir quem lhes oferece apenas o prato frio da verdade e do sacrifício. Ao contrário estão sempre prontas para serem seduzidas pelas ilusões e as soluções mágicas.
Há no ar uma vaga esperança de que em 2026 talvez tenhamos o fim do ciclo das velhas lideranças populistas que trouxeram nosso país ao triste lugar onde hoje está, e que uma nova geração tenha a oportunidade de assumir o comando. Apesar de tudo, muita coisa funciona bem no país. Temos hoje alguns Estados e Prefeituras de grande porte muito bem administrados. Deste universo que está dando certo será possível recrutar novas lideranças e começar uma política nova.
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Com todas as limitações naturais do discurso eleitoral e mesmo atentos à aversão das pessoas às verdades inconvenientes, os candidatos terão que lidar com a herança difícil que vão encontrar. Há muito o que mudar, mas o Estado brasileiro está carente de poderes e de recursos.
Um pouco pelo desenho institucional imperfeito criado pela Constituição e um pouco pela fraqueza de sucessivos governos, criou-se um desequilíbrio perverso entre os poderes da República. O Poder Executivo está se tornando um poder desarmado e dependente, incapaz de exercer na plenitude suas obrigações. O Legislativo e o Judiciário tem invadido as prerrogativas do governo e transformado o Brasil em um lugar em que nada acontece. O governo brasileiro é uma entidade cercada de “nãos” por todos os lados. Qualquer governo para liderar um novo começo para o desenvolvimento do país precisará primeiro de um Pacto Institucional que devolva o equilíbrio entre os Poderes e restaure as capacidades do Poder Executivo.
A outra herança é a questão fiscal. Os impostos no Brasil são muito altos, mesmo assim a receita do governo federal não é suficiente para cobrir as suas despesas. Neste ano de 2025 devemos ter um déficit equivalente a 8,7% do PIB, algo como um trilhão e cem bilhões de reais. Para o ano que vem o déficit projetado será maior ainda, pois nenhuma medida estrutural de ajuste está nos planos do governo.
Em virtude dos déficits sucessivos nossa dívida pública está crescendo em um ritmo insustentável. Ela correspondia a 51% do PIB em 2011, passou para 70% no final do governo Dilma e de 2022 para cá saltou de 71,8% para 79,8% este ano e vai chegar a 84% em 2026. Esta será a dívida que o novo governo herdará.
O crescimento dos déficits produz um falso crescimento de curto prazo. Toda esta imensa expansão fiscal se origina no aumento inexplicável das transferências de renda nos últimos anos. O Bolsa Família, que custava R$40 bilhões em 2015, passou para R$100 bilhões em 2022 e está agora em R$170 bilhões. Outra transferência de renda, o BPC, que atendia um universo pequeno de pessoas, explodiu a partir de 2022. Este ano ele custará 110 bilhões e seguirá crescendo.
O governo alardeia a diminuição do número de brasileiros em situação de pobreza, mas os programas de transferência de renda crescem sem parar. Para coroar tudo isto o déficit da Previdência este ano será de R$ 358 bilhões. São muitos números, mas não há outro modo de mostrar a hemorragia fiscal a serviço de um projeto exclusivo de poder.
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Se não desmontarmos esta lógica populista, caminharemos para um rápido colapso do crédito público e do sistema financeiro. Como dizer isto à população e ainda assim vencer as eleições para evitar o abismo para onde caminha o país?
Nações que sobreviveram na história sempre tiveram um momento em que o improvável aconteceu na hora certa.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.