Roberto Brant
Roberto Brant
O Brasil visto de Minas

A vontade dos homens e a vontade das leis

A democracia e a economia de livre mercado combinadas produziram o período de maior progresso e maior liberdade em toda a história da humanidade

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Num tempo distante em que políticos de Minas eram admirados pela virtude e a sabedoria, o governador Milton Campos, pressionado por seu partido para instrumentalizar o governo em seu benefício político, resistiu dizendo que ao governo dos homens preferia sempre o governo das leis. Na linguagem da política moderna estava dizendo que a força das instituições deveria prevalecer sobre a vontade dos homens.

 


A democracia e a economia de livre mercado combinadas produziram o período de maior progresso e maior liberdade em toda a história da humanidade. Não foi um tempo em que grandes homens faziam a história apenas com a sua vontade. Foi um tempo em que instituições políticas e econômicas impessoais asseguraram um ambiente de segurança jurídica e previsibilidade econômica, no qual empresas e pessoas puderam prosperar e cooperar.

 


Um dos grandes pensadores de nosso tempo, o filósofo austríaco Karl Popper, afirmava que a democracia não tinha o poder de garantir que só os melhores e os mais capazes seriam escolhidos para governar, mas para sobreviver a democracia teria que ter os meios e os instrumentos para impedir que maus governantes pudessem fazer ao país males irremediáveis. Nos Estados Unidos e na Europa esta regra prevaleceu por muito tempo. Aqui na América Latina e também na Ásia as instituições não se desenvolveram com a mesma potência e a maldição dos salvadores da pátria e dos “pais dos pobres” com frequência arruinaram a economia, mataram a liberdade e chegaram a alimentar uma cultura populista que envenenou para sempre alguns países. Isto talvez explique um pouco porque nossos países ficaram para trás.

 

 

Por razões que variam de país a país, o prestígio da democracia liberal em todo o mundo está em recessão. Numa volta a um passado que julgávamos sepultado estamos assistindo ao crescimento das democracias iliberais, não fossem os dois termos tão contraditórios entre si. Estas chamadas democracias têm eleições regulares, mas não há separação dos poderes, nem garantia dos direitos individuais e a lei que prevalece é a vontade do governo. Podem muito bem ser chamadas de ditaduras disfarçadas.


O avanço desses arranjos iliberais parece irrefreável. O caso da vez é nada menos que os Estados Unidos, o grande modelo de democracia resistente ao tempo, na verdade a mais antiga das modernas democracias, que parecia a todos constituída para durar sempre. De repente, sem nenhuma pactuação institucional com o Parlamento ou a Justiça, o presidente converteu-se por iniciativa própria em um verdadeiro monarca absoluto. Governa por ordens executivas, sem consulta ao Congresso ou submissão ao Judiciário, sem nenhuma oposição dos demais Poderes e com a aparente concordância de parcela importante da população. Na contramão da advertência de Popper, está tomando decisões que afetarão irremediavelmente o destino futuro do seu país. As instituições cederam à vontade dos homens e a democracia americana está sendo derrubada sem resistência, tal como foi um dia derrubado o Muro de Berlim, numa suprema ironia da história.

 


Entre nós no Brasil as instituições e as leis nunca tiveram o prestígio que necessitam para serem efetivas. Sofremos da tentação irresistível dos personalismos. Nunca tivemos partidos de verdade, sempre tivemos personalidades. Ainda agora nossa vida política se resume ao confronto entre dois homens praticamente sem ideias, a cujos caprichos todos se curvam. Em um campo está nosso presidente, exercendo seu terceiro mandato e aspirando a um quarto, apesar da idade e do vazio de seu governo, que anunciou candidamente na última terça-feira que o ano de 2027 será o de um desastre fiscal.

 


No outro campo, Bolsonaro, embora inelegível, mantém paralisadas todas as demais possibilidades eleitorais, pela submissão dos possíveis candidatos a uma liderança sem ideias ou projetos de mudanças.
Em todos os campos de atividade nosso país tem homens e mulheres de alto nível, capazes de competir em qualquer lugar do mundo. Por quê só na política falta talento, virtude e mentes criativas? 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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