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Roberto Brant
Roberto Brant
O BRASIL VISTO DE MINAS

Tarifaço de Trump: uma oportunidade que não podemos perder

O mundo confiou demais em que a nação americana era guiada por princípios e que suas instituições seculares eram à prova de aventuras e de riscos existenciais

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Já não resta qualquer dúvida de que as ações do governo dos Estados Unidos, além de expor cruamente as insuspeitas fragilidades das instituições políticas americanas, está demolindo os fundamentos da ordem econômica e política internacional. O mundo confiou demais em que a nação americana era guiada por princípios e que suas instituições seculares eram à prova de aventuras e de riscos existenciais. Agora resta às democracias liberais, inesperadamente órfãs da liderança e da proteção americana, se reagruparem no plano político e no plano econômico, se quiserem preservar seu modo de vida, conquistado com muito sacrifício ao longo da história.

 

Sempre vivemos com a certeza de que a América era o último refúgio possível para as autocracias e agora já não temos certeza de nada. A Europa, o Canadá, a América Latina, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália vão ter que reformar suas instituições políticas para impedir que os inimigos da democracia usem a própria democracia para matá-la. Será preciso que encontremos um limite para a tolerância para que a intolerância não prevaleça. E não permitir que a liberdade seja uma arma contra a liberdade. A democracia é uma conquista diária e nunca estará garantida para sempre. Devemos saber conviver com as autocracias sem nos confundir com elas. 

No plano econômico, os mesmos desafios estão presentes. Os Estados Unidos são uma economia poderosa, até hoje na vanguarda da inovação e da invenção de novas tecnologias. Sua população de alta renda sempre consumiu muito, mantendo uma alta demanda para a produção do resto do mundo com seus mercados abertos, absorvendo quase 15% das importações mundiais.

O súbito fechamento de seu mercado vai provocar um choque nas principais economias do mundo e poderá levar alguns países mais vulneráveis a uma situação crítica. Se o mundo decidir por retaliações, o cenário se tornará caótico, pois o governo americano, ao contrário dos governos realmente democráticos, não tem limites para sua reação e o comércio se tornará uma guerra. 

Há quem diga que o governo Trump não vai durar para sempre. Seus efeitos, no entanto, serão duradouros, pois a quebra de confiança foi dramática e dificilmente será esquecida. Nada pode garantir que outra liderança com os mesmos instintos e os mesmos propósitos não voltará ao poder. Para a próxima geração, pelo menos, os Estados Unidos serão um país a evitar, do modo que for possível.

A reconfiguração da economia e do comércio internacional pode ser uma grande oportunidade para o Brasil. Todos os países atingidos pelas ações unilaterais dos Estados Unidos têm diante de si a alternativa de reagir com retaliações, em um jogo desigual em que o poderio americano tende a prevalecer no final, ou procurar novas alianças e parcerias no plano econômico e comercial, criando áreas de comércio livre que possam com o tempo compensar as perdas com o mercado americano. 

O Brasil tem dimensão econômica e estágio de desenvolvimento, além de recursos naturais sem paralelo, para ser um ator de grande relevo na formação desta nova economia. Para isso, tem que tomar decisões estratégicas, renunciando à sua velha vocação de autossuficiência e abrindo seus mercados, para integrar-se em grandes acordos de comércio com os países agora feridos pela ação americana, na Europa e na Ásia.

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Não podemos ainda ter a certeza de que nossas elites empresariais estão preparadas para este passo, mas se não ousarmos perderemos talvez nossa última oportunidade de ser um grande país.

A grande incógnita, mais uma vez, será a política. Estamos, infelizmente, divididos em quase tudo. De um lado, o ex-presidente Bolsonaro esquece os interesses de Brasil e defende as medidas do presidente dos Estados Unidos, afirmando que ele está apenas protegendo o seu país contra o socialismo. Quanto ao nosso presidente, sua retórica parece querer apenas tirar vantagem da vitimização do Brasil em benefício de sua popularidade. Nenhum dos dois está à altura do momento. Mais uma vez, temos líderes errados na hora errada.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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