
Paradas de estradas trazem experiências que nos libertam da rotina
Quem achar que vai engordar para sempre com um pão na chapa amanteigado ou com um cigarrete é melhor seguir viagem
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Os filmes de estrada, ou road moveis, são narrativas de liberdade onde os personagens passam por paisagens diversas, visitam cidades, estados e descobrem, além de lugares, a si mesmos. O efeito das road foods é o mesmo: paradas de estradas trazem experiências gastronômicas que nos libertam da nossa rotina, dos hábitos cotidianos, da culpa, das supervisões nutricionais e nos reconectam com sabores que gostávamos no passado.
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Nina Horta escreveu numa de suas belas e inteligentes crônicas de gastronomia que beber garapa numa feira de rua com bobs na cabeça seria o máximo da perversidade a que se pode chegar. E depois continua: “mas há outras”. O comentário é ótimo. Exercícios de liberdade na vida e também no comer e beber são fundamentais.
Existem paradas na estrada com excelente cozinha, invariavelmente cheias de clientes que se deliciam com pães de queijo (dos grandes), enormes pastéis de carne ou queijo, cigarretes caprichados – aquela massa comprida dourada com queijo ralado grudado queimadinho e recheado de queijo e presunto –, sanduíches de pão francês com filé e queijo, com pernil e queijo na chapa com aquela casquinha queimada crocante.
Isso sem falar nas empadas, no pão na chapa com manteiga e nas grandes e carnudas coxinhas, que, quando são bem-feitas de fato, são uma delícia.
Há paradas com galeto assado e farofa que são referência. Provei uma vez um muito bom dirigindo de Porto Alegre a Bagé. Na Serra Fluminense, é sempre especial provar croquetes, salsichões e strudel nas paradas de cozinha alemã.
Os pães de queijo em Minas merecem um ranking próprio. Há opções pelo estado todo que justificam paradas na viagem. A disputa pelo melhor é acirrada, são, em geral, deliciosos.
Diz a sabedoria popular que, onde os caminhoneiros param, a comida é boa. Há postos de gasolina com uma cozinha caipira de primeira no fogão a lenha, tudo organizado, aromático e bem-apresentado. Muita gente estaciona para almoçar e os preços são bons.
Na minha opinião, não existe alta e baixa gastronomia e, sim, comida gostosa e bem-feita e comida ruim. Um prato com foie gras e trufas frescas mal feito pode ser uma gororoba e arroz, feijão, carne moída, ovo frito e couve sendo bem-feitos podem ser uma iguaria. Comida tida como simples, do dia a dia, além de confortar a alma, não enjoa, dá para comer todo o dia.
Paradas de estrada assustam os vigilantes do peso – não a instituição, mas as pessoas que ficam controlando qualquer grama a mais na balança que o outro ganha. São lugares para dar um tempo do peito de frango com batata-doce e brócolis e, o que é melhor, comer e deixar o outro comer em paz. Parafraseando o lema mineiro, “liberdade para comer, ainda que tardia”.
Quem achar que vai engordar para sempre com um pão na chapa amanteigado ou com um cigarrete é melhor seguir viagem.
Há uma crise internacional nos “fine dinings” pelos ambientes formais para se provar menus degustação cerebrais. Séries de TV sobre gastronomia como a “The Bear” abordaram isso. Comida é mais emoção que razão. A gente sai também para se divertir e conversar, interrupções excessivas para ouvir a explicação de pratos pode ser cansativo.
Já tive muitas experiências. O recorde foi um restaurante estrelado no exterior com 25 passos no menu, quatro horas e meia de serviço. No fim havia uma sensação geral de desconforto no salão, ninguém aguentava mais.
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Menus degustação são uma boa experiência quando também são um “fun dining,” com informalidade e descontração no processo. Assim como a boa comida de estrada.