Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

É hora de dar basta e de lembrar que existe uma ética que a maioria deseja

Nunca consegui dar sentido à distância que divide o povo e a política brasileira. Em geral, são linhas paralelas, que quase nunca se encontram ou só no infinito

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No contemporâneo, a função paterna perdeu poder. Se antes o pai com um simples olhar fazia sua prole acatar suas ordens e era provedor absoluto, com as mudanças sociais – como a industrialização, a entrada da mulher no mercado de trabalho e, muitas vezes, a queda do poder financeiro do genitor com o desemprego e o subemprego, mediante um mercado cada vez mais competitivo, capitalista e financista – os espertos ganharam espaço para burlar e menosprezar a leis, tendo como finalidade última a acumulação. Com essa queda o comportamento passa pela vulgarização, a “funkização” com letras eróticas e a pornografia explícita. E, assim, o tudo pode ilimitado ganhou o mundo...

Nos últimos dias, porém, diante de tantas ocorrências importantes no Brasil, e das notícias que correm o mundo nos grandes jornais ingleses e americanos, como The Economist e New York Times, a democracia brasileira está sendo apontada como exemplar. E mais...

Parece que viraram uma chavinha que fez a lei funcionar. Primeiro, o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo. A primeira condenação por golpe de Estado no Brasil, apesar de a história registrar muitos, inclusive, o pior deles, de 1964, nos submetendo a 20 anos de ditadura violenta e criminosa. Depois disso, deputados se reúnem pedindo não só pela anistia, mas decidindo em causa própria se devem ou não se submeterem à lei.

Na sequência, diante do acinte, milhares de pessoas saíram em defesa da democracia. Paralelamente: a máfia da mineração na Serra do Curral presa pela Polícia Federal; o careca do INSS e sua quadrilha, também desbaratada pela PF. De repente, nosso céu clareia, porque são anos aguentando abusos, omissões e corrupção. É hora de dar um basta, de lembrar que existe uma ética que a maioria deseja.

Voltei a sentir orgulho do meu país. Nunca consegui dar sentido à distância que divide o povo e a política brasileira (reconheço que há exceções), mas, em geral, são linhas paralelas, quase nunca se encontram ou só no infinito. É preciso que se governe por e para o povo, ricos e pobres, independentemente da politicagem que hoje divide e consome os brasileiros que se declaram democráticos.

Tive uma experiência dessas dias atrás. Ao opinar nas redes sociais contra qualquer tipo de violência, seja de gênero, feminicídio, cor, genocídio, guerras e da bandeira americana em lugar da brasileira numa passeata, uma pessoa irada, violenta, nem conseguia escrever, batia nas teclas com força, letras saindo trocadas pela jactância do discurso do ódio: comunista, muda pra Cuba, pra Rússia, pra Venezuela!

Respondi que nunca fui comunista, sequer sou filiada a qualquer partido político, porém, exerço o democrático direito de livre expressão. Depois de muitas outras mensagens agressivas, vi que dialogar seria inútil. Como tem sido ultimamente, desde que a bipolaridade radical extraiu o bom senso, a educação, a saúde mental.

Existe um real que, para a psicanálise, não anda bem. O real é impossível de suportar, contornar ou controlar a realidade. Ele bagunça planos perfeitos, a harmonia sonhada, a plenitude. Nossas mães diziam, quando derrubávamos um copo de suco ou fazíamos alguma arte, ‘O anjinho Malaquias passou por aqui!’. Esse anjinho é famoso nas estórias infantis, porque nasceu com as asas no bumbum, deixando-o desengonçado, desastrado, por não controlar seus voos e aterrissagens com perícia.

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Nós não somos ingênuos, queremos o possível, as coisas legais. Legais não no sentido “pode crer”, idealista e sonhador. Legais na lei. A lei é para todos e a democracia é para todos. Para isso, será preciso contenção legal para uns e suporte para outros, pela diversidade que ela abraça. A lei existe para impedir que os mais fortes ganhem sempre, não sobrando oportunidades para os fracos.

Uma sociedade legal é regida pela lei e isso implica que todo homem seja submetido em sua vontade de gozo ilimitado para que outros possam usufruir e viver com dignidade seu desejo possível. E, quando assistimos a lei ser aplicada, é admirável que tantos se ergam contra isso, atacando o STF e perseguindo seus ministros. Como se vê, nem todos...

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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