Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
Em dia com a psicanálise

Nossos impossíveis

Desde que o mundo é mundo, o forte vence o fraco, e se fundamos as leis para evitar isso, constatamos que nada domina totalmente a força das pulsões humanas

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Viver é bom, mas rasga o coração. Lacan dizia que o real é o impossível de suportar. Nada mais podemos argumentar diante disso. Basta olhar ao redor para constatar! Além dos impossíveis particulares, não sei se teria sentido separá-los, temos os impossíveis coletivos. Acho que não tem sentido, porque grande parte do que nos alcança e afeta vem, em primeira mão, da família, e, depois, se amplia no social.


Esses dias em que guerras são tratadas nos noticiários, fico aqui pensando o que significa o ser humano. Do nada o líder de uma nação decide avançar sobre outra, invade territórios, extermina povos, e se vangloria por isso. No entanto, desde que o mundo é mundo, o forte vence o fraco. Se fundamos as leis para evitar isso, constatamos que nada domina totalmente a força das pulsões humanas.


Especialmente a pulsão de morte, como demonstrada nos crimes contra as mulheres, o racismo, os preconceitos de gênero. Nos ladrões que sequestram ônibus, apedrejam, roubam celulares das mãos das pessoas e criminosos matam garis na rua. Mais grave ainda é quando, impulsionados pela mais alta agressividade, iniciam guerras e genocídios.


Vem circulando na internet um depoimento comovente do Dr. Ezzideen, de Gaza: Não há internet. Não há sinal. Não há som. Caminhei trinta minutos entre ruínas e poeira. Não em busca de fuga, mas por um fragmento de sinal, apenas para sussurrar: Ainda estamos vivos. Não porque alguém esteja ouvindo, mas morrer sem ser ouvido é a morte definitiva. Gaza agora está em silêncio. Não de paz, mas de aniquilação. Não um silêncio de silêncio, mas de sufocamento...


...passei por cadáveres de prédios, casas, homens, alguns respirando, outros, não. Todos apagados pela mesma mão que apagou nossas vozes... sem comida, água ou saída, os que as buscam são destruídos. Quando a comunicação for restaurada, a verdade virá à tona e o mundo saberá que escolheu não ver.


...encontrei esse sinal fraco de SIM como um moribundo encontra uma chama. Fiquei sob o céu despedaçado, arriscando a morte, não para ser resgatado, mas para enviar isso. Uma única mensagem. Uma última luta. Se você está lendo isto, lembre-se: Caminhamos pelo fogo para nos manifestar. Não ficamos em silêncio. Fomos silenciados.


Finaliza essas palavras convocando o mundo a fazer um bloqueio da internet das 21h às 21h30, no horário local de cada país, em nome do povo palestino. Silêncio por Gaza. 30 minutos de silêncio total em solidariedade. Sem postagens, curtidas, comentários, aplicativos abertos, silêncio digital absoluto. Desligue o celular.


Ele explica por que: 1 – Impacto algorítmico: as plataformas de mídia social dependem de atividade constante; a queda repentina e sincronizada pode interromper algoritmos de visibilidade, afetar estatística de tráfego em tempo real; enviar sinal étnico aos servidores sobre comportamento anormal dos usuários. Ato de resistência dos cidadãos à injustiça, que até agora tem sido alimentada pela passividade. 2 – Impacto simbólico: em um mundo hiperconectado, o silêncio digital é uma mensagem poderosa. 3 – Impacto social: mostrar ao mundo que rejeitamos o crime em Gaza.


Muitas vozes se levantam em solidariedade e em protesto contra o massacre dos palestinos. No podcast 451 MHz, no YouTube, os escritores Benjamim Moser e Milton Hatoum comentam o livro “Gaza no Coração – história, resistência, solidariedade” (Ed. Elefante), organizado por Rafael Domingos Oliveira (Tapera Taperá). Um dia triste, declara Rafael, porque não deveria existir. O livro é um protesto coletivo sobre o genocídio revoltante contra os palestinos.


Moser e Hatoum conversam sobre o que podem os escritores diante da guerra? E, nós, psicanalistas, o que podemos diante desse impossível? Podemos escrever, assim como fez Freud em dois textos formidáveis: Por que a guerra? e Reflexões para os tempos de guerra e morte. Se declara pacifista e lamenta a que ponto pode o homem chegar movido pela pulsão de morte. Ele repudiava atos destrutivos contrários aos interesses da civilização.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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