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SIGA NOPor que a Revolução Industrial começou na Inglaterra, no século 18, e não em outro lugar? E por que ela continuou se expandindo mundo afora – primeiro para a Europa continental e os Estados Unidos, já na primeira metade do século 19 – levando a um crescimento econômico duradouro e de uma prosperidade sem precedentes? Com mais cara de prêmio Nobel de história, se houvesse, o prêmio de Economia fugiu do ringue principal e evitou confrontar juros, impostos e bancos centrais, que infernizam a economia mundial. Os economistas talvez esperem que as almas dos contribuintes se salvem somente na fé em memória de Alfred Nobel.
O Prêmio Nobel de Economia de 2025 acha o monopólio inimigo da evolução e defende o livre empreendedor. E foi dividido entre pesquisadores que ofereceram respostas ao fato sobre o que provoca “revoluções industriais”.
A primeira metade foi entregue a Joel Mokyr, historiador econômico que tem várias publicações sobre o entrelaçamento de pontos fundamentais para explicar por que a Revolução Industrial começou na Inglaterra, no século 18, e não em outro lugar. Afinal, por que razões, Manchester, no Norte da Inglaterra, foi a primeira cidade industrial do mundo, e não outra na China, na França, na Alemanha, ou em qualquer outro lugar?
Mokyr demonstra então que foi a Grã-Bretanha, entre 1700 e 1850, que combinou de forma pioneira ideias, culturas, instituições e tecnologias que circulavam pelo mundo e que geravam a “receita” original para converter a conjunção dessas variáveis em crescimento econômico rápido e sustentado. Lá, o Iluminismo encontrou terreno fértil e, pela primeira vez, conhecimento pôde ser convertido em prosperidade material em larga escala.
A outra metade do prêmio foi concedida a Philippe Aghion e Peter Howitt, pela autoria do artigo científico “Um Modelo de Crescimento por meio da Destruição Criativa”, de 1992, mais todas as suas repercussões que ajudaram a explicar por que e como o crescimento econômico se mantém e se renova desde a Revolução Industrial original.
O cerne da explicação é o conceito de “Destruição Criativa”, o qual foi formulado entre as duas guerras mundiais por Joseph Schumpeter. Em 1942, Schumpeter teorizou que o capitalismo é caracterizado por um processo constante de “destruição criativa” que explica tais ciclos, os quais são marcados sim por destruições, mais ou menos severas, mas que provocariam sua evolução.
Segundo o modelo matemático que criaram, quem foi grande ontem virou escada de quem é gigante de hoje. Gigante que não quer que ninguém mais cresça. Ou seja, a quantidade de pesquisa em determinado período entre duas grandes inovações deve ser entendido como o fato de que o ganho com a pesquisa realizada neste período está na perspectiva de lucros monopolistas no próximo período. Esses lucros, porém, durarão apenas até que surja a próxima inovação, momento em que o conhecimento que sustentava esses ganhos se tornará obsoleto. Mais ou menos como Motorola, Nokia e BlackBerry foram do topo do mercado de celulares ao chão quando foram varridas pela “destruição criativa” dos smartphones, que, por sua vez, colocou Apple (mais seu sistema iOS) e Samsung (à frente de outras usando o monopolista sistema Android do Google) no topo.
Outro efeito é o equilíbrio do salário da mão de obra qualificada, que se desloca entre pesquisa e produção conforme os incentivos e as oportunidades de lucro dentro de diferentes esquemas de reprodução.
Um ponto central é que os grandes investimentos que os países fazem na educação e na ciência e que dão base para os também grandes investimentos necessários em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) realizados por organizações públicas e privadas são a chave tanto do sucesso dos empreendedores e das empresas, quanto do crescimento do PIB.
Dias atrás, aliás, o próprio Romer lembrou, em evento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) em São Paulo, algo que muitos parecem não entender sobre a lógica dos processos descritos acima: um país robusto como o Brasil precisa regular e taxar as grandes monopolistas estrangeiras do atual capitalismo global que são as “big techs”. Deve fazê-lo tanto para manter o controle sobre seu futuro digital, quanto para financiar sua própria pesquisa tecnológica. Recursos para investir em P&D com vistas a desenvolver “big techs” brasileiras devem vir da taxação dos negócios dessas empresas monopolistas estrangeiras no país.
O Nobel alerta para a força do ceticismo econômico provocado pelo mal-estar que é o monopólio. Incompatível com o empreendedorismo, o monopólio é uma enfadonha forma de morte da criatividade econômica.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
