Patrícia Espírito Santo
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Algumas perguntas

"Nada pode ter defeito e me pergunto também qual nosso parâmetro de defeito"

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Um amigo, dotado de mãos mágicas que transformam fermento e farinha em pães deliciosos, satisfeito com o pedido substancial de uma compradora, decidiu presentear-lhe com um mimo (prática frequente, aliás). Naqueles dias, ele estava testando uma nova receita de bolinho doce (uma mistura de limão siciliano, nozes e, claro, o ingrediente secreto). Na bandeja, pegou o bolinho que exibia algum tipo de avaria em sua embalagem. “Vou colocar este aqui junto para você experimentar. Depois me diz se gostou”.


Atenta à cena, a mãe da moça reivindicou. “Ela não vai querer esse ‘feio’. Troque por esse aqui”. Escondendo um misto de vergonha e raiva, ele sorriu amarelo e o fez. Minutos depois, me pus a analisar o ocorrido enquanto o ouvia esbravejar. Muito mais que uma mulher “chata e intrometida”, ela mostrou o quanto somos guiados pela busca da perfeição. O maior problema são nossos parâmetros de perfeição.


Trocamos tudo que nos desagrada, nossas roupas e nossas peles; encapamos os dentes para que fiquem mais brancos e colorimos os cabelos escondendo a mensagem que trazem suas raízes. Se a preocupação se resumisse a aparência, no caso de nossos corpos, problemas não teríamos.


Como no caso do bolinho, não aceitamos que o valor esteja tanto no sabor quanto na gentileza. Nada pode ter defeito e me pergunto também qual nosso parâmetro de defeito.


O mundo vai abaixo quando na família nasce uma criança com alguma síndrome que o mundo qualifique como anormal. O problema maior, dizem “não é o trabalho extra que dará aos responsáveis, mas o fato de que ele nunca será feliz como os demais”. Ou ainda se a filha traz para casa uma namorada ou escolha adotar uma criança de outra raça que não a sua. Outra questão: o que é e onde está essa tal felicidade?


Naquele mesmo dia vi um homem com síndrome de down sentado em um banco de praça dando gargalhadas com uma mulher aparentemente mais velha que ele. Sua mãe talvez?, não importa. Eles riam a ponto de dar uma vontade enorme de participar daquilo já que nem tudo estava bem para o meu lado; por mim passou um casal de mulheres pouco interessadas nos olhares reprovativos de um grupo de homens e um casal chamando de filho um menino que certamente tinha outro DNA. Terminei o dia me perguntando: onde há imperfeição?

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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