Ilha de Madagascar -  (crédito: Divulgação)

Ilha de Madagascar

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Há duas semanas, cheguei à ilha de Madagascar, África. Conhecida pelo desenho de mesmo nome da Disney, por seus bichinhos simpáticos e divertidos, em especial os lêmures, com seus olhos arregalados, que se locomovem saltando de galho em galho. Ao contrário do que muita gente pensa, aqui não há grandes mamíferos como nas selvas do continente africano, mas sem dúvida suas terras têm muitos encantos.

 

Cantada também ao som de Olidum, Madagascar ficou na memória como Ilha do Amor em 1987. Os turistas que desembarcam em Antananarivo, sua capital, de uma maneira geral rumam para o norte, atrás de suas praias paradisíacas em meio à natureza exuberante.

 

 

Porém, quem se aventura a visitar o sul da ilha se depara com um dos locais mais pobres e miseráveis do mundo, onde a falta de água potável traz consequências terríveis. Por aqui, na região de Ambovombe, onde me encontro, o índice de desnutrição severa chega a atingir 40% das crianças e, dependendo da comunidade, muitas nascem, vivem e morrem antes de completar a primeira infância.

 

O oceano Índico banha seu enorme litoral de 4.828 quilômetros. Por que então não há água? Para aproveitar a água do mar, assim como de poços artesianos, é preciso dessalinizadores. Isso custa dinheiro. E muito. O que há aqui com abundância como fonte de água e comida são os cactos, palmas e seus frutos deliciosos, sazonais e insuficientes em nutrientes. Aqui todos têm muita fome e sede. Os animais estão permanentemente de boca aberta na esperança de que talvez captem uma gota d’água no ar quente e seco a maior parte do tempo.

 

Criança desnutrida se torna um adulto com menores capacidades cognitivas e físicas. Poucos têm acesso à escola. Nas vezes em que fui incumbida pela equipe de saúde de pesar e medir centenas de crianças (que nunca tinham visto um médico), percebi que tirar-lhes as roupas pouca diferença fazia no peso final. Na verdade, elas não vestem roupas. São trapos, aos moldes de estopas prontas para serem descartadas. Mas estão ali cobrindo-lhes partes dos corpos enquanto ainda resistem.

 

O que podemos fazer com essa informação? Começar a perceber que imagens assustadoras e desconfortáveis de pessoas em pele e osso não são coisa do passado. O universo vai muito além do lugar onde me refugio e só estaremos em paz quando todos tivermos as mesmas oportunidades.