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Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Nomeação de Boulos estressa o centro e isola aliados de Lula no MDB

Para os caciques do MDB, a presença de Boulos no Planalto representa a priorização de uma agenda identitária e de confrontos sociais do tipo "pobres contra rico

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A nomeação de Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência da República alterou a correlação de forças entre o governo e o centro político no Congresso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinaliza o reforço do campo progressista no núcleo do poder, mas, ao mesmo tempo, empurra para longe do governo aliados de centro, em especial o MDB, partido que vinha desempenhando papel de pivô na governabilidade.

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O desconforto foi imediato. Nos bastidores da legenda, a indicação de Boulos foi considerada um gesto de radicalização ideológica que isola figuras próximas ao Planalto, como o governador do Pará, Helder Barbalho, o senador Renan Calheiros (AL) e ex-presidente José Sarney, e fortalece os setores do partido que defendem um realinhamento programático independente.

Nesta quarta-feira, o MDB lançou um novo documento de atualização doutrinária elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, sob a condução do deputado Alceu Moreira (RS). Intitulado “Caminhos para o Brasil”, o texto propõe uma refundação centrista, critica os “extremos” e a “política de likes” e reivindica para o partido o papel de “leito do rio” da política brasileira, metáfora usada por Moreira para descrever o centro como o caminho natural do país entre as margens agitadas da polarização.

O documento envolveu mais de 8,5 mil filiados em 46 reuniões, defende eficiência na gestão pública, criação de uma central de governança das estatais e uma política fiscal responsável. Mais do que um manifesto, é um marco da preparação eleitoral da legenda para 2026. Em 2015, sob coordenação do ex-governador Moreira Franco, o MDB lançou um documento que serviu de contraponto à “nova matriz econômica” da então presidente Dilma Rousseff.

O texto embalou a campanha do impeachment e serviu de programa de governo para Michel Temer, que assumiu o poder com o afastamento da petista pela maioria do Congresso. Agora, mais uma vez, o MDB se reposiciona como alternativa de centro reformista, busca se diferenciar tanto do bolsonarismo quanto da esquerda. O presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), aproveitou o lançamento para atacar a “política radicalizada e caçadora de likes” e reforçar que o MDB quer “discutir projetos e não pessoas”. Ou seja, o partido pretende recuperar protagonismo programático e ser referência de equilíbrio e moderação.

Não seria nada de novo, não fosse a nomeação de Boulos, que reavivou feridas políticas. O novo secretário-geral da Presidência, agora responsável pela articulação da agenda do governo com os movimentos sociais, foi adversário direto de Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo e aliado de Baleia, e é visto com desconfiança por prefeitos e governadores emedebistas.

Para os caciques do MDB, a presença de Boulos no Planalto representa a priorização de uma agenda identitária e de confrontos sociais do tipo “pobres contra ricos”, em detrimento de uma política de coalizão mais ampla. Caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seja candidato à Presidência, Nunes encabeçaria uma ampla coalizão de centro-direita.


Governabilidade

Entretanto, o governo avalia que fez o movimento necessário, para reconectar Lula à base social que o elegeu, reforçar sua legitimidade popular e abrir um canal direto com movimentos urbanos e populares, que estava bloqueado. Reconfigura-se a disputa no Congresso. O governo operava com uma base condicional, sustentada por negociações pontuais com o Centrão e pelo apoio instável do MDB. Agora, a desconfiança cresce. Baleia Rossi mede o custo de cada voto governista, Helder Barbalho tenta preservar espaço institucional no Norte, e Renan Calheiros procura manter o diálogo com o Planalto sem romper com a bancada.

Ao mesmo tempo, o Centrão, liderado por Hugo Motta (Republicanos) na Câmara e Davi Alcolumbre (União) no Senado, eleva o preço do seu apoio ao governo: relatorias, emendas, cargos e controle da pauta. A governabilidade será uma engenharia legislativa muito mais complexa. Como sempre, o MDB busca ser o centro de gravidade. Sua nova plataforma — que evoca Ulysses Guimarães e Tancredo Neves — busca ser um contraponto tanto à esquerda quanto à extrema direita.

Baleia Rossi tenta dar ao MDB o lugar de “porto seguro” do eleitorado moderado e dos setores empresariais cansados da guerra cultural e da polarização nós contra eles. O partido aposta em temas como eficiência estatal, reforma administrativa e política de investimentos federativos, ao mesmo tempo em que reivindica transparência e estabilidade fiscal. Em essência, oferece uma narrativa de racionalidade contra o voluntarismo.

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As tendências para 2026 já contaminam a pauta de 2025. O MDB trabalha para se apresentar como alternativa de equilíbrio nacional, mirando uma candidatura competitiva à Presidência ou a composição com um projeto de centro ampliado. Baleia Rossi e Michel Temer articulam aproximações com Tarcísio de Freitas em São Paulo, enquanto mantêm diálogo com segmentos empresariais e conservadores moderados.

O Planalto, por sua vez, aposta na fragmentação do centro para recompor maiorias variáveis e avançar nas pautas econômicas — como a reforma tributária e o novo programa de investimentos. O desafio é duplo. De um lado, precisa mostrar que a presença de Boulos não representa um desvio à esquerda, mas uma ampliação de representatividade. De outro, deve conter o descolamento do centro, sob pena de transformar cada votação em um leilão político.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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