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Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Trump deu ao Lula uma bandeira: "O Pix é nosso!"

Qual a verdadeira razão de Trump mandar investigar o Pix? Por trás da decisão, estão interesses da Meta e as bandeiras de cartão de crédito Mastercard e Visa

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Depois do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras, Trump resolveu abrir investigações sobre supostas violações das relações comerciais entre os dois países, cujos alvos vão do comercio da Rua 25 de março em São Paulo, o maior mercado fornecedor de pequenos empreendedores do país, à utilização do Pix como meio de pagamento. Isso deu de bandeja para Lula uma bandeira popular até então improvável: “O Pix é Brasil e dos brasileiros”.

Em janeiro passado, a fake news de que as operações com o Pix seriam taxadas pelo governo federal foi o principal gatilho para a queda abrupta de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num momento em que a economia registrava crescimento, pleno emprego e elevação da renda média. Agora, o que foi uma de suas maiores dores de cabeça, o Pix virou balsamo para o governo Lula, em meio à maior crise diplomática e comercial com os Estados Unidos.

O sistema de pagamentos instantâneos lançado pelo Banco Central em 2020, ou seja, em pleno governo Bolsonaro, tornou-se símbolo de modernização, inclusão financeira e, agora, de soberania nacional. Com mais de 175 milhões de usuários e aceitação quase universal – 93% da população adulta utiliza o serviço –, é o meio de pagamento mais popular do país. Supera dinheiro físico, TEDs, DOCs e cartões de débito, e ameaça o mercado de crédito com ferramentas como o Pix Parcelado e o Pix Automático.

 


Qual a verdadeira razão de Trump mandar investigar o Pix? Por trás da sua decisão, estão a Meta e as bandeiras de cartão de crédito norte-americanas Mastercard e Visa. O sucesso doméstico do Pix contraria essas empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Um comunicado recente do USTR (United States Trade Representative), embora não cite explicitamente o Pix, afirma que o Brasil “pode prejudicar a competitividade de empresas americanas” nos setores de comércio digital e pagamentos eletrônicos.


O órgão cita supostas restrições à operação de big techs e retaliações por “não censurarem discursos políticos”, uma alusão à regulamentação das redes sociais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas a verdadeira causa é o fato de a Meta, dona do WhatsApp, não ter conseguido transformar o Brasil em vitrine de um sistema de pagamentos via esse aplicativo. Em 2020, o Banco Central e o Cade retardaram o lançamento do serviço, alegando riscos ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Quando o WhatsApp Pay chegou ao mercado, em maio de 2021, o Pix já dominava as transferências entre pessoas físicas. As bandeiras Visa e Mastercard, que concentram o mercado de cartões no Brasil, também perderam terreno: o Pix eliminou tarifas e universalizou transferências, por fora do controle privado.

 

Moderno e eficiente

 

O Pix é um “case” de moderno e universal sistema de pagamentos, que pode ser adotado por qualquer outro Banco Central. Nos EUA, o FedNow, sistema de pagamentos instantâneos do Federal Reserve, tem adesão voluntária e disputa espaço com serviços privados como RTP e Zelle. No Brasil, a participação compulsória de bancos e instituições de pagamento garantiu essa universalidade e a inclusão de microempreendedores e trabalhadores informais no sistema financeiro. O Pix e as fintechs “bancarizaram” cerca de 60 milhões de brasileiros em dez anos.


A decisão de Trump contra o Pix escala a crise comercial e diplomática, com o agravante de que agride a institucionalidade de nossa economia naquilo que ela tem de mais moderno e eficiente: sua superestrutura financeira. Entretanto, do ponto de vista político, favorece em muito o presidente Lula, que agora tem uma bandeira de campanha muito popular. A campanha “O petróleo é nosso”, na década de 1950, que contrariou muito aos Estados Unidos, por exemplo, levou à criação da Petrobras, que é um símbolo da soberania nacional até hoje.


Lula adotou um tom firme e nacionalista. “O Pix é do Brasil e dos brasileiros! Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu? Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema Seguro, Sigiloso e Sem taxas. Só que o Brasil é o quê? Soberano. E tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do Pix, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. Nada de mexer com o que tá funcionando, ok?", publicou o perfil oficial do governo nas redes sociais.

 

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As tensões em torno do Pix, porém, somam-se a um cenário ainda muito complicado, por causa das tarifas impostas pelo governo americano a produtos brasileiros. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o chamado tarifaço pode reduzir em R$ 19,2 bilhões o PIB brasileiro (-0,16%), derrubar exportações em R$ 52 bilhões e extinguir 110 mil empregos. Os estados mais prejudicados serão São Paulo (-R$ 4,4 bi), Rio Grande do Sul (-R$ 1,9 bi), Paraná (-R$ 1,9 bi), Santa Catarina (-R$ 1,7 bi) e Minas Gerais (-R$ 1,66 bi).


Setores como aeronaves e embarcações (-22,3% nas exportações), tratores e máquinas agrícolas (-11,3%) e carnes de aves (-11,3%) serão os mais atingidos. Os EUA absorveram 78,2% das exportações da indústria brasileira em 2024. A CNI calcula que o tarifaço pode derrubar o PIB americano em 0,37% e provocar uma retração de 2,1% no comércio mundial (US$ 483 bilhões). Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, trata-se de uma política “perde-perde”.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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