LC
Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Mui amigo, Tarcísio larga a mão de Bolsonaro, apesar da pressão de Trump

Horas após pedido de condenação, o presidente dos EUA saiu em defesa de Bolsonaro. Novamente associou o tarifaço de 50% ao julgamento do aliado

Publicidade

Mais lidas

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de segunda-feira (14), a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais sete integrantes do chamado núcleo central da trama golpista que tentou impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Assinado pelo procurador-geral Paulo Gonet, o parecer foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, às 23h45. Com isso, o julgamento entra em fase decisiva e deve ser concluído em setembro.

Crimes de Bolsonaro listados pela PGR podem render até 43 anos de prisão

De nada adiantaram as pressões do presidente Donald Trump, que voltou a defender Bolsonaro. O tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras mobilizou os exportadores brasileiros e os empresários norte-americanos, cuja Câmara de Comércio criticou a medida. No plano político interno, a crise comercial e diplomática dividiu os aliados de Bolsonaro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mui amigo, mudou o discurso e passou a defender uma negociação com a Casa Branca em bases apenas comerciais, desvinculada do julgamento do ex-presidente. O deputado Eduardo Bolsonaro, que articula as pressões de Trump nos Estados Unidos, atacou Tarcísio e acusou de “subserviência servil”.

O documento da PGR tem 517 páginas e classifica Bolsonaro como “líder da organização criminosa” e “principal articulador e maior beneficiário” das ações que visaram à ruptura do Estado democrático de direito. O ex-presidente é acusado de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão. Entretanto, como tem mais de 70 anos e comorbidades resultantes das sequelas da facada que levou em Juiz de Fora na campanha eleitoral de 2018, dificilmente será condenado a pena tão grande. A defesa de Bolsonaro poderá requerer prisão domiciliar humanitária, a exemplo do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

PGR ignora pressão de Trump e coloca Bolsonaro no centro do golpe de Estado

Além de Bolsonaro, são réus no processo Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira e Mauro Cid (que pode ter a pena suspensa em razão do acordo de delação premiada). O procurador-geral descreveu Bolsonaro como responsável por instrumentalizar o aparato estatal para atacar instituições e o sistema eleitoral. Gonet também destacou que, com apoio de setores estratégicos das Forças Armadas, o ex-presidente “mobilizou agentes, recursos e competências estatais para propagar narrativas inverídicas, provocar instabilidade social e defender medidas autoritárias”.

A PGR também destacou que os discursos de Bolsonaro extrapolaram o campo da crítica legítima e tiveram caráter de “incitação e desestabilização da democracia”. Como exemplo, citou a live no Palácio do Planalto, em 2021, e a utilização ilícita da Abin, a chamada “Abin Paralela”, para espalhar desinformação sobre vulnerabilidades das urnas eletrônicas.


Pressão continua

Horas após o pedido de condenação, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, saiu em defesa de Bolsonaro. Novamente associou a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, a partir de 1º de agosto, aos processos judiciais contra o ex-presidente. “O presidente Bolsonaro é um bom homem. Ele lutou muito pelo povo brasileiro e acredito que isso seja uma caça às bruxas”, disse Trump, em tom de solidariedade ao aliado político. Apesar da pressão internacional, o parecer de Gonet demonstrou que a PGR não se intimidou com as ameaças de Trump e reforçou que Bolsonaro agiu de forma dolosa e persistente para corroer os pilares republicanos e se manter ilegitimamente no poder.

Tarifaço de Trump faz aprovação de Lula subir, aponta AtlasIntel

O apoio de Trump fortalece o discurso bolsonarista de perseguição política, porém, internamente, a oposição se dividiu. Empresários, antes aliados de Bolsonaro, criticaram duramente a postura do ex-presidente e de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusando-os de “rifar o Brasil” por interesses pessoais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), inicialmente crítico ao governo Lula e alinhado com a narrativa bolsonarista, suavizou o discurso. Agora, defende “união de esforços” com o governo federal para enfrentar os impactos do tarifaço.

Esse foi o tom do discurso de Tarcísio na reunião desta terça-feira (15) com empresários paulistas e com o representante da embaixada dos EUA para tratar do assunto. Essa guinada irritou profundamente Eduardo Bolsonaro, que acusou o governador de “subserviência servil às elites” e de “trair os interesses nacionais”. Nas redes sociais, Eduardo criticou duramente Tarcísio: “Prezado governador, se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio, estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades”.

Líderes do Centrão foram procurados por empresários descontentes com a posição de Bolsonaro a favor das pressões de Trump. Em sério risco de perder um mercado importante por causa de uma disputa pessoal”, pressionam Tarcísio para se diferenciar do radicalismo bolsonarista preservar sua base econômica , mantendo diálogo institucional com o governo federal. As reiteradas manifestações de Trump, porém, sinalizam que a crise deve se prolongar durante todo o julgamento de Bolsonaro. Com a entrega das alegações finais da PGR, abre-se prazo de 15 dias para que as defesas apresentem seus argumentos. Concluída essa etapa, Moraes deve marcar o julgamento para setembro.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

brasil eua lula

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay