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Luiz Carlos Azedo
FUGA

Missão de Eduardo e Zambelli nos EUA é acirrar tensões do STF com Trump

Fomentar conflitos entre o governo brasileiro e os Estados Unidos não é novidade na política brasileira. Essa foi a estratégia adotada na preparação do golpe

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a prisão preventiva e a inclusão na lista da Interpol da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Condenada a 10 anos de prisão por invadir a rede de internet do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a parlamentar deixou o Brasil e anunciou que está nos Estados Unidos, mas deve se deslocar para a Europa. Soma-se ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e se autoexilou nos Estados Unidos, onde atua fortemente contra o governo Lula e, principalmente, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

 


Segundo a PGR, no caso de Carla Zambelli, “não se trata de antecipação do cumprimento da pena aplicada à ré, mas de imposição de prisão cautelar, de natureza distinta da prisão definitiva, com o fim de assegurar a devida aplicação da lei penal”. O nome de parlamentar poderá ser incluído na lista de difusão vermelha da Interpol. A opção de trocar os Estados Unidos pela Itália, caso não consiga proteção do governo norte-americano, decorre de ter dupla nacionalidade, ou seja, passaporte italiano. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, é expoente da direta europeia.


O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos desde março. Na segunda-feira, desafiou o ministro Alexandre Moraes a pedir informações oficiais sobre sua atuação ao governo norte-americano. “Está tudo na minha rede social, pois não faço nada de ilegal”, escreveu o parlamentar no X (antigo Twitter). “Visitar deputado americano é crime? Perguntar a um secretário de Estado numa audiência da Câmara é ilegal? Ir ao MRE dos EUA (State Department) é um delito?” Há um inquérito aberto na Procuradoria-Geral da República (PGR), a pedido do líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), para investigar a atuação do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro nos EUA.


Nesta terça-feira, sem citar seu nome, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu mais repercussão à atuação de Eduardo Bolsonaro: “Lamentável é que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, está lá a convocar os Estados Unidos para se meter na política interna do Brasil. É isso que é grave. É isso que é uma prática terrorista. É isso que é uma prática antipatriótica. Um cidadão que é deputado, renuncia ao seu mandato, pede licença do seu mandato, para ir ficar tentando lamber as botas do Trump e de assessor do Trump, pedindo intervenção na política brasileira.”

 

 

Antiga estratégia


Fomentar os conflitos entre um governo brasileiro e os Estados Unidos não é novidade na política brasileira. Essa foi a estratégia adotada na preparação do golpe militar de 1964. Carlos Lacerda, então governador da Guanabara (1960-1965), teve intensa relação com a Casa Branca no período que antecedeu o golpe militar de 1964. Embora não tenha sido o principal articulador do golpe, foi um dos líderes civis da oposição ao governo João Goulart em sintonia com interesses norte-americanos no Brasil.


Conservador e anticomunista, Lacerda via o governo de João Goulart como uma ameaça à democracia e ao capitalismo. Essa posição o aproximava do discurso da Guerra Fria promovido pelos Estados Unidos, que apoiavam governos e forças que combatessem a expansão do comunismo e a influência da antiga União Soviética (URSS) na América Latina.

 


Cabeça da articulação civil que visava derrubar Goulart, junto com os governadores de Minas, Magalhães Pinto, e São Paulo, Adhemar de Barros, Lacerda mantinha estreita relação com o embaixador Lincoln Gordon, que apoiava a deflagração de movimento militar caso Jango insistisse nas reformas de base e flertasse com a esquerda.


Não esteve diretamente envolvido na Operação Brother Sam (apoio logístico e militar dos EUA às forças golpistas brasileiras), porém, discurso e a posição pró-Otan de Lacerda foram fatores que ajudaram a construir o ambiente favorável à intervenção. Documentos desclassificados dos EUA mostram o político carioca era um interlocutor confiável para o Departamento de Estado.


Entretanto, a relação decisiva para a Casa Branca foi com a cúpula do Exército. Desde os anos 1950, muitos oficiais das Forças Armadas brasileiras foram treinados pelos Estados Unidos, na Escola das Américas (Panamá), nos programas do Pentágono, nos cursos de contrainsurgência e guerra psicológica com base na Doutrina de Segurança Nacional. O marechal Castello Branco e os generais Mourão Filho, Golbery do Couto e Silva e Emílio Médici foram peças-chave no golpe.

 

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A embaixada norte-americana no Brasil, sob o comando do embaixador Lincoln Gordon, e o adido militar general Vernon Walters mantinham contato direto com generais brasileiros. Walters, fluente em português, era amigo de Castello Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, desde a tomada de Monte Castelo, na Itália, na Segunda Guerra Mundial, pelas tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEP). O Exército brasileiro era visto como “confiável” pelos EUA, especialmente contra uma possível “deriva comunista”.


Apesar de apoiar o golpe, Lacerda rompeu com o regime militar, especialmente após perceber que não teria chance de disputar a Presidência (seu objetivo era ser candidato em 1965). Em 1966, após as eleições serem suspensas, fundou a Frente Ampla com Juscelino Kubitschek, que também apoiou o golpe, e João Goulart, o presidente destituído, em oposição ao regime que ajudara a instalar.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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