Líder do União Brasil desiste de ser ministro e fragiliza governo Lula
O episódio é um aviso ao presidente Lula de que precisa abrir bem os olhos, porque seu governo é um arquipélago político que perde poder de atração
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O Arquipélago de Abrolhos é um tesouro natural localizado na costa da Bahia. São cinco ilhas principais e muitos pequenos recifes à flor da água, um santuário marinho de incrível biodiversidade e beleza cênica, frequentado por baleias jubarte em lua de mel. Seu nome tem origem nos perigos dos corais e rochas submersas, que dificultam a navegação e já causaram muitos naufrágios.
O nome Abrolhos veio de uma anotação da carta de navegação de Américo Vespúcio. Quando, em 1503, passou por essa região, escreveu: “Quando te aproximares da terra, abre os olhos”. Um dos naufrágios aconteceu com o padre José de Anchieta (“José de Anchieta – Cartas Informações Fragmentos Históricos e Sermões (Ed. Universidade de São Paulo)”.
O jesuíta viajava em companhia de outros padres, de Salvador para São Vicente, em duas naus. Na noite de 20 para 21 de novembro de 1560, uma tempestade surpreendeu a missão nos Abrolhos. A embarcação de Anchieta ficou bastante danificada e a de Leonardo Nunes, outro sacerdote, foi inteiramente perdida.
Outros naufrágios foram registrados no arquipélago: Loide 19, em 1950; Stachound, em 1943; Rosalina, em 1939; Arthemis, em 1932; ; Santa Catarina, em 1914; Elmete, em 1895; Nossa Senhora dos Prazeres Menor, Prinz Willem, Provintie van Uytrecht, Santa Rita, Santiago, Santo Antonio de Pádua e São João Baptista, em 1631. Afundado pelos ingleses na Primeira Guerra Mundial, o navio alemão Santa Catarina, achado há apenas sete anos, virou um dos pontos de mergulho mais populares do país.
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Diria um navegante português: mas que raios isso tem a ver com o líder do União Brasil, deputado Pedro Lucas, que não aceitou o cargo de ministro das Comunicações do governo Lula? O parlamentar do Centrão chegou a ser anunciado pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, como substituto de Juscelino Filho (União-MA), que pediu demissão da pasta após ser denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR), por desvio de recursos de emendas parlamentares ao Orçamento da União.
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O episódio é um aviso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que precisa abrir bem os olhos, porque seu governo é um arquipélago político que perde poder de atração. Os políticos aliados do Centrão temem um naufrágio eleitoral nas eleições de 2026. Esse sintoma explica o desinteresse em fazer parte da equipe ministerial, por exemplo, dos ex-presidentes da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A presença de Lira e Pacheco no governo seria natural depois de deixarem os respectivos cargos. Entretanto, nenhum dos dois foi formalmente convidado por Lula, ao contrário de Pedro Lucas, que chegou a aceitar o convite. Indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), porém, o parlamentar foi pressionado pela bancada da Câmara e pelo presidente da legenda, Antônio Rueda, a não aceitar o cargo.
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Uma esnobada dessa ordem corrobora a analogia com Abrolhos: a Esplanada está fragmentada, com os ministros aliados cada um cuidando do seu quintal, sem compromisso com a coesão do governo e a sua governabilidade. Não se trata nem de compromisso com o projeto de reeleição do presidente Lula, é com a governabilidade.
Pré-candidatos
Lula pode considerar desrespeitoso o comportamento de Pedro Lucas (União-MA), mas o fato é que a legenda tem um pré-candidato à Presidência: o governador Ronaldo Caiado, de Goiás. Apesar de o União Brasil ocupar três ministérios (Comunicações, Integração e Desenvolvimento Regional e Turismo), o gesto de Pedro Lucas mostra que o União Brasil está se afastando cada vez mais do governo. Muito embora o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União), que havia indicado Pedro Lucas, seja um aliado de Lula.
Lula também precisa abrir os olhos em relação ao PSD, que vai pelo mesmo caminho, seja ou não o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato à Presidência. O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), já tem o compromisso de Gilberto Kassab, presidente do PSD, de que terá legenda para concorrer contra Lula em 2026.
A propósito, o instituto Paraná Pesquisas, que presta ao PL, divulgou nova pesquisa ontem, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível, lidera a disputa pela Presidência em 20226 em todos os cenários. A longa hospitalização e o noticiário sobre a sétima cirurgia que fez, em consequência facada que levou na campanha eleitoral de 2018, podem ter influenciado o resultado, porém, as demais pesquisas confirmarão ou não.
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O fato é Bolsonaro registra 38,5% das intenções de voto, contra 33,3% de Lula. Ciro Gomes (PDT) surge em terceiro, com 9,7%. Em um eventual segundo turno, o ex-presidente ampliaria sua vantagem sobre o petista: 44,4% contra 38,8%. Quando o nome testado é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ele marca 27,3%, ficando atrás de Lula, com 34,0%. Já o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), atinge 16,2% — distante do petista, que aparece com 33,3%. A margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.