
Olhar integral da medicina sobre o paciente
Muitas enfermidades físicas são, na verdade, expressões de conflitos inconscientes que o paciente não consegue verbalizar
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Quando um médico observa um paciente, o que ele realmente vê? Apenas a doença ou a pessoa como um todo? Essa é uma questão fundamental que transcende a prática médica tradicional e adentra as esferas da psicologia, neurociência e comportamento humano. Os profissionais da sexualidade e especialistas em comportamento masculino compreendem que a grande maioria das queixas clínicas vai muito além dos sintomas físicos: elas refletem conflitos emocionais, traumas e dinâmicas psicológicas que afetam a qualidade de vida e os relacionamentos, sobretudo a sexualidade.
Muitos especialistas em medicina moderna focam exclusivamente nos sinais clínicos e biomarcadores, ignorando o fator humano por trás da enfermidade. No entanto, a mente e o corpo não operam de maneira separada. A ciência já comprova que o estresse, por exemplo, altera a produção hormonal que impacta o desejo sexual, a função erétil e a capacidade de conexão emocional nos relacionamentos.
Freud, em "Introdução à psicanálise", já nos alertava sobre a repressão dos impulsos e suas manifestações sintomáticas. Muitas enfermidades físicas são, na verdade, expressões de conflitos inconscientes que o paciente não consegue verbalizar. Sintomas como insônia, dores musculares crônicas, disfunções sexuais e até problemas gastrointestinais podem ser sinais de uma angústia psíquica não resolvida.
Segundo o urologista Ricardo Pádua, quando um homem entra no consultório queixando-se de baixa libido ou dificuldades na intimidade, é importante compreender o que está por trás desse sintoma. "Insegurança? Estresse profissional? Traumas passados? Crenças limitantes sobre masculinidade e performance?”, questiona.
Outro ponto a ser discutido é a cisão entre desejo e amor, um fenômeno amplamente discutido pela psicanálise. Muitos homens sofrem em silêncio porque não conseguem integrar o desejo erótico com o vínculo emocional, o que pode gerar dificuldades conjugais e até comportamentos compulsivos, como o consumo excessivo de pornografia.
“O olhar clínico que considera apenas a biologia falha em capturar essa complexidade. Como tratar uma disfunção erétil sem abordar a ansiedade de desempenho? Como restaurar a confiança no relacionamento sem compreender as dinâmicas inconscientes que o sabotam?” Acrescenta Dr. Ricardo.
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Além da psicanálise, a neurociência reforça a importância da abordagem integrada. O cérebro masculino opera com padrões distintos de resposta ao estresse e ao prazer, influenciados por neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a ocitocina. O toque, o olhar e a linguagem corporal desempenham um importante papel na construção do desejo e da intimidade, algo que não pode ser negligenciado na prática clínica.
Ricardo compartilha algo muito importante: “A verdade é que a sexualidade não é apenas um aspecto da vida, ela é a espinha dorsal da identidade, do bem-estar e da autoestima. Um médico que se limita a prescrever um medicamento para ansiedade sem investigar o impacto dessa condição na vida afetiva do paciente está deixando de lado uma parte essencial da cura”.
Muitas vezes, o único curso de tratamento eficiente e eficaz é quebrar as regras tradicionais e adotar uma visão integrada. Isso significa escutar o paciente além de suas palavras, observar sua postura, suas expressões, sua forma de relatar a própria história. Por exemplo, a análise corporal e comportamental são ferramentas poderosas para decifrar aquilo que o paciente não consegue expressar conscientemente.
A verdadeira cura acontece quando tratamos não apenas o sintoma, mas a pessoa como um todo. A sexualidade, os relacionamentos e o equilíbrio emocional são partes indissociáveis da saúde. Enquanto essa compreensão não for amplamente difundida, continuaremos a enxergar pacientes fragmentados, ao invés de seres humanos completos. Esse é o caminho da medicina.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.