Na Europa são gatinhos, no Brasil leões
No futebol brasileiro, atacantes enfrentam defesas fracas, esquemas táticos superados e deitam e rolam nos defensores
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Por que os atacantes brasileiros que fracassam na Europa voltam ao Brasil e arrasam as defesas adversárias? Temos alguns exemplos mais recentes e outros do passado.
Vou começar por Viola, ex-atacante do Corinthians, vendido para a Espanha, em 1995, para jogar no Valencia. Artilheiro no Brasil, campeão do mundo em 1994, chegou com toda a pompa, mas em pouco tempo estava pedindo para voltar. Comenta-se no meio que Viola “não teria se adaptado à comida do país”. Isso só pode ser uma piada. O que ele não conseguiu mesmo foi marcar os gols que marcava com a camisa do Timão.
Recentemente, tivemos Kaio Jorge, artilheiro do Brasileirão com 17 gols, que foi vendido pelo Santos para a Juventus, mas que não vingou por lá. Tem a seu favor o fato de ter sofrido uma séria contusão que o afastou dos gramados por 16 meses. Foi emprestado a times pequenos da Itália até chegar ao Cruzeiro, onde reencontrou seu belo futebol, sendo a sensação do Brasileirão. Velocidade, drible, presença de área, um belíssimo atacante. Com certeza, sua fase tem despertado o interesse dos europeus novamente e, em breve, o Cruzeiro deverá receber uma bela proposta por ele.
Vitor Roque foi cria do Cruzeiro, o Athletico-PR jogou sujo e o tomou, e em seguida o vendeu ao Barcelona por uma fortuna. Lá não conseguiu ser o atacante que demonstrava que seria. Foi mandado embora, emprestado ao Bétis, mas também não conseguiu furar as defesas espanholas. Foi aí que o Palmeiras se interessou, contratou e hoje ele é o artilheiro do time, formando bela dupla com Flaco Lopez. Porém, teve um começo ruim, contestado pelos torcedores, pois não marcava gols. Abel Ferreira não se intimidou, manteve o atacante e está colhendo os frutos. De “leão desdentado na Europa, virou o “tigrinho” no Porco.
Por que os jovens jogadores fracassam na Europa? Penso que eles vão muito cedo, sem estrutura familiar, sem saber a língua do país, sem entender que o frio lá é um complicador. Os empresários, ávidos por ganhar comissões, não querem saber se o jogador está preparado ou não para o Velho Mundo. Querem que o clube venda para engordar suas contas bancárias. No passado, os jogadores saiam do Brasil com 28 anos, casos de Zico, Cerezo, Falcão e outros mais. Bem maduros, já craques, e não havia como errar. Falcão foi o “Rei de Roma” e levou a equipe ao título do Calcio, depois de 60 anos de seca. Zico, na Udinese, dividiu a artilharia do Calcio com Platini, que jogava na Juventus. Cerezo ganhou o Scudetto com a Sampdoria e brilhou também na Roma. Os jogadores iam preparados, sabedores do que encontrariam.
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Atualmente, tenho uma explicação para o fracasso dos jovens brasileiros na Europa e para o sucesso por essas bandas daqui. É simples: no Brasil, enfrentam defesas fracas, esquemas táticos superados e deitam e rolam nos defensores. Peguem como exemplo a Seleção Brasileira. Está com Marquinhos há três copas, fala até no fracassado Thiago Silva e não consegue formar zagueiros de qualidade. Por isso, o Brasil tem sido eliminado, sistematicamente, nos Mundiais.
Até mesmo os jovens que atuam na Europa como atacantes e não voltaram não são protagonistas de nada. Matheus Cunha e Richarlyson, convocados por Ancelotti, sem merecerem, tem pouquíssimos gols. O “pombo” é um fracasso só no Tottenham e tem apenas 5 gols na temporada, mas a cadeira cativa com Ancelotti está lá. Cunha está no United e fez até um gol outro dia, mas é muito pouco.
É preciso preparar o atleta, o homem, o cidadão. No mínimo, aprender o idioma do país onde vai jogar, entender os costumes e se preparar para tal. Os jovens chegam lá sem entender a história, a cultura, a tradição do país, sem contar que as defesas europeias são fortíssimas e os zagueiros não dão a moleza que existe no futebol brasileiro.
Eu gostaria que o nosso futebol pudesse segurar um pouco mais os jogadores promissores, mas, de pires na mão, a solução é vender o atleta, por dinheiro no caixa e repatriar ex-jogadores em atividade. É isso o que temos visto ao longo dos últimos tempos. Curiosamente, li num jornal inglês que já há outros clubes interessados em Vitor Roque pela fase no Palmeiras. Será outro erro grave caso ele seja vendido. Mostrou que não está preparado e não tem a menor condição de atuar no Velho Mundo. Pelo dinheiro, sim, pois em um contrato o cara fica milionário, mas, entre jogar e ganhar menos, ou ficar na reserva e ganhar fortuna, os atletas sempre optam pela segunda, claro, orientados pelos empresários sanguessugas.
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É preciso que formemos zagueiros de qualidade e com a chegada dos técnicos europeus no Brasil temos visto uma melhora significativa. Fabrício Bruno, Léo Pereira e Léo Ortiz são os três melhores zagueiros brasileiros em atividade por aqui. Fabrício é treinado pelo mister Leonardo Jardim, português de grande capacidade. Os dois zagueiros do Flamengo, por Filipe Luís, que vem da escola europeia, pois jogou por lá durante 15 anos. Por isso, os técnicos que vem de fora estão engolindo os treinadores brasileiros, que são preguiçosos, não se atualizam e ganham fortunas enganando aqui e ali. Mas esse é um assunto para outra coluna. Gostaria de ver os “leões artilheiros no Brasil”, brilhando também na Europa, mas isso só acontecerá se forem vendidos mais maduros, mais conscientes do que vão enfrentar e na hora certa. E você, o que pensa sobre isso?
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
