
Os bastidores de um título
O refrigerante. 128 garrafas. Isso em cinco dias. Muita coisa, pois eram apenas nove jogadores, mais o técnico e um auxiliar
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Para quem não sabe, os bastidores de uma equipe de futebol são mais animados do que se pode imaginar. Para começar, o ambiente é propício à amizade. E isso supera qualquer coisa, como por exemplo o técnico ser visto, muitas vezes, como um carrasco, pois ele toma conta de tudo, de todos. Na verdade é um paizão. Mas na hora de entrar em quadra, ou campo, ele é a cabeça pensante. E todos respeitam suas decisões, determinações e orientações. Não fosse assim, não chegaria à vitória.
Aliás, as histórias vão muito além das quadras. Falo do futebol de salão, hoje futsal. E o grupo do Atlético, campeão da 5ª Copa Brasil de Futebol de Salão, em 1985, tem é história pra contar. Aliás, não só os jogadores desse time, especificamente, mas vários outros atletas de futebol de salão da mesma época. Na verdade, não importava se estivesse numa equipe diferente, pois o esporte era uma grande família.
Vejamos. Fase de classificação da 5ª Copa Brasil, em Juiz de Fora. O grupo está num hotel. Foram apenas cinco dias de hospedagem, tempo para disputar a competição. Na época, o dinheiro era muito curto. Não havia patrocinadores no esporte. O clube tinha que bancar as despesas, e não foram poucas as vezes que atletas e jogadores pagavam. Literalmente, se pagava para jogar.
Terminada a fase de classificação, o Atlético garantiu a ida para a fase final, em São Paulo. É hora de acertar as contas no hotel. E lá vai o treinador fazer o acerto. Na maioria das vezes, ele seguia com o grupo de jogadores e tinha, às vezes, de se fazer de diretor, cuidar de tudo, da parte administrativa, além de zelar pelos jogadores. Aliás, o técnico recolhia o uniforme de todos eles após as partidas e levava o material para lavar, ou, muitas vezes, ele mesmo lavava.
Pois lá vai o Ari Lages, o técnico campeão. Chegou na recepção e pediu a conta. Pagou, mesmo tendo achado que ficou mais cara do que se havia pensado, calculado, estimado. Ele então vai verificar o que poderia ter elevado a conta. Achou!!!
O refrigerante. 128 garrafas. Isso em cinco dias. Muita coisa, pois eram apenas nove jogadores, mais o técnico e um auxiliar técnico, o Bizarria.
Resolveu, então, reunir o grupo de jogadores para saber se era aquilo mesmo. Um por um foi falando. Um diz cinco. Outro, seis, Dois falaram oito. Dez para o quinto. Aí veio a relação. Nos dois últimos. Chega a vez do beque falar: 27. Era o Véio, que mais tarde foi bicampeão brasileiro e campeão mundial pelo Atlético. E logo depois dele Mauricinho emenda. “Bebi 25”.
Pronto. já se sabia de onde veio o gato anormal. A consequência disso foi que, na fase final, o refrigerante dos dois foi regulado. O treinador entregava uma garrafa, a cada um, em cada refeição, e só.
Pois Mauricinho foi jogar, depois de deixar o Galo, na Itália. Lá estava um grande amigo, também jogador de futebol de salão, “Cláudio Loro”. E esse era, e é, até hoje, um gozador.
Pois Loro foi recepcionar o amigo Mauricinho, que tinha ido, como ele, para jogar futebol de salão. Só que resolveu levar o amigo, na primeira noite, a uma boate. Mauricinho não falava nada de italiano. Loro sim. Pois foi só entrar na boate que ele deu um jeito de chamar a atenção para o amigo. Espalhou na boate inteira que ali, com ele, estava o novo reforço da Roma, o time de futebol de campo.
“Daí a pouco, as mulheres, quase todas, queriam dançar com ele. Até uma senhorinha, de uns 80 anos, lhe pediu uma dança. E eu o incentivava.” Dizia que ele não podia negar nada, pois o tinha apresentado como brasileiro, craque de futebol, mas não falou de qual. Resultado. No final da noite, Mauricinho estava morto de tanto dançar. E só quando foram embora, foi que o Loro contou ao amigo o que tinha feito. A vontade do Mauricinho era matar o amigo… da onça.
Mas antes disso, a fase final da Copa Brasil, em São Paulo. No ginásio do Palmeiras, na estreia da fase de classificação, vitória sobre o Sumov (CE), 3 a 1. Em seguida, um empate com o Paraibano Cabo Branco, 0 a 0. Na terceira partida, um 9 a 0 sobre o Canadá (PR). No último jogo da fase, um empate com o Palmeiras, 3 a 3. Veio a semifinal e uma vitória para impor: 5 a 2 sobre o Internacional, de Porto Alegre.
A vaga na final. O adversário, o Palmeiras, dono da casa. Pois bem. Os paulistas tinham sido adversários na fase de classificação. Portanto, o técnico Ari mudou o esquema de jogo. Chegou até pivôs nas alas. E o Atlético fez 1 a 0, 2 a 0, 3 a 0, 4 a 0, 5 a 0, 6 a 0, 7 a 0. Um show. Gols de Rodrigão (3), Ronan (2), Renato e Magal. Mas naquele momento, um terror, pânico para os jogadores. A torcida do Palmeiras começa a gritar que ninguém sairia vivo dali, que “o pau ia quebrar”.
O Palmeiras marcou duas vezes. Mas não tem importância. Mesmo com ameaças, com clima de terror, os meninos seguraram a vitória. 7 a 2, no final. É hora de levantar o troféu, dar a volta olímpica. Mas ninguém comemorou na quadra. Diante das ameaças, todos correram para o vestiário e lá festejaram. Somente mais tarde retornaram à quadra, para receber o troféu.
Helinho e Isnard, os goleiros. Véio, o beque. Renato, Rodrigo, Paulinho, Mauricinho e Magal, os alas. Ronan, o pivô. Ari Lages, o técnico. Pois é. Eram apenas oito jogadores, que fizeram histórias, aliás, histórias não faltam para eles contarem. Depois conto outras.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.