
Funk tem história e vai passando sem pedir licença pra ninguém
O funk surge de uma demanda social, expressa o cotidiano e a forma de pensar das periferias e sofre marginalização e preconceito
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Ao som do feat “Perfect”, funk cantado por Bia e MC Pikachu, o ator Pedro Pascal fica alegre e começa a dançar na propaganda de lançamento mundial dos AirPods 4 da Apple.
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O funk está prestes a ter um boom global, isso está escrito numa reportagem do jornal The Economist, e talvez este seja o novo momento da música brasileira no mundo. Por essa razão, é bom sempre destacar que esse ritmo dançante nacional é negro e periférico, assim como suas influências, nascidas nos guetos negros americanos.
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Nas ruas do Bronx, bairro negro de Nova Iorque, na década de 60, surge o scratch, método conhecido por arranhar o disco no sentido anti-horário, criado pelo DJ Grandmaster Flash, influenciado por Kool Herc, DJ jamaicano – segundo pesquisa de Hermano Vianna, um dos primeiros pesquisadores a falar sobre a história do funk. Essa técnica foi incorporada mais tarde pelos DJs de baile funk do Rio num processo chamado de montagem, método que une diversos trechos de músicas e sonoridades para criar uma faixa.
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Meu amigo e DJ Meme inclui um tempero importante nesta mistura. O som do DJ Afrika Bambaataa e seu clássico “Planet Rock”, lançado em 1982.
O som muda com a chegada do Miami bass, um subgênero do hip-hop com batidas eletrônicas, criado nos bairros negros de Miami, nos anos 80 e 90. “A partir deste momento, o funk teria outra estética sonora, não mais com instrumentos musicais, mas baseado em aparelhos eletrônicos”, aponta Jorge Márcio do Nascimento, autor da dissertação “Blacks, Bondes e Bailes: Narrativas e Identidades no Ambiente Funk”.
Para aqueles que gostam de música eletrônica, o funk é considerado o primeiro gênero brasileiro desse estilo, que saiu da influência do Miami bass para o tamborzão, de origem africana, nos anos 2000.
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Com a batida mais cadenciada do tamborzão, foi na virada do milênio que o funk cresceu em potencial econômico. Popularizado por DJs como Marlboro, ganhou reconhecimento internacional com Anitta, uma das responsáveis por levar o ritmo para terras estrangeiras.
“É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado”
Busquei diferentes pesquisas para falar um pouco da história desse gênero, que é mais que um fenômeno musical que alcança o mundo, é uma revolução social e cultural, porque bebe da fonte de movimentos como o Black Power, um símbolo de luta por direitos, resistência e valorização da identidade negra.
Assim como o samba, também de raiz negra, o funk surge de uma demanda social, expressa o cotidiano e a forma de pensar das periferias e sofre marginalização e preconceito.
Com suas letras ousadas, não é só música, é dança e modo de se vestir, incomoda muitos porque é cultura de jovens periféricos, é “som de preto, de favelado”, como diz a letra de Amilcka e Chocolate.
Esses jovens não pedem licença pra ninguém, não precisam de grandes selos musicais, criam os próprios. Há até casos de produtoras que já fizeram M&A.
O Brasil está subindo no ranking dos 10 maiores mercados musicais do mundo, com estimativa de superar US$ 1 bilhão até 2031 em música gravada, conforme a MIDiA Research. E acredito que o funk está entre os que estimulam esse crescimento.
O gênero merece estar no mundo e ter a sua história contada e reconhecida.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.