
Mineirão, o Gigante Cruzeirense: história de recordes, fidelidade e destino
É do Time do Povo Mineiro absolutamente todos os recordes do estádio. Entre eles, o de número de jogos e títulos
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Dias antes da inauguração do Mineirão, o então presidente do Cruzeiro Felício Brandi fez uma de suas rotineiras – quase diárias – visitas às obras. Conhecia os operários pelos nomes; os cumprimentava como quem dividisse com eles o relógio de ponto. A intimidade era imensa, mas ninguém podia prever o que passava em sua mente.
No 5 de setembro de 1965, uma cidade inteira rumou para a longínqua região da Pampulha, em Belo Horizonte. Era dia do nascimento de um gigante com corpo de concreto, veias de aço, pele de grama e alma azul celeste.
Domingo de sol. As pessoas foram chegando em clima de festa. As primeiras a terem a sensação indescritível de subir as escadarias, cruzarem a boca das arquibancadas e se depararem com a visão mágica da imensidão verde ao centro.
Veio, então, a surpresa geral. À direita das cabines, onde a sombra era maior, uma enorme bandeira estava estendida atrás do gol. Longas cordas a amarravam. Duas pontas fixadas na beirada do fosso e as outras na cobertura das arquibancadas. Nela, pintada a mão, uma raposa com short branco, camisa azul e cinco estrelas. Nos pés com chuteiras, uma bola dentro do gramado. Ao lado, os dizeres: “Ôooba, estou aqui, minha gente.” A partir daí, aquele lado da nova casa do futebol mineiro passou a ser da torcida cruzeirense.
A primeira das inúmeras lindas histórias dessa dupla – Mineirão e Cruzeiro – que apresentou o futebol de Minas Gerais para o Brasil e para o mundo em 1965/1966. Um construído para ser a casa de outro. O Mineirão já nasceu sendo o Gigante Cruzeirense da Pampulha.
No primeiro ano, 12 jogos e 12 vitórias. No segundo, em 1966, o Mineirão e o Cruzeiro protagonizaram o maior jogo da história do futebol mundial, quando o time do Rei Pelé levou 6 a 2.
Dali até os dias de hoje, é o Cruzeiro quem escreveu (e continuará escrevendo) as mais lindas páginas heroicas e imortais do Mineirão. Alguns clubes visitantes tiveram conquistas no estádio; desde internacionais, como o Bayern de Munique, a outros de menor expressão, como a dupla Frigoarnaldo e Atlético de Lourdes.
Mas é do Time do Povo Mineiro absolutamente todos os recordes do estádio. Entre eles, número de jogos e títulos. A primeira Copa Libertadores; a única Supercopa Libertadores; quatro Copas do Brasil; três Campeonatos Brasileiros e dezenas de regionais.
Ainda coube às mulheres e crianças cruzeirenses um capítulo incontestável. No dia 22 de junho de 1997, graças a elas, foi conquistado o eterno recorde de público do Mineirão: 132.834 pessoas.
Nem só de números, títulos e partidas inesquecíveis se constrói uma história de amor. A fidelidade é a qualidade mais admirável quando o enredo trata da paixão pelo futebol. Torcida, time e muito menos a identidade entre clube e estádio podem ser traídos.
Durante seis décadas, o Cruzeiro e a Nação Azul jamais (jamais!) abandonaram o Mineirão por escolha própria, por ganância ou para enriquecer donos de bancos, construtoras, hospitais, entre outros bilionários de um Brasil Miséria.
Uma história linda de fidelidade entre Cruzeiro e Mineirão. Assim, ao chegar aos seus 60 anos de idade, o Gigante Cruzeirense continua sendo a casa do Time do Povo Mineiro.
Agora, um sonho – ou destino. Que em um futuro próximo o Mineirão passe, de fato, a ser administrado por quem lhe deu vida e grandeza; recordes e títulos; história e fidelidade; amor e alma. Que, assim, o Gigante Cruzeirense possa homenagear as mulheres e crianças de 1997 e passe a se chamar Estádio Maria Salomé.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.