
O Cruzeiro em busca das suas Gabrielas pelo interior de Minas
O Cruzeiro precisa cativar, demonstrar respeito e aumentar o seu principal ativo (a Nação Azul) onde ele estiver
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Gabriela quis vestir sua mais linda roupa de festa. Pediu e foi atendida. Meias, short e camisa do Cruzeiro. Tudo para combinar com o tema de seu aniversário de 6 anos, que seria celebrado no distrito de Bandeirantes, antigo Ribeirão do Carmo, em Mariana, interior de Minas Gerais.
A festa ia longe, quando, ao cair da noite, o coraçãozinho de Gabriela começou a bater mais acelerado do que o de costume. Era chegada a hora de cantar “o parabéns”. “Para tudo! Ainda falta chegar um convidado”, gritou uma moça de cabelo rosa, ao microfone da banda, que àquela altura, já havia se silenciado.
Érica e Paulinho, pais de Gabriela, perceberam um misto de surpresa e desespero em Gabriela. A irmã mais velha, Marina, queria uma solução rápida para o impasse, pois também esperava para soprar as velinhas do seu aniversário de 9 anos.
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Enquanto a criançada guardava lugar em frente aos bolos e docinhos, os adultos formaram uma meia-lua no fundo do salão, com Gabriela ao centro. Uns, curiosos por conta do misterioso convidado atrasado; outros, amparando a garotinha para ela não se entristecer.
“Ele chegou!”, a moça gritou novamente. O alívio geral veio ao som do hino do Cruzeiro, que ressoou lindamente por todos os cantos daquela chácara do interior mineiro.
“O Raposão chegou!” Os doces olhos cor de jabuticaba de Gabriela cintilaram. O sorriso tomou seu rosto de um jeito que até as cinco estrelas da sua camisa brilharam mais forte.
Ainda em êxtase, a aniversariante estendeu as mãos para ganhar um super abraço do mascote do Cruzeiro, seu time de coração e tema escolhido por ela para sua festa de aniversário.
Encostado na mesa de salgadinhos, eu quis ser Gabriela para também brincar com o Raposão. Ali, ao contemplá-la rodopiando ao som das músicas do Cruzeiro, eu vi o menino Gustavo com 6 anos. Garotinho do interior de Minas que sonhava, um dia, poder assistir o seu Cruzeiro jogar.
Do lúdico ao racional. Quando nós e o Raposão terminamos de cantar os parabéns para Gabriela, Marina e Paulinho – que também completava 50 anos –, passei a refletir sobre a potência do anúncio recente de Pedrinho do SuperPovão BH sobre sua intenção de levar o Cruzeiro para mandar alguns de seus jogos de 2026 em cidades do interior.
Se na Região Sul de BH, por conta do pernicioso controle político e financeiro dos Bilionários do Brasil Miséria sobre a “aldeia” (como é conhecida parte da imprensa de Belo Horizonte), o Atlético de Lourdes se aproxima do número de torcedores do Cruzeiro, no interior de Minas Gerais, a Turma do Sapatênis não é nem bicho-de-pé para fazer cócegas. A Nação Azul é disparada a maior torcida nos mais de 800 municípios mineiros.
Mas nem sempre foi assim. Antes de 1966, o Cruzeiro não tinha uma parcela significativa de torcedores no interior do estado. Tudo começou a mudar com a mente brilhante do maior presidente da história do Palestra/Cruzeiro, Felício Brandi. Foi ele quem percebeu que não bastaria ter os artistas (o escrete) e o maior palco (o Mineirão). Também era preciso formar, cativar e ampliar o público consumidor (a torcida). Em outras palavras de Fernando Brant e de Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”.
Jogadores visitavam escolas. Brindes do Cruzeiro eram distribuídos em todas as cidades onde o time jogava. Excursões eram programadas para amistosos pelo interior de Minas e do Brasil. Quem não podia ir ao Mineirão tinha a chance de conhecer de perto seus ídolos e, assim, consolidar o seu amor pelo Time do Povo Mineiro.
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Daí a importância do anúncio feito pelo mandatário da SAF Cruzeiro. O Cruzeiro precisa cativar, demonstrar respeito e aumentar o seu principal ativo (a Nação Azul) onde ele estiver.
Quantos novos torcedores uma iniciativa dessa tem o poder de conquistar? Quantos futuros sócios-torcedores, cujos pais não têm condições de levá-los a Belo Horizonte, sonham em brincar com o Raposão? Que o Cruzeiro leve adiante essa ideia genial de abraçar suas muitas Gabrielas pelo interior de Minas Gerais.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.