Gustavo Nolasco
Gustavo Nolasco
DA ARQUIBANCADA

De cinco euros no bolso a manager do Maior de Minas

De maneira rápida, Leonardo Jardim mostrou capacidade e motivação para ser não só o treinador do Cruzeiro, mas também para reorganizar a casa

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O Largo da Achada, na freguesia de Camacha, cidade de Santa Cruz, na Ilha da Madeira, foi o primeiro local onde se praticou futebol em Portugal, em 1875. Um século depois, mesmo que ali se continuasse a respirar o esporte, a notícia da badalada contratação do treinador Vanderlei Luxemburgo pelo Cruzeiro, em 2002, passou despercebida.

As atenções estavam voltadas para a Associação Desportiva da Camacha, que curtia as primeiras temporadas de sua história na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, disputando a II Divisão da Série B.

Compondo a comissão técnica liderada pelo lendário José Moniz, estava um garoto de 28 anos. José Leonardo Nunes Alves Sousa Jardim. Ele – e ninguém – poderia imaginar que, 23 anos depois, um roteiro muito parecido com o início de Luxemburgo no Cruzeiro seria escrito no mesmo clube brasileiro.

Quando chegou ao Cruzeiro, Luxemburgo já era uma estrela do futebol mundial, com passagem pela Seleção Brasileira. Ao assinar seu contrato, encarou o presidente do clube, Alvimar Perrella, e disparou: “Eu não vim para disputar contra o Atlético. Vim para ser campeão de tudo.”

Luxemburgo, então, iniciou um processo inédito dentro do Cruzeiro. Não foi só um treinador. Passou a tratar diretamente e estrategicamente de cada uma das contratações (Alex, Aristizábal, Deivid, Maldonado, Zinho, entre outros). Tirou o lateral Maurinho do Santos com o intuito de quebrar a espinha dorsal daquele que via como o principal adversário do Cruzeiro.

O treinador – e quase manager – também remodelou setores estratégicos como o de preparação física e de nutrição. Mudou drasticamente a rotina de treinamentos e cuidou pessoalmente da formação de jovens talentos, como o goleiro Gomes e o volante Augusto Recife.

Terminou a temporada de 2002 sem se classificar para as fases finais do Brasileirão, mas, com tudo pronto para cumprir o que havia prometido ao presidente: ser campeão de tudo. Foi o que aconteceu na temporada seguinte, com a Tríplice Coroa de 2003.

No mesmo ano, na Ilha da Madeira, Leonardo Jardim foi o escolhido pelo presidente Aurélio Antunes para substituir José Moniz no comando da AD Camacha. Ao explicar a escolha pelo jovem auxiliar, o dirigente lembrou o fato dele ter bebido na fonte do maioral Moniz, além de destacar seus méritos próprios: liderança nata, voraz estudioso do futebol e capacidade incrível de “conseguir com os meios disponíveis fazer o máximo”.

Jardim honrou e jamais esqueceu do mestre Moniz. Ao conquistar o primeiro título importante da carreira – com o Beira-Mar, em 2009/2010 – lhe dedicou a medalha. Portugal, Grécia, França e Oriente Médio. Uma sequência vitoriosa até chegar ao Cruzeiro.

Não foi o caso de Luxemburgo em 2002, mas uma crise interna – e de resultados – nos primeiros meses de Leonardo Jardim foi fundamental para que ficasse claro para o presidente da SAF Cruzeiro o quão ruim era o trabalho de seu CEO, Alexandre Mattos, e do elenco e do estafe montados por ele.

“Ter investimento não é sinônimo de bons jogadores”, apontou Jardim sobre a falta de critérios nas contratações feitas por Mattos. Agora, assim como Luxemburgo, em 2002, ele comandará uma janela de contratações neste ano. O ex-presidente do AD Camacha, certa feita, revelou ao Semanário Tribuna Expresso: “ele (Jardim) é muito econômico e gere bem o plantel. Assim como o seu próprio dinheiro. Por isso, ele só andava com cinco euros na carteira. Sempre só cinco euros (risos).”

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De uma maneira muito rápida (para a nossa sorte), Leonardo Jardim mostrou capacidade e motivação para ser não só o treinador do Cruzeiro, mas também para reorganizar a casa, como fez Luxemburgo em 2002. Ele tem sido líder, estrategista, manager e craque.

Com Jardim, estamos vivos na Copa do Brasil e no Brasileirão – e podendo sonhar. Mas se, por um lado, ainda estamos muito longe de uma realidade grandiosa como a Tríplice Coroa de 2003, por outro, a mais urgente conquista já veio: o Cruzeiro está nas mãos de quem realmente entende de futebol.


As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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