Gustavo Nolasco
Gustavo Nolasco
DA ARQUIBANCADA

A ultramaratona de um gigante chamado Cássio

Estava escrita uma pequena e emocionante história de três gigantes: um goleiro, uma torcida e o mais lindo clube de futebol do planeta Terra

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Quando Cássio terminou de correr os 105 metros de extensão do gramado do Mineirão, saltando sobre a montanha de jogadores já abraçados a Gabriel, ao som da explosão de alegria da Nação Azul, o arqueiro concluiu uma ultramaratona de 7.890 quilômetros que, de forma épica, percorreu durante 11 dias. Da falha à reflexão. Da troca de ofensas às lágrimas do perdão. Da superação à premiada paz de espírito. Estava escrita uma pequena e emocionante história de três gigantes: um goleiro, uma torcida e o mais lindo clube de futebol do planeta Terra.

 

 

Tudo começou no Estádio Francisco Sánchez Rumoroso, na comuna Coquimbo, província de Elqui, no Chile. Mais especificamente debaixo das traves voltadas para o lado do Oceano Pacífico. Já era noite. Pelicanos e gaivotas, fartados dos peixes descartados pelos pescadores na Playa Changa, já dormiam sobre o telhado de zinco da Feria La Costanera.

O Cruzeiro caminhava para uma derrota por 1 a 0 para o Palestino. Na arquibancada, atrás de Cássio, cerca de 20 torcedores cruzeirenses. Quase todos revoltados com o desempenho vergonhoso do time. O silêncio foi rompido por um grito de cobrança em direção ao arqueiro. Ele se virou, encarou sua própria torcida e movimentou a cabeça em sinal de discordância.

 

 

O Cruzeiro empatou, no gol do lado voltado para as Cordilheira dos Andes. Mas a esperança por uma virada durou pouquíssimo. A bola volta à área cruzeirense e Cássio – já abalado psicologicamente – a deixa escapar de suas mãos. Escanteio. Gol do Palestino.

Explosão de ódio. Xingamentos direcionados ao goleiro celeste. Com o dedo médio em riste, ele devolve a ofensa. Parecia ser o capítulo final da história de Cássio no Cruzeiro. Mas os 30 passos do gramado até a boca do túnel eram, na verdade, os primeiros da ultramaratona que o gigante – sem saber – iria percorrer.

No dia seguinte, o avião ganhou altura por sobre as minas de cobre. O árido, aos poucos, foi se transformando em montanhas gélidas. Com o coração machucado, o gigante Cássio mal notou o transpor dos Andes. O que seria dele e do Cruzeiro quando pousassem no Triângulo Mineiro para enfrentar o Vasco?

 

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Aquele era o momento da maratona em que o corpo inteiro dói. Tentando convencer a mente a desistir. Mas a cada quase gol do time carioca, Cássio dizia “não”! Aguentou as pancadas. Bloqueou qualquer possibilidade de derrota. Foi um gigante pela própria natureza. Deu a vitória ao time. A superação lhe fez verter lágrimas. Embaladas por uma arquibancada que queria fazer as pazes com seu gigante.

Belo Horizonte. Agora, o Gigante da Pampulha. Contra o Vila Nova, pela Copa do Brasil, o corpo precisava de descanso, mas o arqueiro seguia na pista de corrida. Coube ao pelotão da frente correr por Cássio. Outra vitória. Essa, não veio dele, mas sim, para ele.

 

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Flamengo. Outra volta da Pampulha. Passos finais. Os mais difíceis. Mas quando pisou no gramado, foi ovacionado por quem, 11 dias antes, o queria longe do Cruzeiro. Cássio sorriu, agradeceu e seguiu fazendo defesas incríveis.

Último minuto. Já quase na linha de chegada, avistou o pênalti. Gol! De longe, assistiu uma avalanche ser formar em cima de Gabriel, que com as mãos espalmadas para baixo, respeitava seu ex-clube, mas parecia também dizer: “esperem o gigante”.

Cássio então puxou fundo o ar do pulmão e disparou para seus últimos 105 metros. Cruzou a linha de fundo contrária e saltou sobre os companheiros. Vitória. Um fim épico de uma ultramaratona.

 

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Cássio parou no círculo central. Olhou a cordilheira de cruzeirenses a festejar. O dedo médio, que antes esteve em riste, movido pela raiva, agora, se recolheu. Os dois punhos cerrados se colaram bem à frente do coração, na altura do escudo do Cruzeiro. Em meio à festa, ele fez o sinal de união. De juntos, colados. Com os olhos brilhando de alegria voltados para a arquibancada.

Cássio entendeu seus erros. A Nação Azul também reconheceu os dela. Ali, bem longe de Coquimbo, escrete e torcida se reconectaram para, lado a lado, voltarem a escrever outras maratonas heroicas e imortais do Cruzeiro querido. 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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