
No Jardim do Cruzeiro não terá mais cadeira cativa (tomara!)
O time controlou o jogo (no Morumbi) pela obediência tática dos escolhidos pelo treinador, e não por Pedrinho do SuperPovão BH ou pelas megalomanias de Mattos
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Para financiar as obras da construção do maior estádio do mundo, o Maracanã, em 1947, a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou a venda de aproximadamente 5.000 cadeiras cativas. Quem as adquirisse teria direito ao uso ilimitado por cinco anos. Pouco depois, ainda antes da inauguração, a lei foi alterada e ao pagarem um valor adicional, os proprietários das cadeiras as transformavam em perpétuas.
As cativas também existiam no Mineirão. Quem frequentou o Gigante da Pampulha no século passado se lembra do setor logo acima das antigas cabines de rádio, com assentos de metal fixados no chão de concreto. Entre as quais, a do ex-presidente Tancredo Neves, torcedor do América de Belo Horizonte, que, depois de falecer, teve seu nome pintado nela.
As cativas se foram. Arrancadas, tanto no Maraca quanto no Mineirão, durante as obras de modernização de ambos os estádios, no início desse século. Mas uma cadeira insiste em se manter cativa nos dias atuais, pelo menos por enquanto: a do CEO da SAF Cruzeiro na Toca da Raposa 2, Alexandre Mattos, mesmo com todo o prejuízo desportivo e financeiro auferido até aqui.
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Mas no último domingo, no Brasileirão, vieram os primeiros sinais de que essa derradeira cadeira já não está tão cativa e poderosa assim. O recado foi muito bem dado pelo treinador Leonardo Jardim ao escalar a equipe para o confronto contra o São Paulo. Daqui por diante, sob o seu comando, ninguém será titular cativo. Não importa se é queridinho do presidente ou se recebe salários estratosféricos acordados entre empresários e a equipe de Mattos. Agora, para estar entre os 11 do escrete do português, será preciso manter a performance sempre em alta. Caso contrário, o assento será um banco (de reservas), seja medalhão ou não.
Dudu e Gabriel entre os suplentes, no domingo passado, foi uma surpresa recebida com concordância. Mesmo esses jogadores não tendo motivos para receberem vaias ou cobranças públicas, como realmente ainda não receberam, verdade seja dita, a torcida cruzeirense (e bem provável o próprio Leonardo Jardim) já estava se incomodando com a ineficiência ofensiva da equipe.
A mesma anuência com a presença de Fagner na lateral direita. Até mesmo as entradas forçadas de Villalba na zaga e de Christian no meio campo acabaram por encher os olhos de quem não aguentava mais os erros sucessivos do setor defensivo e na marcação.
Matheus Pereira – que já perdeu o status de cativo há alguns jogos –, continua sendo apenas sombra do que se espera de um camisa 10 diferenciado. Mas, ao menos dessa vez, teve gana em jogar futebol. Lutou. Procurou o jogo. Tinha vontade nas pernas e nos olhos. Não levou para o gramado a imagem do personagem da hiena Hardy (“oh vida, oh céus, oh azar… isso não vai dar certo!”), como vinha fazendo nos últimos meses.
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Além de passar segurança – mesmo levando mais um gol “de treino” –, o time deixou evidente que os jogadores escolhidos para entrar em campo seguiram à risca a orientação tática dada pelo treinador. Foi um time compacto, como Jardim gosta. Ao ponto do São Paulo testar a postura defensiva do Cruzeiro de todas as formas e terminar a peleja sem conseguir encontrar “um ponto franco” por onde pudesse ter martelado até dominar a partida.
O time controlou o jogo claramente pela obediência tática dos escolhidos por Leonardo Jardim – e não por Pedrinho do SuperPovão BH ou pelas megalomanias de Mattos. Pelas circunstâncias, o empate fora de casa e contra o nosso principal algoz do futebol brasileiro, foi um bom resultado. Tanto é que a Nação Azul presente no Morumbi deu um verdadeiro show nas arquibancadas, fazendo ecoar os cânticos celestes de esperança por uma guinada daqui por diante, com um Cruzeiro sem cadeiras cativas.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.