Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

O 'gerundismo' contra a capacidade de realizar?

O 'gerundismo' e a paixão pelo diagnóstico estão apagando a vontade de fazer; com o tempo, apagarão a nossa capacidade de realizar

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O mundo perdeu, na semana passada, Kongjian Yu, arquiteto e urbanista, professor da Universidade de Pequim e diretor do escritório de arquitetura paisagística Turenscape, criador do conceito das “cidades-esponja”

O primeiro projeto em que Kongjian Yu aplicou o conceito de “cidades-esponja” foi o Beijing Zhongguancun Life Science Park (2000), com um conjunto de pântanos construídos em terraços (“earth-life cells”) que captam a água da chuva concentrada no verão, desacelerando o escoamento, filtrando e reutilizando a água no próprio campus. A partir daí, o sucesso foi tão grande, que a China adotou o conceito de “cidades-esponja” como política nacional, desde 2013. 

 

Para além da inteligência de reter — e aproveitar — a água no local onde cai, ao invés de precisar recolher e transportar, a infraestrutura tipo “esponja” é bela, e torna as cidades mais bonitas, mais humanas e cria áreas de lazer (toda essa infraestrutura vem em forma de parques, com lagoas, escadas d’água e espelhos-d’água, passarelas suspensas, locais de piquenique, de contemplação, mirantes, etc.).

As “cidades-esponja” são projetos de longo prazo, em escala monumental (escala de cidade), a partir de uma visão de futuro e objetivos bastante claros. É um projeto “de Estado”, e não uma iniciativa “de governo”. É infraestrutura pública, executada com recursos públicos, e não um conjunto de medidas difusas com responsabilidades terceirizadas para o setor privado, como são as áreas de permeabilidade nos lotes e as caixas de retenção para água pluvial, obrigatórias em várias cidades brasileiras (e, sem a menor relevância real, são mais uma “política de papel”). 

Se lá, o poder público aposta em inovação, cria políticas públicas e lidera a mudança, arcando com os custos e implantando a solução, aqui, fazemos seminários, papers, encontros e criamos legislação que, ao invés de abraçar a inovação e a inteligência, terceiriza a responsabilidade do poder público para os empreendedores privados. 

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Enquanto a China e várias cidades europeias resolvem problemas históricos de drenagem e alagamentos com a implantação de infraestrutura verde de grande porte, o Brasil continua debatendo, discutindo, escrevendo, legislando e transferindo responsabilidades, num eterno “gerundismo” (indo, endo, ando…) sem qualquer chance de sucesso. Suspeito que, no Brasil, tenhamos perdido a capacidade de perceber a diferença entre “querer fazer” e “realizar”. Vivemos no gerúndio, sempre no meio do caminho, fazendo diagnósticos sem fim, apresentando milhares de “estudos” em centenas de seminários. Nesse meio tempo, em meio a medalhas, teses de mestrado e muita mídia, continuamos assistindo, a cada ano, mais cidades sofrendo os efeitos de chuva concentrada, alagamentos, deslizamentos de terra, negócios paralisados e vidas perdidas.

O “gerundismo” e a paixão pelo diagnóstico estão apagando a vontade de fazer; com o tempo, apagarão a nossa capacidade de realizar.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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