
Ciclovia ou estacionamento?
Tragamos informações reais e deixemos a população escolher aquilo que lhe parece mais importante
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Assunto velho, assunto novo, porque assunto que parou no meio do caminho, e não foi para frente nem foi para trás. Só parou, como tantas coisas que são iniciadas e nunca terminam; o legado que fica é o pacote mais nefasto: dinheiro gasto, polêmica criada, mas infraestrutura incompleta.
Muita coisa foi dita e publicada sobre a ciclovia na Avenida Afonso Pena. Para quem é a favor, o óbvio: ciclovias são importantes, são uma espécie de marco civilizatório urbano e, mais importante, vem ao encontro de um meio de transporte real, até mesmo diante de uma topografia imprópria para as bicicletas.
No polo oposto (porque todo debate, hoje, parece uma briga de torcidas, um atlético x cruzeiro, um eterno fla-flu sem qualquer mediação possível), o meio ambiente está sendo seviciado por árvores arrancadas, e o dinheiro da saúde e da educação subtraído para assuntos desimportantes; horror dos horrores, o trânsito prejudicado (o trânsito, sempre o trânsito).
Leia Mais
Fui lá, e vi uma avenida que, embora emblemática, uma das mais bonitas e bem cuidadas da cidade, conecta pouca coisa, com baixíssima densidade tanto na própria avenida, quanto em seu destino final, bairros unifamiliares e mal aproveitados com baixa densidade.
A avenida Bandeirantes até tem algum comércio, além dos poucos prédios de pequeno porte nos quarteirões que marcam o final dos bairros Cruzeiro, Anchieta, Serra e Sion. Mas do lado oposto, o que margeia o Comiteco e o Mangabeiras, somente residências unifamiliares e muito pouca coisa, comércio e serviço local instalado em antigas residências; muito pouco, muito espalhado, muito tímido.
Considerando tudo isso, a verdade é que o trânsito não é um problema real, mas pouco mais do que um pequeno incômodo para a pequena quantidade de pessoas e carros que usam essas avenidas. De mais a mais, tanto a Avenida Bandeirantes quanto a Afonso Pena consomem uma de suas faixas com estacionamento, o que por si só já é uma contradição.
Contradição, claro, porque se o maior imperativo fosse a fluidez do trânsito, e se fossem artérias viárias realmente tão demandadas, a primeira - e mais eficiente medida - seria eliminar a faixa de estacionamento em ambas (e nas duas mãos), ampliando em, no mínimo, 35% a 50% da capacidade dessas vias. Barato, fácil de resolver, rápido, sem a necessidade de obras; aumentar em um terço ou dobrar a capacidade de forma instantânea não me parece um mau negócio, parece?
Mas não, eliminar a faixa de estacionamentos não é, aparentemente, uma opção, nem mesmo diante da oportunidade de se construir uma ciclovia (nem que tivesse vocação exclusiva para o lazer e a prática esportiva). O carro se tornou uma espécie de “vaca sagrada”, mais importante do que o pedestre e o ciclista, mais importante do que a própria cidade. O espaço dos carros continua competindo e vencendo a “batalha”, suprimindo cada vez mais as calçadas e a possibilidade de uma rede interligada de ciclovias (ciclovias de verdade, segregadas, com largura mínima).
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Se construir ciclovias é algo tão caro, que retira recursos tão importantes de outros setores mais importantes, as perguntas que eu - e a população de BH - gostaríamos de ver respondidas (até como forma do debate sair das preferências pessoais e evoluir para a esfera da administração municipal e bom emprego dos recursos públicos) são:
- Quanto custa uma vaga de estacionamento? Quanto custa a manutenção anual de uma vaga de rua (placa, pintura, recapeamento, etc)?
- Quanto “fatura” uma vaga de estacionamento (ou, mais objetivamente, em quanto tempo se paga uma vaga de rua)?
- Quantas pessoas se beneficiam de uma vaga de estacionamento (considerando que a grande maioria dos carros carrega 1 pessoa)?
- Qual é o percentual da população que se beneficia das vagas de rua?
E, para ser justo, façamos as mesmas perguntas para as ciclovias:
- Quanto custam, quantas pessoas se beneficiam?
De posse de todas essas informações, façamos um plebiscito no município e deixemos a população escolher entre reduzir a quantidade de faixas em nossas ruas e avenidas, continuando com as vagas de estacionamento, ou direcionar recursos para ciclovias, melhores passeios. Deixemos a população escolher entre o carro e os pedestres.
Nada mais justo, nada mais democrático.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.