Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

Tamanho não é documento

Se o bom da cidade está nas calçadas, por que morar nas nuvens?

Publicidade

Mais lidas

Prédios altos são, desde seu surgimento, símbolos da engenhosidade e perseverança humana. São um atestado da capacidade da engenharia, uma espécie de selo do grau de desenvolvimento daquela cidade. Afinal, apenas grandes metrópoles tem arranha-céus, e apenas “os eleitos” têm o privilégio de se distanciar da bagunça mundana, e de se refugiar perto das nuvens, com elevadores privativos, inalcançáveis, soberbos e limpinhos em seus castelos suspensos, certo?

 

Errado.

 

Errado desde que Fritz Lang imaginou Metrópolis, em 1927. Uma cidade do futuro, lecorbusiana com certeza, apinhada de arranha-céus que se amontoavam uns sobre os outros, como se amontoavam os casebres nos burgos murados de 300 anos antes. Nessa metrópole do futuro, elites e corporações vivem mais perto do céu, enquanto pessoas comuns e comércios habitam o chão, mais próximos do inferno.

 

 

Aliás, toda distopia levada à grande tela depois de Metrópolis abraçou esse arquétipo (céu/chão, opressores/oprimidos), seja aquela de Blade Runner, Minority Report, O Quinto Elemento, a série Silo, e até mesmo O Vingador do Futuro.

 

Distopias são feitas para assustar, prometendo um futuro sombrio, de exclusão, de escassez e degradação, quase sempre tendo a cidade como o fundo do poço em termos de degradação ambiental e humana. Um mundo medieval nas relações humanas ambientado numa máquina de morar opressiva e desumana.

 

 

Para a sorte de todos nós, a realidade se apresenta de forma oposta, e até mesmo as cidades que, em vez de crescer, se espalharam sem qualidade e sem infraestrutura já estão entendendo que o negócio é adensar e concentrar o máximo de pessoas na menor área possível, mas revitalizando o que existe e buscando equilibrar condições de habitabilidade, áreas verdes, respiros e áreas de transição.

 

E, nessa equação anti-distopias, o aumento da densidade em cada lote é a principal e mais importante estratégia. Mais pessoas em cada quarteirão e em cada bairro otimizam os investimentos em infraestrutura e sua manutenção, e estimulam comércio, serviços e empregos ao alcance do pedestre. A verticalização, somada à densidade, é outra importante estratégia, que funciona com um amplificador da densidade.

 

Edifícios muito altos só são ruins para a cidade quando não possuem densidade e requerem terrenos avantajados, aniquilando a possibilidade de uma boa densidade numa determinada quadra.

 

 

Perceba que, a questão da densidade não precisa ser pensada como uma obrigação de que cada prédio entregue um determinado volume, mas sim que cada quadra possa garantir uma densidade mínima, compatível com a infraestrutura urbana. Quando a legislação permite que lotes menores sejam realmente verticalizados, até mesmo uma grande variedade de tipologias (estúdios ou grandes apartamentos) e altimetrias (prédios baixos ou altíssimos) se somam para entregar densidade.

 

Se prédios menores com apartamentos pequenos entregam densidade, prédios altíssimos com apartamentos grandes também entregam. Por essa lógica, talvez uma medida de vitalidade e resiliência fosse um parâmetro de densidade mínima requerida em cada empreendimento, parâmetro alcançado por um fórmula matemática simples, conjugando 3 variáveis: (i) tamanho do lote, (ii) tamanho da unidade padrão, e (iii) quantidade de pavimentos.

 

Quer fazer apartamentos grandes? Verticalize; quer fazer unidades pequenas? Faça um prédio mais baixo, ou escolha um lote menor e verticalize bastante. Gerou uma densidade extra grande em seu empreendimento? Venda esse excedente de densidade ao seu vizinho que optou por fazer apartamentos grandes, mas não quer verticalizar tanto assim.

 

O negócio não é construir alto, ou manter baixo. O negócio é aproveitar cada lote ao máximo, sem afastamentos frontais e laterais, e garantir uma densidade minimamente condizente com a infraestrutura local.

 

Importante registrar que, quando falo em infraestrutura, jamais penso em sistema viário, exatamente porque a beleza da alta densidade é oferecer tudo o que uma pessoa precisa à distância de uma pequena caminhada, diminuindo a demanda sobre o transporte público (que ganha eficiência por estar mais concentrado).

 

E, ao contrário de Metrópolis e das outras cidades apresentadas nas distopias, o melhor lugar das cidades não fica lá em cima: fica ao nível da rua, no caminhar, no interagir com as pessoas, com a vida que existe nos passeios, nas praças e nos cafés.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

arquitetura brasil cidades

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay