Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

É o volume, estúpido!

Arquiteto que projeta sem compromisso contribui para a degradação das cidades. Já passou da hora de parar de contratar Arquitetos ruins

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Arquitetura boa é aquela que prende a atenção, que impressiona, que maravilha. A melancia no pescoço prende a atenção, mas não impressiona, e nem maravilha. Um mágico prende a atenção e impressiona, mas não maravilha (apenas diverte). Um prédio feio impressiona e prende a atenção, mas não maravilha. Um prédio bobo não prende a atenção e, além de não impressionar e não maravilhar, torna a paisagem insossa e estraga a cidade.

Mas falta aí algum componente que, para além de prender a atenção, impressionar e maravilhar, embeleze a cidade, produza uma boa sensação no espectador e permaneça interessante e atual (ou se torne um clássico com o passar dos anos).


Talvez tenha a ver com harmonia nas linhas, com a proporção do volume, ou das aberturas em relação ao volume; talvez seja uma configuração estrutural inusitada, ou os materiais de acabamento escolhidos, a paleta de cores, o paisagismo que compõem o conjunto.

Assim como alguns sons, melodias e músicas provocam alegria, geram satisfação ou trazem tranquilidade, a boa arquitetura evoca as mesmas sensações e provoca os mesmos efeitos na população.


São atributos muitas vezes insondáveis, intangíveis e impossíveis de serem programados, ou descritos de antemão num roteiro para a boa arquitetura, razão pela qual os bons Arquitetos são insubstituíveis por qualquer tecnologia ou inteligência artificial.

Mas atenção: apenas os bons Arquitetos são insubstituíveis, porque quando a boa arquitetura não tem valor, quando não é feita para prender a atenção, impressionar e maravilhar, bastam um checklist completo e as modernas ferramentas de inteligência artificial integradas aos softwares de arquitetura.

Quando vale produzir prédios feios ou inodoros, os Arquitetos deixam de ter muita importância, e são pouco mais do que meros despachantes aprovando o projeto nas prefeituras (e, cá entre nós, é um desperdício de tempo e dinheiro estudar por 5 anos para, no final dos dias, se tornar um despachante). 

E aqui vai uma dica para os Arquitetos (que não têm a intenção de limitar a sua atuação profissional a aprovar projetos nas prefeituras) e aos incorporadores que pretendem que seus prédios sejam notados e bem percebidos: invista no volume. Arquitetura é, antes da planta e do aproveitamento de cada centímetro quadrado, volumetria. O volume não precisa ser inédito, mas precisa ser uno, precisa ser percebido, lido e compreendido pelo espectador.

Se, além de um volume que faça sentido e seja legível, quando o projeto tem proporção, faz sentido ao olhar do leigo, apresenta um esquema de aberturas que agregue à composição, 70% do desafio estará superado. Para alcançar 100% e a posteridade, apenas mais 2 pontos de atenção: jamais criar um volume que tire a visibilidade do volume (a famosa - e detestada - bandeja) e, jamais, escolher materiais ordinários e descombinados, exagerados, ou descontextualizados.

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Como tudo o que importa na vida (arte, literatura, poesia, natureza, arquitetura, felicidade, amizade, o amor, a criatividade, a invenção e a coragem), é mais fácil descrever o caminho do que trilhar o caminho, do que chegar lá e realizar o intento.


Mas é assim que é, e se você pretende prender a atenção, impressionar e maravilhar, siga os passos acima; não faça um projeto na correria, sem inspiração, sem intenção; não priorize a solução de planta, não se perca arrancando mais alguns centímetros quadrados em cada apartamento. Um chef competente jamais colocará a casca do tomate no prato só porque pagou pela fruta inteira.

Arquitetura não é brincadeira, e as cidades não aguentam mais Arquitetos e incorporadores que tratam a arquitetura como se fosse.

Faça-me o favor.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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